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Sexta-feira, 12/9/2008
Thomas Bernhard com espírito curitibano
Franco Caldas Fuchs
+ de 5500 Acessos

Embora nascido na Holanda e radicado na Áustria, o escritor Thomas Bernhard (1931-1989) parecia um curitibano. É o que pudemos constatar em Árvores Abatidas, romance de Bernhard que foi adaptado pela primeira vez para o teatro pelo diretor Marcos Damaceno. A montagem ficou em cartaz durante o mês de julho e início de agosto no galpão que Damaceno utiliza como teatro nos fundos de sua casa, na rua 13 de maio.

"Os vienenses não podem ver uma pessoa boa, importante, e um dia derrubam-na como a um monumento que não lembram que eles próprios ergueram ali." O que dizer de uma frase como essa, presente em Árvores Abatidas?

Impossível não comparar a autofagia vienense, que é escancarada nessa obra, com a conhecida autofagia curitibana, já descrita por Jamil Snege na crônica Como tornar-se invisível em Curitiba. "Cada vez que alguém, lá fora, reconhecer com isenção de ânimo que você está produzindo obra ou feito significativo - o seu grau de invisibilidade aumenta em Curitiba", escreveu ele.

Além de tratar do ambíguo sentimento de amor e ódio por uma cidade que esmaga seus talentos como um moinho, Árvores Abatidas expõe também uma série de críticas ao teatro vienense, o que impressionantemente serviu direitinho para o teatro daqui.

Público, atores, diretores, dramaturgos e críticos, todos os elos da cadeia teatral são detonados em Árvores Abatidas, aspecto da obra que foi especialmente destacado na montagem de Marcos Damaceno, inclusive com a citação de nomes de artistas conhecidos, como o diretor e dramaturgo Felipe Hirsch e a diretora e produtora Nena Inoue.

O enredo
No romance publicado em 1984, um escritor cinquentão - muito parecido com o próprio Thomas Bernhard - narra a experiência de ter ido a um jantar repleto de artistas na casa de um antigo casal de amigos, os Auersberger, que, naquele momento, ele não mais suporta.

O jantar, que conta com a presença de um ator veterano do burgtheater (teatro nacional austríaco), torna-se um martírio para o escritor, ainda mais que, no mesmo dia, pela manhã, acontecera o enterro de sua amiga Joana, também íntima dos Auersberger e de outros convidados.

A adaptação
Narrada em primeira pessoa no livro, essa história ganhou na peça a forma de um monólogo interpretado pela atriz Rosana Stavis, que fez um papel análogo ao do personagem escritor.

Porém, em suas reflexões sobre seus ex-amigos, sobre si e sobre a cidade, o discurso do protagonista no romance de Bernhard é muito mais dispersivo e menos humorístico do que foi apresentado em cena.

Na sua interpretação, em boa parte do tempo Rosana Stavis levou Árvores Abatidas para uma comédia escrachada, em que as repetições típicas do estilo de Bernhard foram convertidas em recursos cômicos (não muito risíveis para mim).

As insistentes referências ao "ator que até faz telenovela" ("o ator do burgtheater", no original), por exemplo, viraram um bordão, realçado com um "plim, plim" saído do violino de Roger Vaz, músico responsável pela trilha sonora ao vivo.

Diante dessa atuação frenética de Rosana Stavis, tão logo a peça começou, confesso que tentei imaginar como ficaria a montagem com uma interpretação mais contida da atriz. O que felizmente vi concretizado nos momentos em que a personagem dela se recordava de Joana, a amiga falecida, e quando ela relembrava de algumas árias que costumava cantar com os Auersberger.

"Como é bonito ficar sentimental de vez em quando", diz o narrador a certa altura no livro. Pois foi assim, bonito e sentimental, o final da peça, com a personagem de Rosana declarando o seu amor à cidade e às pessoas que ela tanto dizia que odiava, para então deixar a casa dos Auersberger (o teatro em que estávamos) e ganhar as ruas.

* * *

O diretor de Árvores Abatidas, Marcos Damaceno, fala sobre a primeira temporada da peça em Curitiba

Na estréia de uma montagem já é possível saber se um trabalho tem ou não potencial de seguir adiante, diz o diretor Marcos Damaceno. Com Árvores Abatidas, o diretor logo sentiu que a peça teria uma continuidade.

Porém, novas apresentações dessa adaptação (até então inédita) do romance de Thomas Bernhard irão demorar um pouco para acontecer, explica ele. De outubro a novembro, a sua companhia reapresenta a peça Sonho de Outono, do norueguês Jon Fosse, em São Paulo e no Rio de Janeiro.

A idéia é que Árvores Abatidas retorne aos palcos no início de 2009, no próximo Festival de Teatro de Curitiba, avisa Damaceno. Na entrevista a seguir, ele conta como foi a primeira temporada da peça.

De onde veio a idéia de adaptar Árvores Abatidas para o teatro?

Em 2004, estive em um encontro latino-americano de novos dramaturgos em Córdoba. E lá, um dramaturgo espanhol chamado Paco Sarzozo, que era o coordenador do evento, me disse que o que eu escrevia, pela musicalidade, pela construção das frases, era muito próximo ao Thomas Bernhard.

Na verdade, o Paco me indicou dois autores que eu acabei montando. O Thomas Bernhard e o Jon Fosse, que naquela época era um cara que estava começando a estourar.

Quando voltei para o Brasil, busquei ler os romances e as peças desses dois autores. Então montei primeiro o Fosse [Sonho de Outono, 2005] e depois resolvi adaptar o Bernhard. Não optei por uma peça de teatro dele porque as suas peças costumam ter homens mais velhos e eu queria muito fazer um solo com a Rosana [Stavis, atriz, esposa de Marcos Damaceno]. Vi essa possibilidade através do Árvores Abatidas.

A montagem de Árvores Abatidas virou na maior parte do tempo uma comédia. Isso foi intencional?

Seguimos alguns caminhos nos primeiros ensaios até encontrarmos o tom geral do espetáculo. O primeiro mês foi só para achar esse tom. E quando vimos que estava ficando muito sério - afinal, o protagonista está sempre criticando, falando mal dos outros - ficamos com medo dele ficar arrogante demais. Então buscamos o humor para tentarmos criar uma empatia maior entre a platéia e a narradora.

Esse humor não foi um tanto exagerado?

O exagero é uma característica do próprio Thomas Bernhard. Exagero na linguagem, pela repetição de palavras e frases, e também pela caricatura que ele faz com os personagens quase estereotipados.

Isso causa bastante humor. Os personagens não têm um desempenho naturalista, uma voz naturalista. O Auersberger, por exemplo, é o bêbado. E se ele era para ser o bêbado, o deixamos ainda mais bêbado.

O estereótipo no teatro normalmente é algo depreciativo, mas aqui buscamos justamente isso, seguindo o Thomas Bernhard, na nossa visão.

O protagonista de Árvores Abatidas fala muito mal dos artistas que não deixaram Viena. Ficar na cidade ou sair dela é uma questão que sempre passa pela cabeça de todo artista curitibano, não?

Não há mal nenhum em ficar aqui. Curitiba tem fama de ter bons atores, tem uma tradição teatral forte. Mas há sempre esse discurso de que é preciso ir para São Paulo e Rio de Janeiro porque essas cidades continuam sendo os principais centros culturais.

E tem aquela coisa. Se você é o melhor ator de São Paulo, você não é simplesmente o melhor ator de São Paulo. Você é o melhor ator do Brasil. Agora se você é o melhor ator de Curitiba, você é só o melhor ator de Curitiba.

Então todo mundo busca sair. Inclusive nós, que temos procurado ir com nossos espetáculos para São Paulo e Rio, justamente por essa amplitude que você dá para a sua carreira, essa visibilidade.

O subtítulo do romance Árvores Abatidas (na tradução de Lya Luft) é "uma provocação". O Thomas Bernhard chegou a ser processado por provocar pessoas reais no livro, não?

Sim. O Thomas Bernhard realmente conviveu com as pessoas descritas no livro. Todas eram reais. A única coisa que ele fez foi alterar o nome do músico Gerhard Lampersberger, que ficou no romance como Auersberger.

Quando o Thomas Bernhard lançou Árvores Abatidas, o Lampersbereger leu e falou: "espera aí, esse sou eu!". Não há dúvida. E como ele é esculhambado no romance, ele conseguiu proibir a venda do livro.

Depois de alguns anos é que Árvores Abatidas pôde ser publicado na Áustria. Mas aí o Bernhard, um sujeito difícil, escreveu um testamento no qual proibia a publicação e a encenação das suas obras em território austríaco, após a sua morte.

Isso aconteceu mesmo, por um tempo, até que um meio-irmão do Bernhard conseguiu dar um jeito de burlar o testamento. Hoje o Thomas Bernhard é publicado, montado e reverenciado em toda a Áustria.

Assim como fez o Bernhard no romance, na peça a narradora também cita pessoas reais. A escritora Jeannie, por exemplo, é às vezes chamada de Nena (em referência à diretora e produtora Nena Inoue). Em certo momento ela fala que o único dramaturgo bom é o Felipe (em referência ao diretor e dramaturgo Felipe Hirsch) e ambos, Jeannie-Nena e Felipe, terminam detonados pelo ator do burgtheater. Como foi a reação das pessoas citadas?

Fizemos essas citações justamente para manter esse espírito provocador do Thomas Bernhard. Na verdade, não colocamos tanto opiniões nossas. A gente adora o Felipe Hirsch, por exemplo. Assisti ao Não Sobre o Amor e achei lindo, a melhor coisa que vi dele.

Mas a gente retrata o nosso meio. Falamos o que as pessoas falam. Em Curitiba existem essas relações de amor e ódio. O Felipe é um caso. Ele é daqui, mantém um escritório na cidade, e as peças dele não vêm para cá. Ele só fala mal de Curitiba, fala mal dos atores, que eles são vagabundos, preguiçosos. Isso até já virou uma guerra: o Felipe fala mal da classe artística e a classe artística fala mal do Felipe.

Sarah Kane, Jon Fosse, Thomas Bernhard. Pensando nesses autores que você já montou e também lembrando da peça Sobre Tempos Fechados que você escreveu, percebe-se que você tem um apreço por autores e personagens sorumbáticos, pessimistas, não?

As pessoas falam que montamos peças muitos pesadas, densas, difíceis. Mas essas peças me instigam, me atraem porque aprendo com elas.

Árvores Abatidas, por exemplo, foi uma reflexão para nós, sobre como se dão as relações entre as pessoas, principalmente as relações entre os artistas de uma cidade como Curitiba. A gente aprende muito. Aprende o que não cometer e como não se transformar nessas pessoas ressentidas.

Com essa peça expurgamos a nós mesmos. Eu até falo: vamos falar mal de tudo o que tiver que falar. Vamos expurgar isso, para que a gente não guarde esses sentimentos que depois dominam a nossa mente e não nos levam a lugar nenhum


Franco Caldas Fuchs
Curitiba, 12/9/2008

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