Geração Coca Zero | Marcelo Spalding | Digestivo Cultural

busca | avançada
65269 visitas/dia
2,0 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Núcleo de Artes Cênicas (NAC) divulga temporada de estreia do espetáculo Ilhas Tropicais
>>> Sesc Belenzinho encerra a mostra Verso Livre com Bruna Lucchesi no show Berros e Poesia
>>> Estônia: programa de visto de startup facilita expansão de negócios na Europa
>>> Água de Vintém no Sesc 24 de Maio
>>> Wanderléa canta choros no Sesc 24 de Maio
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
>>> The Nothingness Club e a mente noir de um poeta
Colunistas
Últimos Posts
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Uma nova forma de Macarthismo?
>>> Metallica homenageando Elton John
>>> Fernando Schüler sobre a liberdade de expressão
>>> Confissões de uma jovem leitora
>>> Ray Kurzweil sobre a singularidade (2024)
>>> O robô da Figure e da OpenAI
>>> Felipe Miranda e Luiz Parreiras (2024)
>>> Caminhos para a sabedoria
Últimos Posts
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
>>> Ícaro e Satã
>>> Ser ou parecer
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Notas de Protesto
>>> Um imenso Big Brother
>>> O enigma de Lindonéia
>>> Breve reflexão cultural sobre gaúchos e lagostas
>>> Orson Welles
>>> Crônica do Judiciário: O Processo do Sapo
>>> O produto humano
>>> O Conselheiro também come (e bebe)
>>> Do Manhattan Connection ao Saia Justa
>>> O Presépio e o Artesanato Figureiro de Taubaté
Mais Recentes
>>> Jack definitivo de Jack Welch / John A. Byrne pela Campus (2001)
>>> Você não está sozinho de Vera Pedrosa Caovilla/ Paulo Renato Canineu pela Abraz (2002)
>>> Livro Direito Empresarial e Tributário 220 de Pedro Anan Jr. e José Carlos Marion pela Alínea (2009)
>>> Paradiplomacia no Brasil e no mundo de José Vicente da Silva Lessa pela Ufv (2007)
>>> O mundo em que eu vivo de Zibia M. Gasparetto pela Espaço vida e consciência (1982)
>>> Orar é a solução de Joseph Murphy pela Record (1970)
>>> La ciencia sagrada de Swani Sri Yukteswar pela Self realization fellowship (1920)
>>> Livro Legislação Educacional de Marcia Siécola pela Iesde (2016)
>>> Perante a eternidade de Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho pela Petit (1994)
>>> 71 segundos - O jogo de uma vida de Luiz Zini Pires pela Lpm (2007)
>>> Nossas riquezas maiores de J. Raul Teixeira pela Fráter (1997)
>>> A barca do destino de Amilcar Del Chiaro Filho pela Minas (2000)
>>> Luís Antônio- Gabriela de Nelson Baskerville pela Nversos (2013)
>>> Vozes do Brasil: Luiz Gonzaga de Vozes do Brasil pela Martin Claret (1990)
>>> Woody Allen de Eric Lax pela Companhia das letras (1991)
>>> Aprendendo a conviver com adolescentes de Francisco Baptista Neto/ Luiz Carlos Osorio pela Insular (2002)
>>> Lumes- uma antologia de haikais de Pedro Xisto pela Barlendis & Vertecchia (2008)
>>> Terapêutica do perdão de Aloísio Silva pela Sgee (2016)
>>> Livro Uma Igreja Centenária de Anderson Sathler pela Idéia (2003)
>>> Livro Manual De Orientação: Estágio Supervisionado de Ana Cecilia de Moraes BianchiMarina AlvarengaRoberto Bianchi pela Thomsom Learning (2002)
>>> Livro Evangelii Gaudium - A alegria do Evangelho sobre o anúncio do Evangelho no mundo Atual de Jorge Mario Bergoglio pela Loyola (2014)
>>> A Tridimensionalidade da Relação Analítica de A Tridimensionalidade da Relação Analítica pela Cultrix (1999)
>>> O rio doce e das águas grandes de Elifas Alves pela Lúmen (1998)
>>> Entre o Espírito e o Mundo de Wilson garcia pela Eldorado/Eme (1998)
>>> Os últimos lagídios de Helena Coutinho Sabbadini pela Boa nova (2006)
COLUNAS

Quinta-feira, 12/6/2008
Geração Coca Zero
Marcelo Spalding
+ de 8800 Acessos
+ 4 Comentário(s)

Você já assistiu ou ouviu o comercial das línguas e do zoião? Aquele da Coca-Cola, quer dizer, da Coca Zero? Pois é, não sou especialista em marketing, mas confesso que não consigo entender como uma empresa faz propaganda de um produto novo opondo ele a um produto antigo, tradicional, carro-chefe de uma história centenária. Ações de marketing que ano passado traziam a marca Coca-Cola, como o Estúdio Coca-Cola, agora carregam a marca Coca Zero, tornando-se Estúdio Coca Zero, sem contar os preciosos segundos de rádio e televisão utilizados pela companhia para divulgar o lançamento de rótulo preto em oposição à tradicional Coca "normal".

Não vou entrar no mérito se a Coca Zero é ou não igual à sua avó, particularmente acho a Zero uma Coca sem gás, mas melhor que a insossa Light. A questão é por que a empresa insiste tanto na publicidade desse novo produto, chegando a esconder a divulgação da Coca "normal" atrás da baboseira Maradona X Biro-Biro e dando todo o destaque para a Zero. Não é um favor à sociedade, um auxílio à saúde pública em prol da diminuição do peso da população, certamente não. A questão principal é que, como diria Camões, "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades", e a geração Coca-Cola já tem seus filhos, às vezes netos, e para a Coca são esses novos consumidores que interessam, gente que se divide entre o computador, as academias e suas gradeadas residências, gente que pede maçã e salada no McDonald's e no supermercado acomoda no carrinho cevas e energéticos (aliás, também não entendo como uma empresa só vendendo aquela porcaria do Red Bull consegue ganhar tanto, mas tanto dinheiro que chega a ter uma equipe de F1 com seu nome...).

Mas voltemos à música, pois foi um outdoor anunciando outra edição do Estúdio Coca (agora) Zero aqui em Porto Alegre que me provocou essa reflexão. Aliás, desde que o Jota Quest apareceu fazendo propaganda da Fanta que não me sai da cabeça aquele verso dos Engenheiros do Hawaii: "a juventude é uma banda numa propaganda de refrigerante". Bem, agora não é uma, são muitas as bandas vendendo a Coca Zero, e não será estranho que num desses shows uma dessas bandas invoque o grande Renato Russo e cante "Geração Coca-Cola". Coca-Cola normal! E Eis a questão: será que estamos assistindo ao surgimento de uma espécie de Geração Coca Zero, mais preocupada com sua imagem, seu corpo, suas calorias?

Os versos de Renato são dos anos 80, e a juventude que faria a revolução, a ironicamente chamada Geração Coca-Cola, hoje é adulta, assiste Big Brother, imita o Juvenal Antena e talvez até assine a Veja (Deus me livre!). Mas no seu lugar deixou a geração Coca Light, dos anos noventa, e agora essa geração que aprimora e exagera os valores da outra, a Geração Coca Zero.

Se a Geração Coca-Cola foi programada para receber os enlatados do USA, a geração Coca Zero convive com os enlatados culturais norte-americanos, exibidos à exaustão nos canais por assinatura, mas com muita freqüência lê na etiqueta dos seus tênis, roupas e aparelhos eletrônicos a já famosa frase "Made in China" (um amigo meu comprou um notebook da Apple e, surpresa!, lá estava: Made in China). Se a geração Coca-Cola comia lixo comercial e industrial, a Geração Coca Zero é entupida do lixo serviçal, pois como nunca o setor de serviços esteve presente na sociedade através das teles, das financeiras, das TVs por assinatura, dos provedores de acesso à internet, dos cartões de crédito, todos eles nos entupindo de lixo em forma de spam, de anúncio, de promessas. E se a Geração Coca-Cola era feita de burgueses sem religião, a Geração Coca Zero é repleta de burgueses conectados a alguma crença, desde grupos de jovens cristãos até centros zens de ioga, passando pelas megalomaníacas igrejas pentecostais.

E então vem o refrão, e no refrão está a maior diferença entre uma geração e outra, uma época e outra:

"Somos os filhos da revolução
Somos burgueses sem religião
Somos o futuro da nação
Geração Coca-Cola"

A Geração Coca Zero não é filha nem neta da revolução, seja a revolução ditatorial de direita, hoje empurrada para baixo dos tapetes e restrita aos livros de História, seja a revolução cultural de Maio de 68, hoje relembrada apenas pela efeméride, mas ausente mesmo dos livros de História. No dicionário da Geração Coca Zero não tem a palavra burguês e, se tiver, seu sentido é simpático, como na música de Seu Jorge. E, fundamentalmente, a Geração Coca Zero não quer ser o futuro da nação, rejeita esse peso e prefere preocupar-se com seu próprio futuro: tendo uma chance, fará o futuro de outra nação, preferencialmente européia ou da América do Norte.

A escola, que talvez antes mencionasse todas as manhas de um jogo sujo para ensinar que não é assim que tem que ser, hoje se esmera em preparar cada um de seus alunos para jogar da melhor forma possível com as manhas desse jogo, que nem é mais chamado de sujo, apenas de "competitivo". Ensina a marcar cruzinhas para o vestibular, a falar inglês e espanhol com fluência, a ser mais e mais criativo.

Não cabe, nessa coluna, juízo de valor sobre o que é melhor, Coca Normal ou Coca Zero, a Geração Coca-Cola ou a Geração Coca Zero, o maio de 1968 ou esse maio que recentemente se encerrou. O segundo não existiria sem o primeiro, um é produto do outro, e pelo bem ou pelo mal, de uma forma ou de outra, a sociedade segue avançando, aparentemente com menos sonhos mas também com mais opções de escolha. Particularmente, uma coisa eu lamento com ênfase: que não haja nessa Geração um Renato Russo para sintetizá-la.


Marcelo Spalding
Porto Alegre, 12/6/2008

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Digam a Satã que estreei de Luiz Rebinski Junior
02. De volta da Flip 2013 de Eugenia Zerbini
03. A casa de Robinson de Guilherme Pontes Coelho
04. Rio 2016 pelo fim do complexo de vira-latas de Marcelo Spalding
05. Seguindo com arte de Taís Kerche


Mais Marcelo Spalding
Mais Acessadas de Marcelo Spalding em 2008
01. Burguesinha, burguesinha, burguesinha, burguesinha - 6/3/2008
02. O melhor de Dalton Trevisan - 27/3/2008
03. Nossa classe média é culturalmente pobre - 21/8/2008
04. Cartas a um jovem escritor - 31/1/2008
05. Literatura é coisa para jovem? - 11/9/2008


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
12/6/2008
19h04min
Bacana o texto, Marcelo, tem idéias interessantes e curiosamente relacionadas. Agora, pior do que o ensino de "marcar cruzinhas para o vestibular", só mesmo um intensivão sobre Platão num cursinho pré-vestibular, dá pra imaginar? Porque é assim que a banda tem tocado desde a exigência do ensino de Filosofia e Sociologia nas escolas brasucas. Até que a causa é legítima - super legítima -, já o rumo que a coisa toma... abs!
[Leia outros Comentários de Vanessa Barbosa]
12/6/2008
22h53min
Nossa, adorei esse texto. É o mais sábio de todos que já li, principalmente a última frase: "uma coisa eu lamento com ênfase: que não haja nessa Geração um Renato Russo para sintetizá-la". Adorei, adorei mesmo. Esse tbm é o meu ponto de vista.
[Leia outros Comentários de Adriano]
23/8/2008
20h57min
belo artigo, Marcelo querido: tá tudo muito bem, tá tudo muito chato, regulado, diet, light, zero: que falta faz nosso Renato Russo, que, se não estivesse entre os anjos, revolveria terras de indgnação... ;-))
[Leia outros Comentários de Gisele Lemper]
9/10/2008
12h27min
Nossa!!! O que posso dizer sobre este texto? Maravilhoso, simplesmente. A forma como você abordou o texto foi incrivelmente única. Adorei, Marcelo! Descobri este site há pouco tempo e agora não largo mais. E ainda divulgo pra todos meus amigos, pois textos como esses DEVEM ser lidos pela própria geração Coca Zero, à qual pertenço. Quem sabe algumas reflexões e mudanças tornem-se evidentes? Sinto que a minha geração precisa de um pouco mais de gás, assim como a Coca Zero. Muito bom mesmo, Marcelo!
[Leia outros Comentários de Tamires Mucedola]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Remédio para Vestibular
Aguinaldo Prandini Ricieri
Prandiano



Livro Gibis Nana Volume 12
Ai Yazawa
Jbc Mangás
(1999)



Perversões Sexuais
Dr. J. R. Bourdon
Civilização Brasileira
(1933)



Da Instrução dos Trabalhadores à Revolução Social
Eduardo Lamela
Rizoma
(2017)



Balança Coração
Walcyr Carrasco
Ática
(2009)



Livro Música One Direction Tudo Sobre a Banda
Ellen Bailey
Record
(2012)



A Gata do Rio Nilo
Lia Neiva
Globo
(2011)



Coleção Em Box - Henry Thomas - 12 Volumes - Vidas
Henry Thomas
Globo
(1965)



Coracoes Sujos: a Historia da Shindo Renmei
Fernando Morais
Companhia das Letras
(2000)



Uma Sebe de Rosa
Norman Lamm
José Konfino
(1970)





busca | avançada
65269 visitas/dia
2,0 milhão/mês