Vontade de abraçar o mundo | Eduardo Carvalho | Digestivo Cultural

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Sexta-feira, 10/10/2003
Vontade de abraçar o mundo
Eduardo Carvalho
+ de 5400 Acessos

Não é coincidência apenas que reuniu, numa única instituição, nomes tão distantes e tão ilustres, de Roberto Campos a Antônio Houaiss, passando por João Cabral de Mello Neto e Álvaro Lins - para, por ora, não nos alongarmos em citações. Há, entre eles, e entre os grandes nomes que passaram pelo Itamaraty, uma característica comum, que aproxima temperamentos diversos e opiniões opostas: a abertura internacional, estimulada por uma saudável curiosidade cultural e geográfica. É provavelmente este o impulso que direciona o espírito jovem à carreira diplomática: a vontade de, entre leituras e viagens, conhecer e abraçar o mundo.

Há, hoje em dia, diversas opções profissionais que satisfazem essa vontade - tanto em grandes empresas como em organizações multilaterais, passando por iniciativas independentes e diferentes -, mas, há poucas décadas, as alternativas eram poucas. Viagens eram, do Brasil, raras e caras, restritas a ricos e a representantes oficias - que coincidia-se, muitas vezes, aliás, de ser a mesma pessoa. Que, falando de política, cuidava também dos negócios particulares. Quem não era, entretanto, absurdamente endinheirado ou politicamente relacionado tinha uma distante alternativa, caso estivesse disposto a estudar - servindo ao Ministério das Relações Exteriores, através do concurso de ingresso ao Itamaraty.

São desde provincianos eruditos a poetas urbanos, de músicos elegantes a pesquisadores dedicados, que passaram pelo Itamaraty, por sua burocracia empoeirada e suas finas recepções - do Brasil, do Rio a Brasília, ao resto do mundo, de Londres a Quito. Muito gente foi, nessa jornada, desperdiçada, desligando-se de sua vocação artística para se dedicar a uma pesada rotina, como Aluízio Azevedo. Mas também foi o Itamaraty que revelou figuras marcantes no cenário político-econômico brasileiro, como José Guilherme Merquior. É que a imagem comum da carreira diplomática é, e sempre foi, relacionada à confortável morosidade do emprego público, sedutor e, ao mesmo tempo, traidor. Por um lado, a projeção social e a renda garantida prometem um futuro tranqüilo e encantador - e uma atmosfera ideal para se aprimorar um talento latente. Por outro, porém, as indispensáveis tarefas repetidas, que alguém, no Brasil e no exterior, precisa executar - relatórios comerciais, emissão de vistos, atendimento a estrangeiros e brasileiros, etc. -, pode desgastar esse mesmo talento, até acabar com ele.

E não é fácil encontrar o equilíbrio entre profissão e vocação, nem mesmo numa instituição que, mais do que todas, deve estar aberta às manifestações culturais e artísticas brasileiras. Essa combinação entre a carreira burocrática e a inspiração artística resultou, no Itamaraty, em casos positivos e negativos, mas, no geral, sendo por esforço pessoal ou por estímulo do ambiente, podemos concluir: personalidades fundamentais à formação da cultura brasileira passaram por lá. E os nomes formam uma lista interminável - Varnhagen, Joaquim Nabuco, Domício da Gama, Gilberto Amado, Vinícius de Moraes, todos esses, e outros mais, incluídos no livro O Itamaraty na Cultura Brasileira, organizado pelo também diplomata Alberto da Costa e Silva e lançado pela editora Francisco Alves.

Com prefácio de Celso Lafer e contracapa assinada por Fernando Henrique Cardoso, o volume - apesar da capa bonita e alegre - carrega um tom oficialesco, como se não permitisse um julgamento mais duro de quem merecesse. Pois não é bem assim: a polidez diplomática persiste, mas, na maioria dos casos, a severidade crítica também. Delicadezas protocolares não podem superar o respeito à inteligência - nem do leitor nem do próprio, digamos assim, assunto. Ainda assim, nem todos os ensaístas são equilibrados. E até, na verdade, mesmo o próprio volume tem um conteúdo ligeiramente confuso, incluindo artigos em formatos diferentes, sem uma unidade no estilo ou na forma. Nada que comprometa, porém, o resultado final. Ao contrário: sabendo o leitor calibrar a leitura, mesmo essa desarticulação acaba aceitável e, de certa forma, agradável.

Evaldo Cabral de Mello - ele inclusive, vale lembrar, diplomata de carreira - escreve sobre Joaquim Nabuco, desdobrando o político e o escritor, e colocando este segundo ofício onde se deve: como mais importante, para o próprio Nabuco, do que o primeiro. Mesmo o autor de Minha Formação reconhece, em sua autobiografia, que é, antes de tudo, um artista, um escritor. Um observador do mundo, antes de participar dele. Se, porém, a análise de Evaldo Cabral de Mello é limpa e precisa, outras - como a de Antônio Houaiss por Leodegário de Azevedo Filho - caem num misto de depoimento íntimo e homenagem açucarada. Leodegário, amigo de Houaiss, insiste em relembrar seus laços afetivos com o dicionarista, e afasta-se quando deveria, por exemplo, comentar a polêmica iniciativa de Houaiss em querer padronizar a língua portuguesa ao redor do mundo.

O que aparece escondido, em outros ensaios, são comentários preciosos, tanto dos articulistas quanto citações dos diplomatas, ou pescadas por eles. Como esta, de Gilberto Amado, um craque em aforismos, pinçada por André Serffrin: "Um povo é tanto mais elevado quanto mais se interessa pelas coisas inúteis - a filosofia e a arte". Ou esta, de Alexei Bruno, quando escreve sobre Ronald de Carvalho e, de passagem, comenta Canaã, de Graça Aranha, com uma verve de arrepiar professores de cursinho: "possivelmente um dos mais mal estruturados e o mais superestimado dos romances da literatura brasileira." Sérgio Martagão Gesteira, por sua vez, quando escreve sobre Luiz Guimarães cita Wilson Martins, que concorda que A Família Agulha "é um dos livros mais injustamente esquecidos, e tanto mais injustamente quanto lhe caberiam com melhor propriedade muito dos louvores que a crítica costuma reservar às Memórias de um Sargento de Milícias". E quem leu - ou já ouviu falar de - A Família Agulha?

E alguém, por acaso, ainda ouve falar, digamos, de Oliveira Lima, o diplomata de hábitos pouco diplomáticos, adversário do Barão de Rio Branco, devoto à Igreja Católica, defensor da idéia de união entre os países sul-americanos e autor de pelo menos uma obra-prima, Formação Histórica da Nacionalidade Brasileira? Dificilmente. E, em O Itamaraty na Cultura Brasileira, Carlos Guilherme Mota dedica a Oliveira Lima, um dos melhores amigos de Gilberto Freyre, uma elegante introdução ao seu pensamento. Oliveira Lima é, aliás, dos que merecem ser citados sempre, porque o ritmo do seu estilo é exemplar, somando o raciocínio claro à prosa solta, quase - se não for mesmo - improvisada. Evidente, por exemplo, nesta seqüência de frases, as duas últimas - a pedidos do autor - deste parágrafo dedicado a ele: "Determino que meu corpo descanse onde ocorrer meu falecimento, sepultado ou cremado de preferência, se minha religião não o vedar (...). Também quero que nenhuma honra póstuma me seja atribuída no meu país o fora dele".

Mesmo que uma antologia deva ser avaliada pelo que inclui, e não pelo que exclui, uma pequena falha precisa ser notada: porque, ao selecionar dois ensaios sobre Vinícius de Moraes - um de Miguel Sanches Neto e outro de Ricardo Cravo Albin -, O Itamaraty na Cultura Brasileira não poderia deixar outros nomes escaparem. Érico Veríssimo e Ruy Barbosa, por exemplo - dois brilhantes escritores e diplomatas ativos -, não figuram entre os analisados. Nem Mário Palmério, um autor desperdiçado, de quem hoje quase ninguém lê Chapadão do Bugre, um livro que pinta com maravilhosa precisão a paisagem e a linguagem do interior brasileiro. Roberto Campos disse muito em A Lanterna na Popa, mas sabe-se que não tudo, e mais deveria ser escrito sobre ele, porque, no Brasil, a educação técnica e a humana costumam andar separadas - e Roberto campos foi dos poucos que soube conciliá-las. E, afinal, onde está Álvaro Lins, outro pernambucano erudito, dos maiores críticos literários brasileiros, que possuía uma espantosa capacidade de, em uma frase, definir um livro? Outra antologia, nos moldes de O Itamaraty, merece ser editada.

Enquanto isso, entretanto, nos resta o que esta primeira edição veio agregar, o que já não é pouco, considerando a raridade de publicações sobre a diplomacia brasileira e a sua história. O Itamaraty, ainda por cima, alterna o leve sabor da crônica com avaliações de detalhes esquecidos - de autores, muitas vezes, esquecidos também. Num cenário, pode-se dizer, cosmopolita, aquele mesmo que convida o jovem curioso a ingressar no Itamaraty.

Para ir além





Eduardo Carvalho
São Paulo, 10/10/2003

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