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Terça-feira, 22/8/2006
Blog
Redação
 
Livros e e-books

Muito se fala sobre a possibilidade de, algum dia, os livros no formato tradicional de papel serem substituídos por equivalentes eletrônicos, numa mudança semelhante a que vem ocorrendo com a música a qual, num espaço de tempo de vinte e cinco anos, deu um salto formidável das antigas bolachas de vinil para a caprichosa tecnologia do iPod. Tenho minhas dúvidas. Para início de conversa, o livro é um suporte muito mais antigo do que qualquer dos armazenadores de música com os quais convivemos ao longo do século XX (LPs, CDs, K7s, etc.). Ainda pretendo me aprofundar mais neste tema, que não cabe num post de blog, mas penso que, mesmo que o e-book venha a vingar algum dia, o livro de papel não desaparecerá. A tecnologia, afinal, não irá substituir tudo, para desapontamento dos fanáticos pelo "cyber world".

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Postado por Luis Eduardo Matta
22/8/2006 às 13h18

 
Quem disse que a Raiz acabou?

Caro Julio,

No artigo sobre a Revista Piaui da edição 292 do Digestivo, você se refere a revista RAIZ como "parece que já acabou".

Assim como a matriz de seu projeto editorial, que é a cultura popular, a RAIZ está fincada no solo para crescer, seu tronco, seus galhos e seus frutos. Estamos lançando o número 6 nas bancas em setembro, trazendo a discussão sobre as fronteiras da arte popular versus erudita.

Com entrevistas com Lisette Lagnado, curadora da Bienal Internacional de Artes de SP, e Roberto Minczuk; uma viagem de RAIZ para Belém do Ver-o-Peso, do Tucunaré, do açaí; discussão sobre as mudanças na Lei Rouanet que vai reger a entrega dos projetos em 2007; o Franco Terranova, descobridor do Mestre Vitalino e das Carrancas; Patativa do Assaré, índios Tikuna e muito mais.

Na sequência realizaremos dois debates sobre a discussão fronteiriça levantada pela RAIZ na Casa das Rosas em SP e na Fundição Progresso no RJ. Fora o Portal RAIZ, que tem sua audiência duplicada mensalmente e inaugura, também em setembro, novos Blogs (Coquetel Molotov, do Recife, por exemplo) e novos serviços, abrindo novas possibilidades de interação e participação do público.

Agradeceria imensamente que o Digestivo Cultural, de muita importância para nossa cultura, engrossasse as fileiras para fortalecimento da discussão de nossa identidade ao esclarecer seu público que nossa RAIZ, bem alimentada, muitos frutos dará.

Agradeço antecipadamente.

Abs., Edgar Steffen
Publisher [por e-mail]

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Postado por Julio Daio Borges
22/8/2006 às 12h12

 
The Personal MBA

The Personal MBA (PMBA) is an experiment in educational entrepreneurism. This manifesto will show you how to substantially increase your knowledge of business on your own time and with little cost, all without setting foot inside a classroom.

The PMBA is more flexible than a traditional MBA program, doesn't involve going into massive debt, and won't interrupt your income stream for two years. Just set aside some dedicated reading time, pick up a good book, learn as much as you can, and go out and make great things happen.

Josh Kaufman em Inside My Bald Head (via Edu Carvalho)

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Postado por Julio Daio Borges
22/8/2006 à 00h41

 
A geração iPod

Estava conversando esses dias com um amigo sobre a geração iPod. Nós, eu e ele (talvez você, também), somos fãs convictos de vinis. Compramos sempre e não planejamos parar de comprar.

Assim sendo, ficamos questionando essa geração iPod. Essa rapidez do Mp3 e dezenas de bandas surgindo toda semana. O mundo musical virou não só uma grande rede de fast-food musical, como milhares de pequenas lojas de diferentes fast-foods. Essas redes poderiam ser as gravadoras ou até mesmo as bandas. É um boom inicial, a novidade correndo pelas veias do fã de música mais exigente, flashs, poses, batuques, diferenciais, mastiga, mastiga, mastiga, doeu os dentes. Cárie. Chega! Próximo, por favor!

Questionamos, também, o fato da música cada vez mais ficar mais desritualizada. Não existe mais tempo para sentar e ouvir música. Muitas lojas de vinis estão fechando e fãs dos mesmos desiludindo e trocando a vitrola por um iPod. Sou super a favor da música ser ouvida, curtida e explorada, mas entendo que, hoje, são poucos os fãs de música que têm o privilégio de sentar numa cadeira, colocar o vinil e passar a tarde consumindo a música. É uma pena, pois assim como cada vez mais bandas ruins aparecem, bandas boas incrivelmente também surgem. Algumas MUITO boas. E aí?

Da Cris, que continua a discussão no seu novo blog.

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Postado por Julio Daio Borges
21/8/2006 à 00h29

 
Fernanda Montenegro in Concert

O 3º CARE in Concert, evento beneficente de música clássica promovido pela CARE Brasil, será realizado no dia 22 de agosto, às 21 horas, no Theatro Municipal de São Paulo.

Este ano, a apresentação contará com um espetáculo raro e emocionante: Fernanda Montenegro recita o poema Enoch Arden, escrito por Lord Tennyson, em 1864, transformado numa belíssima obra dramática por Richard Strauss. Ao piano, Jean Louis Steuerman.

Com preços que variam de R$ 60 a R$ 100, os espectadores, além de ouvirem a uma excelente apresentação e participarem de um especial de confraternização, contribuem diretamente para as ações de combate à pobreza da CARE Brasil.

Uma indicação de um Amigo, que eu reproduzo, caridosamente, aqui.

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Postado por Julio Daio Borges
18/8/2006 às 09h13

 
40 anos do Revolver

I wrote this for fun. I'm not a music journalist, or a professional writer. The idea emerged from a few nagging questions I had about Revolver, which the band and their biographers seemed rather too happy to gloss over. Where did Paul McCartney really get the idea for "Eleanor Rigby"? Who taught George Harrison to play the sitar? And who did give John Lennon LSD for the first time?

Almost every morning for two years, I sat on the tube ploughing through one interminable Beatles memoir or another with highlighter and notebook in hand; I spent my lunch-breaks visiting libraries to read books on Hinduism; I spent weekends hammering away at a keyboard, trying to make all the new information make sense; I lay awake at night worrying about rumours of a Sunday Times journalist interviewing all of the same people as I was trying to get hold of.

And it has been fun. If no-one ever reads this, at least I know I'll never lose another pub argument about the Beatles. Or, for that matter, have to listen to Revolver ever again.

Ray Newman, na introdução de seu Abracadabra, um livro inteiro sobre aquele disco dos Bealtes lançado em agosto de 1966 (via Aluado).

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Postado por Julio Daio Borges
18/8/2006 à 00h58

 
Sejam Bem-Vindos

Olá. Puxe uma cadeira. Fique à vontade. Aproveite para ler algumas reflexões.

Hoje acabei o template deste meu novo blog. Na verdade de novo só tem o domínio do blogger, pois o weblogger está cheio de frescuras. Mudei algumas coisas no template também. Pareceu-me mais sóbrio e claro que o antigo. Opiniões serão bem-vindas.

Minha intenção é repostar alguns textos do blog anterior e continuar a saga das letras aqui.

A propósito, espero terminar amanhã meu texto sobre o primeiro debate dos candidatos à Presidência que ocorreu ontem na Band, muito bem apresentado por Ricardo Boechat. É uma pena que nosso ilustre presidente Lula não pôde comparecer. Ao que parece, todos esperam [ou esperavam] uma explicação para a ausência (inclusive eu).

Da Lexotânica, que acabou de inaugurar seu blog, mas que já linca pra nós.

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Postado por Julio Daio Borges
17/8/2006 às 08h55

 
Mozarteum 2006 para iniciantes

Os números da tradicional associação cultural brasileira são impressionantes. Em seu 25º ano, a associação Mozarteum, que já trouxe para o país a Filarmônica de Viena, Munique e Nova York, além da inglesa Royal Philharmonic, já realizou 894 espetáculos, 539 com artistas internacionais e 355 com nacionais, para um público que já soma quase dois milhões de pessoas. Sua temporada de 2006, que começou em maio e irá se estender até outubro, já teve 16 apresentações nas principais capitais do país.

Entidade sem fins lucrativos, apoiada por leis de incentivo a cultura e empresas privadas, visa contribuir para a difusão da música clássica em um país carente dela. Seus concertos são, por vezes, apresentados ao ar livre, o que amplia o seu acesso. Além disso, há matinês de ballet para crianças e jovens e os Concertos do Meio-Dia, realizados no MASP, ambos com entrada franca. O festival comumente também doa bolsas de estudos de cursos internacionais de verão para jovens músicos, dá cursos de história e interpretação e promove um intercâmbio entre músicos nacionais e internacionais através das master classes, onde músicos de grandes orquestras dão aulas a estudantes de música brasileiros.

A programação, mesmo focada na música clássica, é diversificada: são orquestras, solistas, grupos de música de câmara, óperas e companhias de dança. Após as alemãs Orquestra Sinfônica WDR de Colônia e Orquestra Filarmônica de Câmara de Freiburgo, esta composta por estudantes e cujo coro tocou em parceria com o Coro Barroco da Bahia; além dos grupo norueguês Solistas de Trondheim, também composto majoritariamente por jovens músicos, foi a vez do Quarteto Mitchell-Tomter-Poltéra-Leschenko se apresentar no Theatro Municipal de São Paulo nos dias 31 de julho e 1º de agosto.

O quarteto apresentou músicas de câmara, consideradas as de mais difícil deglutição por ouvidos virgens à música clássica. Ao invés de uma grande orquestra, com muitos ápices musicais que levantam e impressionam qualquer platéia, há, basicamente, o som do violino, violoncelo, viola e piano. Ficou difícil? Quem é leigo no universo regido por gênios como Mozart, Bach & Cia., mas adora este som transcendental não apenas no bip do celular, pode relaxar. O Mozarteum tem, desde 2001, o Clube do Ouvinte, uma série de palestras educativas gratuitas que são ministradas antes dos concertos da Temporada Internacional, destinadas à platéia de cada apresentação.

O maestro, compositor e pianista Sérgio Igor Chnee já logo nos situa, nos introduzindo à composição da música de câmara. Ela é, no máximo, executada por cinco músicos, todos com a mesma importância musical, ao contrário de uma grande orquestra sinfônica, onde cada um é reforçado por um conjunto musical. Esta equidade reflete até mesmo no nome do grupo. Composto por jovens músicos, a voz de sua experiência reside no violista norueguês Lars Anders Tomter, considerado um dos maiores violistas atuais. O Gigante da Viola Nórdica já se apresentou nas maiores orquestras sinfônicas mundiais e em famosos festivais. Mas, ao lado de Priya Mitchell, uma jovem violinista que toca um Balestieri de 1760, há o contraste que cria a sintonia, complementado pelo diligente violoncelo de Christian Poltera e o ágil dedilhado do piano de Polina Leschenko.

Depois de terem executado obras de Mahler, Mozart e Dvorák, em sua 2º apresentação o quarteto tocou três compositores muito diferentes entre si. O austríaco Franz Joseph Haydn é o pai do classicismo e seus trios são considerados a 2º parte mais importante de sua obra, caracterizada por contrastes sonoros. Já o alemão Johannes Brahms fazia parte do romantismo e está mais próximo de fontes clássicas como Bethoveen. Por fim, Gabriel Fauré, compositor francês, encontrou abertura para o experimentalismo, o que faz com que suas obras sejam entrecortadas de vazios sonoros propositais. Fica fácil perceber as características do minueto do quarteto ao ouvirmos CD guiados por Chnee. Ele é composto por um movimento rápido, um lento, uma dança e um segundo rápido, o gran finale.

Após a palestra, eis o concerto em si. Haydn nos é apresentado através de seu Trio nº 39 para piano, violino e violoncelo, em sol maior. Com seu violino em embate com o violoncelo e tendo o piano como fio condutor, encontramos em um mesmo movimento humor e agressividade. Já Brahms é dramático no primeiro movimento de seu Trio para piano, viola (clarinete) e violoncelo, op.114, em la menor. Há contrastes, uma conversa entre violoncelo e viola para depois se fazer presente a leveza, seguida por uma dança com muitos ápices e um final raivoso expresso pelo piano. Por fim, há o virtuosismo e melodia do Quarteto com Piano nº1, op.15, em dó menor de Fauré. Nele, o piano é o ator principal e o que vemos são fragmentos difusos, que sobem e descem para acabarem em uma fúria sóbria. E esta sobriedade se perpetua em nossos sentidos após este gran finale do quarteto.

A partir do dia 17 de setembro, a temporada que celebra os 25 anos do Mozarteum continua. Desta vez, o Parque do Ibirapuera, a Sala São Paulo, Blumenau e Rio de Janeiro receberão o violinista com trinta anos de carreira e reputação mundial Gidon Kremer. Em outubro, Rudolf Buchbinder terá apresentação única na Sala São Paulo, onde mostrará um pouco de sua extensa obra de cerca de cem discos e, por fim, a soprano inglesa Dame Felicity Lott, que já trabalhou com quase todas as maiores orquestras e festivais mundiais, se apresentará em dois dias, também na Sala São Paulo*.

*programação sujeita a alterações

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Postado por Marília Almeida
16/8/2006 às 23h17

 
Molloy, de Beckett

Pensemos em espaços parcamente falados, nas companhias teatrais parcamente criticadas ou espetáculos pouco valorizados no concorrido circuito teatral de São Paulo. A Cia ânima Dois, o Viga Espaço Cênico e o espetáculo Molloy são apenas um deles.

Em uma apresentação no injusto horário de domingo à noite para uma peça outsider, o denso monólogo é baseado no romance de mesmo nome do aclamado escritor e dramaturgo irlandês Samuel Beckett, cujo centenário foi comemorado mundialmente este ano. Ele faz parte de uma trilogia escrita no período pós-guerra, o que talvez explique seu extremo niilismo.

O espetáculo surpreende ao se revelar uma pantomima, onde os gestos corporais e sons guturais tomam o lugar da voz do ator. "O fim está no começo e, no entanto, continua-se" é o mote de Molloy, que busca um diálogo inovador para um texto não teatral ao utilizar recursos como bonecos, animação de objetos e máscaras. Estes recursos, além da boa atuação do protagonista, conseguem tencionar indefinidamente, sem entediar, uma narrativa pesada e repetitiva.

Seu cenário consiste apenas em uma cadeira de onde brota uma pequena árvore, além de bagagens de onde Molloy retira suas lembranças infantis e objetos toscos que ganham status de idolatria. E quem é este protagonista? Um velho louco? Ou apenas um saudosista que foi engolido pela triste realidade mundana? Nada pode ser afirmado com certeza no teatro do absurdo beckettiano.

O ator Alexandre D'Angeli é responsável por, nada mais, nada menos, que o roteiro, direção, confecção do boneco, máscara, manipulação, iluminação e interpretação solo. Destaque para sua preparação corporal, feita por Carlos Gomiero, além da sonoplastia, essencial ao espetáculo e feita pelo próprio Alexandre em parceria com Andréa Amparo. Uma mistura de sons eletrônicos modernos com músicas clássicas teatrais que muda constantemente, de acordo com o humor inconstante de Molloy.

A montagem estreou em outubro de 2003 e já fez três temporadas em São Paulo, participou de vários projetos que investigam experimentos e o desenvolvimento de novas linguagens nas artes cênicas. Além disso, recebeu três prêmios no IX Festival de Monólogos da Bahia e recentemente esteve na VII Mostra Cariri das Artes. Em abril, participou de Samuel Beckett - 100 Anos, no Sesc Santana.

Inaugurado em novembro de 2003, o Viga Espaço Cênico apresenta propostas diferenciadas de teatro, dança, música e artes plásticas. Situado em um antigo galpão do bairro de Pinheiros, tem como objetivo receber idéias instigantes e atuais. Ele é atingido com a apresentação de Molloy. Sua Sala Porão, destinada a espetáculos intimistas, com lotação máxima de 20 pessoas, contribui muito para a eficácia do espetáculo.

Para ir além

De 04 a 27 de agosto
Sextas e sábados às 21hs (domingos às 19hs)
Preço: R$ 20,00 (meia: estudantes, idosos e classe teatral)
VIGA Espaço Cênico
Rua Capote Valente, nº 1323 (próximo ao metrô Sumaré)
Telefone: (11) 3801-1843

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Postado por Marília Almeida
15/8/2006 à 01h06

 
Uma história de amor

Histórias de amor não saem de moda, não têm fronteiras, não se esgotam. Histórias de amor não são privilégio do romantismo, da burguesia, do regionalismo. Autênticas histórias de amor, como diria Pessoa das cartas de amor, são ridículas, têm de ser ridículas, mas ainda mais ridículo é quem nunca leu - ou escreveu - uma história de amor.

A história de amor de Fernando e Isaura (José Olympio, 2006, 176 págs.), é o que se pode chamar de uma história de amor autêntica. Escrita por Ariano Suassuna em 1956 como laboratório para seu Romance d'A Pedra do Reino, permaneceu inédita até 1994, quando foi publicada no Recife, e só neste ano ganha uma edição nacional.

A história é uma versão nordestina do mito de Tristão e Isolda, lenda de origem celta imortalizada por Joseph Bédier e com versão cinematográfica bem recente. Suassuna, ao invés de fazer pastiche ou paródia, consegue de forma belíssima "traduzir" a história celta para o nordeste da primeira metade do século XX, transformando o rei num rico proprietário de terras, os navios em barcos de cabotagem, os mares europeus em rios, a poção mágica em desejo carnal. Numa linguagem simples e lançando mão de recursos originários do cordel, a obra funciona dentro de seu universo particular mas não ousa ir além do que uma autêntica história de amor iria: se Isaura trai, arrebatada pela paixão, o narrador ocupa-se em dois ou três parágrafos para desculpar essa falha de caráter; se Fernando hesita em seu amor, o narrador logo joga-o nos braços de sua amada e eles se amam loucamente sob o pé de um cajueiro. Assim deve ser: apenas o amor move os homens, um amor inabalável, romântico, lendário, trágico.

Sim, bem como a lenda, a história de Suassuna também termina em tragédia, tragédia que não queremos antecipar, mas lembra a mais célebre obra shakespeariana (talvez a mais autêntica das histórias de amor).

Se o leitor estiver apaixonado, é possível que suspire em diversos momentos do texto. Não o estando, é possível que ache graça. Nessas passagens de certo se lembrará do Alencar dos amores impossíveis e inevitáveis, do Goethe do suicida apaixonado Werther, talvez dos franceses até a vida tumultuada de Julien Sorel. E Ariano Suassuna não apenas sabia disso como temia que sua história não fosse compreendida num tempo em que as relações perderam a solidez, numa geração em que, segundo palavras do próprio Suassuna, "os educadores procuram fechar os olhos até para a realidade monstruosa do crime, contanto que não sejam forçados a admitir a verdade de qualquer norma moral".

Esta preocupação levou o autor a começar a história com uma advertência, isso mesmo, um capítulo titulado "Advertência". Nele o autor quase que se desculpa por fazer uma autêntica história de amor, e mais do que isso sente a necessidade de relembrar, mais uma vez - pois os editores já o fizeram na contracapa e na orelha - que se trata de um romance de estréia e escrito em 1956:

"Lembro, então, aos eventuais leitores desta história que, narrada em 1956, sua ação decorre em ano ainda mais recuado. Por isso, encarem com indulgência os arcaicos escrúpulos de seus personagens, perdoando remorsos e hesitações que, menos do que a eles, pertencem ao co-autor contemporâneo desta história tão antiga."

Não fosse em 1956 que Guimarães Rosa tivesse lançado Grande Sertão: Veredas e apenas dois anos mais tarde Carlos Heitor Cony estreasse com O Ventre, até acreditaríamos que as personagens agissem movidas por valores da época do texto, não se caracterizando numa opção do narrador. Mas não. Riobaldo, no momento da luta, age muito mais com razão e fúria do que amor e sensibilidade, arrependendo-se apenas ao ver sua Diadorim morta. Também o protagonista sem nome de O Ventre reprime qualquer relação com sua amada, Helena, ainda que isso cause sua perdição psíquica e social.

Sendo assim, Fernando e Isaura agem nesta história de amor movidas pelo amor das lendas celtas, das tragédias gregas, das autênticas histórias de amor shakespearianas. E não há problema algum nisso. Problema há, talvez, em acusar toda uma sociedade para defender um texto que não precisa de defesa: se às vezes parece ridículo, o é como as cartas de amor.

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Postado por Marcelo Spalding
14/8/2006 às 08h02

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