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Sexta-feira, 28/5/2010
O cristianismo para Nietzsche
Julio Daio Borges

Com isso chego ao final e pronuncio minha sentença. Eu condeno o cristianismo, faço à Igreja cristã a mais terrível das acusações que um promotor já teve nos lábios. Ela é, para mim, a maior das corrupções imagináveis, ela teve a vontade para a derradeira corrupção possível. A Igreja cristã nada deixou intacto com seu corrompimento, ela fez de todo valor um desvalor, de toda verdade uma mentira, de toda retidão uma baixeza de alma. Que ninguém ouse me falar de suas bênçãos "humanitárias"! Suprimir alguma aflição ia de encontro a seu interesse mais profundo — ela vivia de aflições, ela criava aflições, a fim de eternizar-se... O verme do pecado, por exemplo: foi a Igreja que enriqueceu a humanidade com essa aflição — A "igualdade das almas perante Deus", essa falsidade, esse pretexto para as rancunes [os rancores] de todos os espíritos baixos, esse explosivo conceito que afinal se tornou revolução, idéia moderna e princípio declinante de toda a organização social — é dinamite cristã... Bênçãos "humanitárias" do cristianismo! Cultivar na humanitas uma contradição, uma arte da autoviolação, uma vontade de mentira a todo custo, uma aversão, um desprezo de todos os instintos bons e honestos! — Eis as bênçãos do cristianismo! — O parasitismo como única prática da Igreja; tirando todo sangue, todo amor, toda esperança de vida com seu ideal de anemia, seu ideal de "santidade"; o além como vontade de negação de toda realidade; a cruz como distintivo da mais subterrânea conspiração que já houve — contra saúde, beleza, boa constituição, bravura, espírito, bondade de alma, contra a vida mesma...

Quero inscrever essa perene acusação ao cristianismo em todos os muros, onde quer que existam muros — eu tenho letras que até os cegos enxergarão... Eu declaro o cristianismo a grande maldição, o grande corrompimento interior, o grande instinto de vingança, para o qual meio nenhum é suficientemente venenoso, furtivo, subterrâneo, pequeno — eu o declaro a perene mácula da humanidade...

E o tempo é contado pelo dies nefastus [dia nefasto] com que teve início essa fatalidade — pelo primeiro dia do cristianismo! — Por que não pelo último? A partir de hoje? — Tresvaloração de todos os valores!...

Nietzsche, em tradução de Paulo César de Souza, naquele livro poderoso.

Julio Daio Borges
28/5/2010 à 00h52

 

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