Meu marido e outros tantos também | Gabriela Vargas | Digestivo Cultural

busca | avançada
84380 visitas/dia
2,0 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Novo livro de Nélio Silzantov, semifinalista do Jabuti de 2023, aborda geração nos anos 90
>>> PinForPeace realiza visita à Exposição “A Tragédia do Holocausto”
>>> ESTREIA ESPETÁCULO INFANTIL INSPIRADO NA TRAGÉDIA DE 31 DE JANEIRO DE 2022
>>> Documentário 'O Sal da Lagoa' estreia no Prime Box Brazil
>>> Mundo Suassuna viaja pelo sertão encantado do grande escritor brasileiro
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
Colunistas
Últimos Posts
>>> Glenn Greenwald sobre a censura no Brasil de hoje
>>> Fernando Schüler sobre o crime de opinião
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Uma nova forma de Macarthismo?
>>> Metallica homenageando Elton John
>>> Fernando Schüler sobre a liberdade de expressão
>>> Confissões de uma jovem leitora
>>> Ray Kurzweil sobre a singularidade (2024)
>>> O robô da Figure e da OpenAI
Últimos Posts
>>> Salve Jorge
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
>>> Ícaro e Satã
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Maria Helena
>>> Sombras
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Aconselhamentos aos casais ― módulo II
>>> Perfil (& Entrevista)
>>> Entrevista a Ademir Pascale
>>> Blogo, logo existo
>>> Pense nos brasileiros
>>> Os Doze Trabalhos de Mónika. 2. O Catolotolo
>>> Dá-lhe, Villa!
Mais Recentes
>>> A Fúria dos Reis As Crônicas de Gelo e Fogo Livro Dois de George R. R. Martin pela Leya (2011)
>>> Sodoma e Gomorra de Marcel Proust pela Globo (1954)
>>> Os sonhos não envelhecem - Histórias do Clube da Esquina de Márcio Borges pela Geração Editorial (2011)
>>> Wild C.a.t.s de Alan Moore pela Panini (2022)
>>> O Voo da Águia de Ken Follett pela Best Bolso (2010)
>>> Ramuntcho de Pierre Loti pela folio classique (1990)
>>> Huan xi xin guo sheng huo - Em Chines 按息心過盛 de Xian dai fo dian pela Chinesa
>>> Cassino Royale de Ian Fleming pela BestBolso (2012)
>>> Carte Blanche de Jeffery Deaver pela Record (2012)
>>> Teniente Bravo de Juan Marsé pela Plaza & Janés (1998)
>>> O Código Da Vinci de Dan Brown pela Sextante (2004)
>>> Le Malade imaginaire de Molière pela Pocket (1998)
>>> O Banquete de Muriel Spark pela Rocco (1994)
>>> Batman - As Dez Noites da Besta de Jim Starlin e Jim Aparo pela Abril Jovem (1989)
>>> Sons and Lovers de D. H. Lawrence pela Wordsworth Editions (1993)
>>> A Nova Classe de Milovan Djilas pela Agir (1973)
>>> Dr Jekyll and Mr Hyde with The Merry Men & Other Stories de R. L. Stevenson pela Wordsworth Editions (1999)
>>> Shutter Island de Dennis Lehane pela Harper (2009)
>>> O Homem dos Dados de Luke Rhinehart pela Imago (1994)
>>> Um gosto e seis vinténs de W. Somerset Maugham pela Record/Altaya (1996)
>>> Lettre à un ami perdu de Patrick Besson pela Librio (2004)
>>> Homem Aranha Ano Um (minisérie completa em três edições) de Kurt Busiek pela Abril Jovem (1997)
>>> O Mistério da Estrada de Sintra de Eça de Queiroz pela Livros do Brasil - Lisboa (2003)
>>> O último judeu de Noah Gordon pela Rocco (2000)
>>> O Livreiro de Cabul de Åsne Seierstad pela Record (2006)
COLUNAS

Sexta-feira, 3/8/2007
Meu marido e outros tantos também
Gabriela Vargas
+ de 4400 Acessos
+ 2 Comentário(s)

O grande trunfo dos livros com histórias contemporâneas é que, em certos momentos, nos fazem lembrar de algum fato que vivenciamos ou do qual tivemos conhecimento. Não são poucos os livros assim, porém é raro um livro conseguir ser ao mesmo tempo tão sugestivo e instigante sem perder o realismo, a ponto de nos fazer se identificar com a história, como o livro Meu marido (Record, 2006, 188 págs.), indicado ao prêmio Jabuti deste ano e de autoria da escritora e psicanalista carioca Livia Garcia-Roza.

Livia estreou com o romance Quarto de menina (1995) e além de Meu marido também escreveu os romances Meus queridos estranhos (1997), Cartão-postal (1999), Cine Odeon (2001), Solo feminino (2002),A palavra que veio do sul (2004), também indicado ao prêmio Jabuti, e Restou o cão (2005).

Talvez por ser psicanalista, Livia se sente à vontade tratando dos conflitos que fazem parte do nosso século, como o conflito homem-mulher, que é abordado ao longo do romance pela ótica de uma única pessoa, a narradora Belmira.

Belmira é uma mulher prestes a completar trinta anos de idade que nasceu no interior de Minas Gerais. Oriunda de uma família simples, conheceu Eduardo (o marido que dá título ao livro) numa viagem de visita a uma prima que morava no Rio de Janeiro. Ela é uma mulher estável, tranqüila, que está sempre às voltas com a família interiorana e, principalmente, com o marido e com o pequeno filho Raphael.

Mas a história não gira em torno da narradora, e sim de seu marido. Eduardo é um delegado que tem como sonho frustrado ser pianista de boate e que, ao contrário da estabilidade da narradora, é uma pessoa completamente instável, de humor corrosivo, beberrão e inseguro. A história já começa com ele dirigindo bêbado na volta para casa com a esposa, depois de alguns uísques. Quando ficava assim, não gostava que a esposa dirigisse e nem que abrisse a porta e saía gritando pela rua que era alcoólatra. Belmira narra, ao longo do romance, várias situações em que o marido fica daquele jeito, no outro dia acordando de mau humor e logo saindo para trabalhar.

Durante esses episódios, aos poucos podemos perceber o quão submissa ela se colocava perante o marido, que falava sem parar, não apenas quando estava bêbado, mas sempre que tinha oportunidade, e Belmira apenas ouvia, dizendo umas poucas palavras. Eduardo, aliás, sempre se colocava de uma forma superior à esposa, dizendo que tinha que trabalhar para sustentar a família, sugerindo que o dinheiro dela não servia para nada. Algumas vezes, enquanto falava com ela, proferia palavras de caráter mais rebuscado, logo explicando o significado para a mulher: "Nunca escutou o verbo solancar, não é? Sua expressão revelou ignorância. Solancar é trabalhar arduamente com afinco, em serviço pesado. (...)".

Interessante é que apesar desse jeito instável, Eduardo é um excelente pai. Desde que Raphael estava na barriga da mãe ele já chamava o filho de campeão e cantava para ele o hino do Botafogo, seu time do coração. Sempre fizera de tudo pelo filho, se vestindo de gigante, contando causos da delegacia em que trabalhava e dizendo que era um xerife melhor que os do faroeste, fazendo o filho dar gostosas gargalhadas e se orgulhar do pai.

Apesar de descrever com cuidado o marido, o ápice da história se dá na ausência dele, nas insistentes viagens que Eduardo começa a fazer deixando mulher e filho sozinhos durante um bom tempo. Quando volta, fica pouco tempo e depois já vai viajar de novo. A mulher começa a estranhar o comportamento do marido e o filho chora à noite de saudade, mas a vida segue, com Belmira levando o filho para natação, dando suas aulas de inglês e notando o marido cada dia mais distante. Até que um dia ela começa a receber ligações insinuando que o marido estaria tendo um caso com alguma outra mulher e a partir daí a história muda de rumo e diversos conflitos, que não necessariamente serão resolvidos, surgem na história.

"O tempo passava e eu não ouvia nem via mais meu marido. Nosso casamento devia estar mesmo para acabar, e eu precisava pensar no que ia fazer. Com a vida que ele inventara, estávamos sempre em desequilíbrio, ou eles estavam juntos, ou nós, meu filho e eu, mas nunca mais os três, pai, mãe e filho."

Alguns críticos apontaram certos deslizes que a autora comete no livro, como a mãe interiorana de Bela falar palavras rebuscadas como "longínqua", além de o texto apresentar alguns poemas de rimas pobres como podemos ver na página 14: "Nessa noite, Eduardo demorava para chegar em casa; quando se atrasava, sempre telefonava"; porém, creio que esses equívocos sejam muito pequenos diante da obra em si, em que o mais interessante é a proximidade estabelecida com o leitor. Que mulher nunca ficou insegura por causa do namorado/marido? E que homem nunca se sentiu assim por causa de uma mulher? Essas são situações comuns e cotidianas que tornam o livro tão especial, como se fosse uma narração das entrelinhas da vida, em que a psicanalista ajuda à escritora a construir com audácia um enredo atual e instigante.

Para ir além






Gabriela Vargas
Porto Alegre, 3/8/2007

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Nunca fomos tão vulgares de Julio Daio Borges
02. crônica - ou ensaio - à la hatoum de Ítalo Puccini
03. A Nouvelle Vague e Godard de Humberto Pereira da Silva
04. O roteirista profissional: televisão e cinema de Gian Danton
05. Entre o matrimônio e a literatura de Jonas Lopes


Mais Gabriela Vargas
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
3/8/2007
13h45min
Achei o texto muito bom, de muito bom gosto, que faz com que as pessoas que não conhecem o livro ou a autora, se interessem em lê-lo. Como disse a Gabriela, quem nunca ficou inseguro por causa de outra pessoa?
[Leia outros Comentários de Jéssica Almeida]
4/8/2007
15h43min
A maioria dos livros escritos por mulheres tem os homens como vilãos ou como seres inferiores. Esse parece ser mais um. gd ab
[Leia outros Comentários de Julio Cesar Correa]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




De Alfaias a Zabumbas
Raquel Nader
Paulinas
(2007)



The Beatles Illustrated Lyrics
Alan Aldridge
Macdonald Unit 75
(1970)



Manuel Antônio de Almeida: Textos Escolhidos
Maria José da Trindade Negrão (org.)
Agir
(1966)



Tudo que é sólido desmancha no ar - A aventura da modernidade
Marshall Berman
Companhia das letras
(1989)



Literatura Brasileira - Tempos , Leitores E Leituras
Maria Luíza M. Abaurre
Moderna
(2005)



Side By Side - a Handbook - Disciple-making For a New Century
Steve & Lois Rabey
Navpress
(2000)



Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem Cipe 2017
Telma Ribeiro Garcia - Org.
Artmed
(2018)



Economia Brasileira Contemporânea
Marco Antonio Sandoval de Vasconcelos
Atlas
(1996)



Fragged Empire: Core Rule Book
Wade Dyer
Design Ministries
(2015)



Contrasena 2
Marilia Vasques Callegari
Moderna
(2015)





busca | avançada
84380 visitas/dia
2,0 milhão/mês