Pensamentos & Pedidos | Daniela Castilho | Digestivo Cultural

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Quinta-feira, 29/12/2005
Pensamentos & Pedidos
Daniela Castilho
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+ 1 Comentário(s)

There is only me...

De vez em quando, escrevo para o Digestivo Cultural. Em tese eu sou uma colunista, mas não escrevo com regularidade, a maior parte do tempo eu não sei o que escrever. Eu até gostaria de escrever mais, tenho muita coisa na cabeça, muitas idéias, muitos conceitos, uma infovia inteira de informações exteriores e interiores. mas eu não consigo deixar fluir.

A mim intimida quando "preciso" escrever alguma coisa. Já comentei no Chá que eu geralmente escrevo textos quando eles urgem, quando eles simplesmente aparecem do nada na minha cabeça e pedem para ser escritos. Mas eu não sou uma escritora e não ser escritora, ou seja, não desejar escrever o tempo todo, não conseguir escrever todo o tempo, tem se revelado problemático para mim.

Esse ano prestei um concurso. Nunca tinha prestado um concurso na vida. Foi de derreter neurônios, foi uma experiência curiosa. Tive que escrever à mão e eu, que já fui expert em escrever à mão em outras alturas da vida, não sei mais fazer isso. Talvez seja porque agora temos esses teclados, essa possibilidade de simplesmente fazer o texto fluir pela ponta dos dedos para um mecanismo que praticamente responde à velocidade dos pensamentos. Escrever à mão é tarefa muito laboriosa, complexa. Precisa pensar mais devagar. Ruminar mais o texto. Ou talvez, eu apenas esteja mesmo ficando velha.

Oh, Jee. Já comecei a divagar. Julio, meu editor - é curioso afirmar isso, "meu editor", mas. - me pede para escrever sobre o ano de 2005. Difícil tarefa, então, já comecei a divagar.

Eu já comentei que tenho cinco anos de idade? Eu tenho. Quando estou aqui em casa, desde que moro com minha mãe, sou afetuosamente tratada por ela como se eu tivesse cinco anos de idade. Adoro, confesso. Ela compra pudins de leite, flans de creme e muffins de chocolate para mim. Me enche de esperança e alegria ser tratada como se eu ainda fosse uma criança pequena que precisa de bolinhos de chocolate e colo. No fundo, eu acho que preciso.

Mas ter cinco anos de idade tem seus problemas. Um deles é essa barreira imensa de conseguir escrever. Quando Julio, o meu editor, me pede para escrever, eu simplesmente obedeço, sem pensar. Os textos ficam menos apavorados, menos censurados, saltam dos dedos para a tela. Eu os libero por e-mail, eles vão e se espalham pela internet. Se eu me der tempo de pensar no assunto, nada escrevo. Textos longamente ruminados acabam cuspidos em algum canto do meu cérebro e não fluem. Evaporam.

Sabem, eu odeio me expor. Sou exímia na arte do disfarce de mim mesma. E eu não tenho conseguido escrever, nem mesmo no Chá, porque para isso eu precisaria me expor demais novamente. Eu odeio me expor. Tudo para mim é muito pessoal.

E dessa vez, Julio me pede para escrever uma espécie de "balancete de 2005″. Certo. Não consigo. Eu congelo. É uma tarefa impossível de se fazer sem me expor. Eu tenho cinco anos de idade. Eu não quero me expor. Então não vou escrever sobre 2005. Vou escrever uma outra coisa. Vou divagar aos poucos, conta-gotas-de-palavras. Finjo que não é comigo. Ou que não estou me expondo.

O que vou escrever? Não tenho a menor idéia. Na verdade, confundo 2004 e 2005 em um ano só, o ano não virou para mim desde 2004. Os divisores de águas na vida para mim são diferentes, o calendário gregoriano tem pouco significado. Não estou com vontade de escrever um texto tipo "lista de compras": eu lecionei muito em 2005, eu tomei bastante chá e café, comi coisas deliciosas com pessoas magníficas, coisas que nunca antes havia comido, como ostras ou chá de hibiscus, fumei dos mais variados e saborosos tabacos, viajei, revi pessoas do passado e conheci novas pessoas, aprendi a lidar com essa nova "eu" que vejo agora diariamente no espelho, tirei muitas fotos, tive inúmeras crises emocionais, fui mal interpretada várias vezes, fato cíclico e repetitivo ao longo da minha vida, fiz amigos, alguns amigos mudaram de país, filmei menos do que gostaria, mas filmei, dei uma entrevista para a TV (o que é surreal), trabalhei bastante, ganhei pouco dinheiro, fiz vários planos, tenho vários projetos para 2006, escrevi muito menos do que em 2004. mas vivi muito mais, de uma forma lenta, às vezes complexa e dolorosa, às vezes leve e contente. E eu fui ao show do NIN, vi Trent Reznor ao vivo. É, ele estava ali, cantando visceralmente todas aquelas letras raivosas com sua música feita de pequenos noises, os ruídos que enchem o ar com melodia de guitarras e que têm sido a trilha sonora da minha vida desde 1987 e que faz eco à minha própria arte. É, existiu um 1987. E hoje ainda é 2005. Amanhã será 2006. E eu ainda lembro de 1999, o ano que o mundo ia acabar. Que diferença realmente faz?

Não faz diferença em que ano estamos. Faz? Ou que ano iremos iniciar. Faz? Nem podemos afirmar que seja mesmo 2006. Podemos? Não, não podemos. Pode ser qualquer número, depende do calendário. O que cada um de nós sabe dizer, apenas, é quanto tempo tem levado sua própria vida e em que momento dessa vida se está, ainda que esse momento seja complexo de definir ou ainda, talvez quase impossível de definir com apenas uma palavra. O tempo é apenas um número.

No momento, eu sei que eu continuo a ser eu. Muitas mudanças e tempestades têm se abatido sobre mim, mas eu ainda sou eu. E cada vez mais ciente de mim mesma. Cada vez mais eu. Percebo, às vezes, essa auto-ciência transbordando na minha arte, nas minhas imagens ou mesmo nas minhas palavras. Mas nada falo. Não quero falar, assim como não quero escrever. Escrever sobre qualquer coisa de mim mesma é assunto árido, desnudado, complicado. Cheira a egolatria, cheira a blasfêmia, cheira a invasão.

"There is no you, there is only me, there is no you, there is only me."

Prefiro ficar quieta. Prefiro ter cinco anos de idade e comer muffins de chocolate. Prefiro ir ali fora, observar esse lindo pôr-do-sol que está fazendo pós-chuva e pensar nos gatos que eu tinha, que tive de dar e de quem tenho saudades. Para os gatos eu não precisava falar nada, escrever nada, fazer nada. Bastava que existíssemos ali juntos, em silêncio. Por vezes, acompanhados por Trent Reznor e sua música feita de noises.

/. and when the day arrives
I'll become the sky
and I'll become the sea
and the sea will come to kiss me
for I am going home
nothing can stop me now.


Nota do Editor
Daniela Castilho é designer, diretora de arte e assina o blog MadTeaParty.


Daniela Castilho
São Paulo, 29/12/2005

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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
11/1/2006
00h25min
Lá vai eu comentar algo aqui no DC... E estou inquieto. Inquieto como uma lagartixa de parede vendo o seu rabo decepado balançar-se fora do corpo. E nada faço. E o que me convém fazer? 2006. O que é um novo ano? Se "the song remains the same"? Escrevi certa vez: "acho que antes de/ uma leitura/ assim de coisas dispersas,/ um minuto de sabedoria// as osgas copulam// por entre as frestas/ em silêncio". Eu não tinha nada pra dizer. Era final de 2002 e minha vida escorria líquida prum 2003 no qual as coisas fluíam como se fossem se repetir "ad infinitum" em 2004, 2005. 2006. Continuo sem nada pra dizer no fim do ano em que deixei escorrer pelos meus dedos quase 13 anos dum relacionamento que tinha tudo pra ser sólido. Sem lamentações, brothers and sisters. Lívido, enxuto e áspero regurgito as últimas palavras de Reznor: and nothing can stop me now... Porque o show não pode parar. Belo texto, Daniela.
[Leia outros Comentários de Pepê Mattos]
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