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Quarta-feira, 29/9/2004
Digestivo nº 194

Julio Daio Borges

>>> PATUSCADA MrMason é um sujeito esquivo. Resiste o máximo que pode a um contato pessoal pois já foi alvo de processos judiciais, movidos por gente como Luciano Huck e Marcos Mion. Mas MrMason não é nenhuma celebridade ou dono de uma tribuna que vive de fofocas de artistas. MrMason é humorista e, como é quase regra em sua geração, escolheu a internet como plataforma para se lançar. Sua grande realização, já há quase 4 anos, é o “Cocadaboa”, cujo logo chegou a incomodar até a Coca-Cola (que lhe pediu gentilmente para mudar). O “Cocadaboa” também mudou para a Suécia uma época, pois era perseguido, no Brasil, por hordas de advogados. E o “Cocadaboa”, igualmente, já foi blog – mas voltou a ser site. Segue uma linha de humor, entre o negro e o difamatório, muito praticado em revista e em jornal, pelo grupo Casseta, algumas décadas atrás. Quem leu o “Planeta Diário” e a “Casseta Popular” deve lembrar. Por incrível que pareça, foi o jeito escrachado, gratuito e desrespeitoso que catapultou o grupo de Bussunda e Marcelo Madureira para a Rede Globo e para a consagração. O “Cocadaboa” segue a mesma trilha, só que pela internet. Já foi convidado pela editora Conrad para fazer humor em revista, mas não teve todas as suas exigências atendidas. Então se consagrou, na esfera virtual mesmo, principalmente pelos trotes que passa, espalhando boatos como se fossem notícia de verdade. Sua última piada atende pelo nome de “Sexkut” e foi desenvolvida em parceria entre MrMason e um colaborador de São Paulo. Aparentemente sem conexão com o “Cocadaboa”, foi divulgado como uma versão sexual do “Orkut”, o famoso site de relacionamento. A mídia inteira caiu, eletrônica e não-eletrônica: “Folha”, “Blue Bus”, “Terra”, “No mínimo”, entre outros. O “Sexkut” nunca existiu; ninguém nunca se inscreveu para participar. Era, conforme dito, uma piada. MrMason se regozija agora, no “Cocada” e no “Estadão”, enquanto o resto da mídia lamenta o “fora”. Mas não é um episódio isolado. É apenas o resultado de uma internet cada vez mais viva e ativa e de uma “grande imprensa” cada vez mais morta e sucateada.
>>> Sexkut.com
 
>>> AH! VOCÊ É DE NINGUÉM... Algumas lendas rondam “Elis&Tom” (1974, álbum histórico, relançado agora, em CD e DVD-áudio, pela Trama). Uma delas se refere à disputa entre os arranjadores, Tom Jobim e Cesar Camargo Mariano. Depois de muitas diferenças internas, ficou acertado que cada um faria metade do disco. Jobim optou por uma abordagem mais sinfônica, dos temas mais dramáticos (“Modinha”, “Por toda a minha vida” e “Retrato em branco e preto”); já Mariano imprimiu sua assinatura mais “jazzy”, sem orquestra e com enfoque no piano (“Só tinha de ser com você”, “Brigas, nunca mais” e “Fotografia”). Coube a Elis Regina fazer a amarração entre esses dois universos. Saiu uma obra-prima. Outra lenda que corre a respeito é sobre a formação da intérprete: Nelson Motta afirma que ela detestava bossa nova, fazia pouco do canto de João Gilberto e não queria nem saber de Tom Jobim quando começou. Sérgio Cabral, em sua biografia do maestro, conta que Elis&Tom tiveram uma porção de desentendimentos durante a gravação – mas ela saiu. Um clássico. É, então, no mínimo estimulante, em termos musicais, que Cesar Camargo Mariano tenha se encarregado de remasterizar “Elis&Tom” depois de 30 anos, tendo como pano de fundo todas essas tensões passadas. Aliás, como ele mesmo confessou, no programa de Arrigo Barnabé, na Cultura FM, redescobriu estupefato as matrizes originais e se viu impressionado com a qualidade, geral, e com a importância daquele momento fundamental, na História da música brasileira. Além do disco em si, que obviamente já vale a inclusão em qualquer discoteca nacional que se preze, esse relançamento traz alguns extras, como era de se esperar. O maior deles é “Bonita”, a faixa-bônus não originalmente presente no álbum. Uma bela canção de Tom que acabou pouco conhecida no Brasil, por causa de sua letra em inglês. Depois, há também uma segunda versão para “Fotografia”, mais acelerada e suingada que a primeira. Por último, Mariano inseriu pequenos trechos de estúdio, entre conversas e marcações de tempo, estendendo alguns “takes” que antes haviam sofrido “fade out”. É um pequeno banquete para os admiradores de Elis&Tom. Que, mesmo não tendo participado desse evento, teriam certamente aprovado – e se desentendido menos.
>>> Elis&Tom
 
>>> REMORSOS, DEVANEIOS, COR DO TEMPO Alguns autores, mesmo não sendo poetas, têm o talento de poetas para construir imagens. E assim é Proust. Sua “descrição” de um sentimento é tão hábil que praticamente pode ser “vista” pelo leitor. Como todo grande autor, confere sempre uma nova explicação para os mesmos fenômenos, aos quais antes nos achávamos tão acostumados... Proust redescobre o mesmo mundo que tão bem conhecemos, mas que, sob o embalo de suas palavras, nos parece outro – mais claro, mais nítido, mais verdadeiro. Desde os primeiros livros. É o que prova a coletânea “Os prazeres e os dias”, lançada pelo próprio em Paris, em 1896, e relançada este ano, aqui, pela editora Códex. E percebemos que Proust, já aos 25 anos, se consagra como um observador arguto da “mundanidade” e um estudioso dedicado do amor. Os textos ali reunidos não são obras-primas, como “Em busca do tempo perdido”, mas ensejam alguns temas e a promissora capacidade de estilo que se realizaria quase duas décadas depois. E, como não poderia deixar de ser, Proust até arrisca alguns poemas – apenas, talvez, para confirmar que o seu negócio não era mesmo ser poeta. E, sim, prosador. Outro aspecto são as citações, às quais se mostra tão apegado. Praticamente todo capítulo abre com uma delas; e quase todo subcapítulo, também. Talvez para indicar um universo respeitável de leituras, um percurso para quem quisesse entender, futuramente, de onde saiu Proust. Além das óbvias (Shakespeare, Platão,...), revela deliberadamente algumas preferências, como Emerson, e uma porção de franceses, como ele: de Victor Hugo a Anatole France (que assina o prefácio), passando por Racine e por Renan. Proust, inclusive, pega emprestados dois personagens de Flaubert e transporta-os para uma narrativa sua. O que reafirma uma verdade capital: um dos pais do modernismo na literatura arrastou consigo toda uma tradição e toda uma língua – e, sem elas, provavelmente não teria sido o que foi. Portanto, para mirar-se em Proust, é preciso, antes, passar por onde ele passou – e não ficar, simplesmente, emulando seu jeito de escrever em pleno século XXI. Talvez ele mandasse esse recado aos escrevinhadores pomposos que, por vezes, encontramos – embora fosse bastante tolerante, quase condescendente, com essa arte “menor”, a imitação...
>>> Os prazeres e os dias - Marcel Proust - 235 págs. - Codex
 
>>> O CONSELHEIRO TAMBÉM SAI NA TELEVISÃO

A convite de Claudiney Ferreira, apresentador do Jogo de Idéias, Julio Daio Borges, Editor do Digestivo Cultural, participa de uma mesa-redonda sobre Jornalismo na Internet, ao lado de Pollyana Ferrari (autora do livro Jornalismo Digital) e Pedro Doria (colunista do site no mínimo).

Data e Horário: 27/09/04 (segunda-feira) às 19h30
Gravação ao Vivo: Itaú Cultural - Av. Paulista, nº 149 - Tel.: 2168-1700


>>> ...E O DIGESTIVO TAMBÉM TOCA NO RÁDIO (DE NOVO)

Nota transmitida em 20/09/04, na seção "Clique Aqui",
do programa Radar, pela Nova Brasil FM (89,7 Mhz):


"A nossa indicação de hoje aborda um dos mais influentes sites da internet brasileira. O Clique Aqui detecta o DigestivoCultural.com. Trata-se de uma página que apresenta dados para o internauta pensar o mundo, através de um jornalismo de qualidade. São Notas, Ensaios, Colunas e Comentários dos Leitores que recheiam o conteúdo do website. Artes, Cinema, Música e Literatura possuem seus respectivos canais na página. Mas o destaque fica por conta do Fórum de discussão, que traz sempre debates interessantes. Uma boa dica é ler o 'Ensaio de interpretação do Orkut'. Anote a sugestão: DigestivoCultural.com, endereço na internet captado pelo Clique Aqui."


>>> EVENTOS QUE O DIGESTIVO RECOMENDA



>>> Cafés Filosóficos
* O legado de Einstein - George E. Matsas
(Ter., 28/9, 19h30, VL)

>>> Palestras
* Descobrindo o Universo - Sueli M. M. Viegas e Fabíola de Oliveira (Orgs.) (Qua., 29/9, 19hrs., VL)

>>> Noites de Autógrafos
* Cassino Hotel - André Takeda
(Seg., 27/9, 18hrs., CN)
* Gêneros e formatos na televisão brasileira - José Carlos Aronchi de Souza (Ter., 28/9, 18h30, CN)
* As Bienais de São Paulo - Francisco Alambert e Polyana Canhête
(Ter, 28/9, 18h30, CN)
* Negociação para compradores - e vendedores também - Antonio de Jesus Limão Ervilha (Qui., 30/9, 18h30, CN)

>>> Shows
* Musica das Nações - Horácio Gouveia (piano)
(Seg., 27/9, 20hrs., VL)
* Hollywood: Jazz no Cinema - Traditional Jazz Band
(Sex., 1º/10, 20hrs., VL)
* Espaço Aberto - Luísa Maita e a Urbanda
(Dom., 3/10, 18hrs., VL)

* Livraria Cultura Shopping Villa-Lobos (VL): Av. Nações Unidas, nº 4777
** Livraria Cultura Conjunto Nacional (CN): Av. Paulista, nº 2073
*** a Livraria Cultura é parceira do Digestivo Cultural
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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