A Mulher Invisível ou a literatura como salvação | Elisa Andrade Buzzo | Digestivo Cultural

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Quinta-feira, 20/8/2009
A Mulher Invisível ou a literatura como salvação
Elisa Andrade Buzzo
+ de 5700 Acessos

De que maneira um filme que parece não ter nada a ver com literatura alude ao ato de escrever? E mais, insere a escrita como uma espécie de salvação, redenção das desilusões e entendimento de si mesmo no turbilhão da vida. Nada disso foi deliberadamente explorado, nem foi motivo da bilheteria razoável, já que o filme foi o mais visto no Brasil por algumas semanas em junho (é desleal competir com Harry Potter 6 e A Era do Gelo 3). Antes, o longa segue de certo modo a linha da comédia rápida, estilo telenovela de Se eu fosse você (2006) e Se eu fosse você 2 (2009), embora haja um duplo apelo, corporal e filosófico ― simbolizado pela mulher invisível, Amanda (Luana Piovani) ― e o enredo seja mais tortuoso do que suportariam centenas de capítulos.

Fui assistir A Mulher Invisível (2009), dirigido por Cláudio Torres, sem grandes expectativas, aguardando nada muito além do que um filme engraçado e com uma boa atuação do Selton Mello. Acabei me deparando com uma história de escrita/imaginação que foi aparecendo aos poucos, atravancada com uma personagem aparentemente secundária, Vitória (Maria Manoella), vizinha que é apaixonada por Pedro (Selton Mello), um controlador de tráfego com ilusões românticas, que sonha em ter filhos e uma vida comum e tranquila ao lado da esposa (Maria Luiza Mendonça). Esta é tão insignificante que, ao que me lembre, nem nome tem e só aparece no início do longa-metragem, momento em que abandona o marido de repente, avisando-o de que está grávida e o pai, naturalmente, não é ele.

Não é à toa que Pedro cai numa depressão profunda e o melhor amigo Carlos (Vladimir Brichta) ― inicialmente fazendo papel de garanhão ― insiste em reanimá-lo com festas e boates. Até que, quando chega ao fundo do poço, Pedro atende a campainha de seu apartamento: não, ainda não é Vitória, é Amanda, uma outra vizinha que lhe pede uma xícara de açúcar, e a partir daí toma conta de sua vida. Amanda é tão "perfeita" quanto a imaginação de um homem comum criaria uma mulher: sensual, gosta de futebol, cozinha e não encana com suas escapadelas. Invisível, ela é a concretização da mulher ideal. Apenas Pedro não se dá conta de que ela não existe materialmente, o que vai gerar diversas situações cômicas.

Os sentimentos de Vitória, do outro lado da parede, são semelhantes aos de Pedro. Casada com um policial troglodita, ela também é sensível, tímida. No entanto, Pedro sequer repara em sua existência, bem nela que é material. Vemos a personagem, pálida, cabelos negros escorridos ao meio, sentada melancolicamente na mesa da cozinha. Enquanto aguarda o marido, faz anotações (ou escreve poemas?) e lê um livro. Um close: Antologia poética, de Carlos Drummond de Andrade. É a primeira menção "literária" nesta história de amor aparentemente, e decerto, banal (lembrando, ainda que nem tanto metalinguística, a história de Como fazer um filme de amor (2004), de José Roberto Torero), mas com reviravoltas originais. O livro de poemas é a chave que abre este início, mas também antevê o conto que Pedro produzirá, chamado "A mulher invisível" ― nos fazendo crer que escreveu o que vimos até agora acontecer na tela ―, primeiro em cenário de luz de velas, à mão, num jorro furioso seguido de uma orgulhosa e aliviada impressão do texto digitado. Não deixa de ser uma visão "romantizada" do fazer literário. A presença da imaginada Amanda chega a ser de tal forma insuportável, que a única forma que encontra de desfazer-se dela é escrevendo sua história.

Enquanto isso, Vitória segue tentando conquistar Pedro e, ao ler o conto, desfere: "você transformou sua dor em poesia, isso é literatura." Um segundo clique quando ouço essa frase (o primeiro foi ao ver a antologia de Drummond). Afinal, aí está a epifania, a percepção das coisas num estalo. E aí a escritura tem um papel definido, apesar de diluído. O filme segue em leves ondulações pelo caminho da comédia romântica, o que não impede que cada personagem passe por um processo de transformação. Este muitas vezes é desencadeado pela escrita (ou pela leitura). Não será apenas um conto, mas um livro que Pedro escreverá nesta tentativa de amor e descobertas no decorrer da trama.

Resta falar das atuações. Selton Mello parece fazer o personagem de sempre ― ele mesmo (e não é que ele admite seus cacoetes de interpretação em entrevista à revista Bravo!?) ―, um tanto teso, forçando-se para o fazer rir e distante da imagem de bom moço que deveria passar. É impossível não lembrar de sua dupla presença atualmente nos cinemas, em filmes e personagens deveras distintos. Selton é Jean Charles (2009) numa interpretação tão realista, a câmera passeando descompromissada, que parece que se trata de um filme documental, que estamos seguindo os passos do brasileiro barbaramente assassinado pela polícia inglesa (mesmo porque a São Paulo excessivamente nublada das últimas semanas lembra a Londres melancólica). Aí, sim, está o grande ator numa dramática história real, pois todos nós sabemos o fim antes mesmo de os letreiros subirem.

Já a fatal Amanda, encarnada sem modéstia por Luana Piovani, se comporta roboticamente, tal como poderia ser e se comportar uma mulher que simplesmente não existe. Fernanda Torres e Vladimir Brichta cumprem bem o papel de núcleo cômico. Simbolicamente, ainda, está Vitória (Maria Manoella), que aparece no início do longa timidamente, quase se confundindo como uma figurante, mas assumindo depois as rédeas da história. Dizem tudo as palavras.


Elisa Andrade Buzzo
São Paulo, 20/8/2009

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