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Quinta-feira, 4/12/2014
Este Congresso nos representa?
Julio Daio Borges

(Este Congresso não nos representa. Ou representa?)

Para quem nunca tinha assistido a uma sessão de votação do Congresso Nacional foi um trauma. Comecei a ouvir a transmissão pela manhã - depois de saber da confusão do dia anterior -, passei o dia trabalhando, com esse "som de fundo", e abandonei a programação da TV Câmara às duas horas da manhã (do dia seguinte), porque não aguentava mais. Consta que nossos congressistas ficaram 18 horas nessa votação. Ou seja: terminou às quatro horas da manhã.

Para mim - e acho que para, pelo menos, 51 milhões de brasileiros que não votaram neste governo -, foi deprimente, porque acordei e descobri que a oposição "perdeu". Depois de toda essa maratona...

Mas, passado algum tempo, eu percebi que não. Quer dizer, a ameaça de "rasgarem" a Lei de Responsabilidade Fiscal é cada vez mais concreta. Mas, mesmo depois de 18 horas, não conseguiram toda a aprovação de que precisavam. Digo, o governo e sua "base aliada".

A votação no Congresso, não sei se você já viu, parece uma feira livre. Quer dizer, a comparação com uma "feira livre" talvez seja injusta, porque acho que as feiras livres são mais organizadas...

Pelo que eu entendi, o presidente da sessão - que às vezes se confunde com o presidente do Congresso - passa a maior parte do tempo discutindo o "regimento interno".

Lógico: eu descobri que o objetivo da oposição era esse mesmo. Como é minoritária, se o Congresso passasse para a votação diretamente, a oposição iria perder em dois tempos. Logo, a única chance era "obstruir a matéria", como eles dizem.

A gente, que não acompanha muito, fica pensando que "a oposição" é o Aécio Neves. Mas acabamos descobrindo outros nomes no processo. O senador Aloysio Nunes, vice na chapa de Aécio, tem sido bastante atuante também. Mas quem tem se revelando um gigante, a meu ver, é o Ronaldo Caiado.

Lembro do Caiado na eleição para presidente de 1989. Eram tantos candidatos que eu não conseguia prestar muita atenção nele. Meu candidato era o Afif Domingos. Mas, na minha família em Minas, lembro que tinha gente que ia "caiar" (votar no Caiado). Ronaldo Caiado tinha boa fama no seu estado e nos vizinhos, também.

Hoje, acho que ele está fazendo oposição sem apelar (para extremismos de direita) mas, ao mesmo tempo, sem medo de falar tudo com todas as letras. Denunciou ligações do MST com a Venezuela, sob os auspícios do governo. Usa a palavra "bolivarianismo" no sentido correto do termo. E, nessa última maratona no Congresso, disse literalmente: "O PT assaltou as urnas e fraudou as eleições". Corajoso.

Perdi a conta de quantas vezes Caiado subiu na tribuna do Senado, para discursar. Umas três, pelo menos. E suas intervenções no microfone da Câmara devem ter sido, pelo menos, umas trinta.

Claro que, para cada Caiado, existem quatro "governistas" que votam "a favor" da Dilma e do PT...

Mas não podemos desistir. Me surpreendi, por exemplo, com os parlamentares do DEM, que eu mal conhecia. O Mendonça Filho, por exemplo, "estava com bateria Duracell", como disseram no Twitter. Incansável. Além do Caiado, claro. Do Onyx Lorenzoni, que me pareceu bom. E do Rodrigo Maia, que fala bem.

Óbvio que o grosso da oposição está no PSDB. O Antonio Imbassahy já conhecia de acompanhar sua página no Facebook. O Domingos Sávio, assim como o Mendonça Filho, lutou até o final...

Evidente que, para cada PSDB, DEM e até PSB, existem - além do PT - PMDB ("base alugada"), PCdoB, PSOL, PDT - que foram quase todos unânimes no apoio a essa votação bárbara. Fora PP (meio dividido), PTB (com duas exceções), PV (meio a meio), PROS (com uma única exceção). Fora outros que, francamente, eu nem sei quem são direito: PR, PRB, PSC, PSD, PTdoB e Solidariedade (desculpa, mas isso é partido?).

Queria ter sido poupado das "performances" de Lindberg Farias (felizmente massacrado por Aécio); Jandira Feghali (que, além das ideias erradas, não é nada bonita); Silvio Costa (repugnante em tudo); e Vicentinho (que, depois de velho, virou uma mistura de Clodovil com Lula). Fora todos os do PSOL (nenhum se salva). E fora outros de quem eu já me esqueci (para a minha sorte)... (Ah, tem o Henrique Fontana, que é um dos maiores caras de pau que eu já vi...)

Olhando assim, não sobra muita coisa. E não sobra mesmo. Nessa votação, apenas 20% "resistiu" ao governo. 80% votou "a favor".

Mas, apesar dos pesares, gostei de conhecer um pouco da oposição. E 2015, com a nova legislatura, haverá "mais" oposição.

Assim como não podemos desistir do Brasil, não podemos desistir do Congresso, também. Porque, se alguém acredita em "crime de responsabilidade", e em impeachment, é lá no Parlamento que as coisas vão ter de acontecer...

Desanima, eu sei. Mas heróis ainda existem. Creiam. Pouco a pouco, vão se revelando...

Julio Daio Borges
4/12/2014 às 16h46

 

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