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COLUNAS

Quinta-feira, 15/7/2004
Tiranos, de Antonio Ghirelli
Ricardo de Mattos
+ de 8700 Acessos

O livro Tiranos do escritor e jornalista italiano Antonio Ghirelli tanto pode ser uma introdução quanto uma síntese. Se o jovem leitor inicia-se na crónica política do século XX, encontra um companheiro e guia honesto. Ao contrário, não será surpreendido quem já enfrentou uma bibliografia significativa. Basta observar a desenvoltura do escritor, pressupondo de quem lê um conhecimento mínimo sobre os países, pessoas e regimes dos quais fala. O autor escolheu sete entre os vários ditadores do século XX e dedicou um ensaio para cada: Iosif Stalin, Benito Mussolini, Adolf Hitler, Francisco Franco, Mao Tse-tung, Augusto Pinochet e Saloth Sar, o "Pol Pot". A selecção, se padece pela obviedade - faltou o português Salazar, Fidel Castro, Saddan Hussein, os brasileiros, os africanos - tem méritos pela escrita, pois a exposição é completa inda que sucinta, trazendo os factos sem rodeios nem especulações, mas com o recuo no tempo que se fizer necessário para a boa compreensão. Ensaios jornalísticos escritos por um historiador político de escol.

Interpretar todas estas personalidades através de factos marcantes da infância ou das relações familiares é fácil demais e inexacto. Hitler manteve com o pai divergências quanto à escolha da carreira. Pouco sabe-se a respeito da meninice de Pol Pot e nada fala-se sobre a de Pinochet. Stálin teve o relacionamento filial mais tumultuado. Os movimentos imperfeitos do braço esquerdo decorreriam de uma lesão causada pelo pai ao espancá-lo, o pai contra o qual certo dia atirou uma faca: estamos no cenário d'Os Irmãos Karamazov. Francisco Franco y Bahamonde, o "galego" nasceu da união entre um libertino e uma carola. Sofria pela baixa estatura, tendência a engordar e também pela voz fina. Era aluno exemplar, o que muitas vezes significa ser alvo dos colegas: chamavam-no señorita. Na família Franco, o velho Nicolas não fez grande caso da carreira militar e política do filho. Constrangeu-o ao morrer n'um bordel no ano seguinte ao término da Guerra Civil e da tomada do poder. Ghirelli equilibra muito bem estes factos secundários com as informações políticas de primeiro plano.

A crueldade cometida pelos ditadores, muitas vezes pessoalmente, é um tema de infelizes novidades. Sempre há algo pior revelado por investigações ou depoimentos de sobreviventes. A vida, a integridade física e a moral, os direitos de família, a honra e a propriedade são os alvos principais. A propriedade é mais afetada nos regimes de esquerda, com os ideais de repartição do património. Salvador Allende, presidente de esquerda, promoveu a reforma agrária no Chile, descontentando os proprietários rurais. Coube a Pinochet restaurar os domínios particulares. Se um errou ao tomar, outro errou na forma como devolveu. Seus opositores eram lançados de aviões em pleno vôo, ou sobre o mar, ou sobre rochedos. Hitler confiscou a propriedade dos judeus, mas isso foi o de menos, ante as atrocidades contra cada um dos que enviou para o campo de concentração. O Führer, não o desculpando, mas mostrando as variáveis da Loucura, criou campos para extermínio de determinada raça. Pol Pot transformou o país inteiro n'um campo de martírio. Distinguia apenas entre aqueles que aderiram de imediato a sua revolução - Velhos - e aqueles que demoraram - os Novos. Para uns e outros, a ração diária de arroz equivalia a meia latinha de leite condensado. Com sua ferocidade, eliminou a oitava parte da população do Camboja. Uns queriam impor e manter o governo pessoal a todo custo e por todos os meios - Franco. Outros, além disso, pareciam sentir necessidade de transformar primeiro a pessoa em coisa, eliminar-lhe a individualidade, aniquilá-la, para só então destruí-la.

Constante n'esses regimes a fogueira de livros. Quer a fogueira selectiva nazista, quer a fogueira absoluta de Pol Pot, dando sempre lugar a novas Alexandrias. Se os próprios tiranos não eram pessoas destacadas pela cultura, imagine-se os executores de suas ordens. No Chile, tal era o ódio a Fidel Castro, que por via das dúvidas queimou-se, relata Ghirelli, um livro sobre "cubismo". Os amantes olhem à volta e imaginem seus livros sendo jogados da prateleira ao chão e rasgados. Da mesma maneira, não se podia esperar muito da Imprensa. Ou ela foi abolida - Camboja, sempre com os casos extremos -, ou foi censurada - um controle parcial -, ou mesmo posta sob controle estatal absoluto. A segunda opinião foi sempre clandestina. Benito Mussolini fugiu à regra porque possuía pendores jornalísticos e foi orador exibicionista. D'esta forma fundou e dirigiu jornais como A Luta de Classe, Avanti!, Il Popolo d'Itália e não impediu os primeiros passos do rádio. Não se deve esquecer que a censura não se manifestava apenas na exclusão do texto, mas também na aplicação de multa, suspensão ou prisão do redator, do editor, suspensão ou cassação da licença de funcionamento. Franco resgatou algo comum no tempo da Santa Inquisição, a autorização prévia obtida por uma espécie de auto-censura. O jornalista apresentava o texto á autoridade responsável e aguardava a concessão ou não do imprimatur. Já Mao queria impor a infalibilidade do seu Livro Vermelho, anteriormente conhecido como Citações do Presidente Mao.

Tiranos ajudou-me a descobrir algo. Anos atrás comprei Os Protocolos dos Sábios de Sião, um livro indecente e inútil, que sequer terminei de ler e joguei n'algum canto. Não sabia, contudo, de sua autoria e origem. Lendo o capítulo acerca de Hitler, descobri tratar-se de documento falso publicado como autêntico por Julius Streicher, um professor primário nazista sem ocupação maior que a de inventar boatos. Minha edição dos Protocolos ... não tem nome de autor, nem editora, nem introdução. Sabe-se lá quem está lendo esta tranqueira e de que modo.

Ghirelli não é muito bem sucedido ao apresentar Mussolini como uma exceção ao rol de ditadores. Praticamente afirma que o Duce cometeu seus desatinos influenciado pelas más companhias. Conforme o ensaísta, faltaram-lhe "a crueldade abstrata e sistemática, um prazer sádico em fazer o mal, a fantasia paranóica em inventar práticas das mais cruéis". É o mero recurso retórico de ceder em parte para conquistar ganhar o todo. Os motivos apresentados para justificar as decisões do ditador italiano podem ser utilizadas em favor do chileno e do espanhol. Tenha-se em mente que Franco recebeu auxílio militar alemão e italiano durante a Guerra Civil, mas depois fechou-se em seu reino. O galego assassinou milhares de opositores e não concedeu grande segurança aos partidários. Contudo, se Mussolini pode ter suas culpas atenuadas por "não ter ordenado massacres, nem de ter encarcerado os dissidentes em campos de concentração", Franco e Pinochet também o podem. Nos primeiros anos da ditadura chilena, o Estádio Nacional foi utilizado como uma grande prisão, e comparado aos campos de concentração mais pela semelhança física, do que pela destinação definitiva.

Dos sete tiranos retratados, apenas Augusto Pinochet ainda vive. Stálin morreu após uma dolorosa agonia. Hitler fez jus a sua personalidade suicidando-se, mas bem poderia ter poupado sua cadela Blondie. Mussolini linchado e, depois de morto, teve seu cadáver arrastado pelas ruas, espancado, urinado e enforcado. Mao e Franco deixaram o cargo e morreram anos depois, tendo o segundo tempo de preparar seu sucessor, o actual rei Juan Carlos. Pol Pot teve seu fim em meio as matas cambojanas, maltratado pela malária até o infarto final. Dizem os espíritas que após a morte os espíritos vão para o lugar que, através exclusivamente dos seus actos, fizeram por merecer. Deus tenha por estas almas a misericórdia que elas não tiveram.

Para ir além






Ricardo de Mattos
Taubaté, 15/7/2004

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