Ausência do mal? | Vicente Escudero | Digestivo Cultural

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COLUNAS

Quinta-feira, 15/4/2010
Ausência do mal?
Vicente Escudero
+ de 6500 Acessos
+ 2 Comentário(s)


Ele é tudo de bom!

Quando se descobre que a verdade é mentira e toda a sua esperança morre, você está sentado numa sala de cinema assistindo ao último filme dos irmãos Coen, ambientado numa comunidade judaica dos anos 60, localizada no estado americano de Minessota. Um rabino centenário repete o refrão de "Somebody to love" da banda Jefferson Airplane a um garoto que acabou de completar o bar mitzvah sob os efeitos de um baseado. Numa sala carregada de quinquilharias, onde uma réplica do quadro de Rembrandt com Abraão sacrificando Isaac, para provar a Deus sua fé, descansa na parede, o rabino termina o refrão pedindo carinhosamente ao garoto para que se torne uma boa pessoa.

Larry Gopnik é um professor universitário de física que assiste a própria vida ruir aos poucos com o pedido de divórcio da esposa e a oferta de suborno de um aluno sul-coreano chamado Clive, para ser aprovado na sua disciplina. As coisas vão muito mal. Sua esposa pretende se casar com seu melhor amigo e ainda sugerem, juntos, que Larry deixe a casa onde moram para que o fim do casamento não afete a vida familiar. O irmão de Larry surge e passa a dormir na residência, enquanto sua filha passa o tempo todo preocupada apenas com a oportunidade de fazer uma cirurgia plástica no nariz e seu filho o trata com a mesma atenção dispensada ao entregador de pizza.

Larry é impassível. Sua vida está se derretendo como cera e a única frase que é capaz de repetir, o mantra da autocomiseração, afasta sua culpa por todos os acontecimentos (Por quê? O que eu fiz? Não fiz nada de errado!).

Não pude deixar de notar que a reação da plateia, depois do filme, sobre o comportamento de Larry, parecia absolvê-lo da culpa por todos esses problemas. Ele não passaria de um homem sério que estava sendo testado dentro de sua fé, que merecia se reconciliar com a esposa, ter uma vida familiar melhor. Dignidade e felicidade. Ninguém gostaria de assistir um homem tão dedicado na vida profissional, alguém incapaz de demonstrar qualquer sinal de maldade, fracassar, certo? Mas desde quando a ausência do mal significa a presença do bem?

Neste ponto entra o talento dos irmãos Coen. A confusão moral dos personagens é mostrada de forma cruel e torturante em filmes como Queime depois de ler (o funcionário da academia de ginástica que acredita que vai se dar bem extorquindo dinheiro do analista aposentado da CIA), Onde os fracos não têm vez (o ex-fuzileiro que foge pela fronteira dos EUA com o México para tentar ficar com o dinheiro de traficantes, encontrado no deserto), até Um homem sério, com Larry Gopnik e sua dúvida sobre aceitar ou não o suborno para aprovar o aluno sul-coreano. A dupla de diretores disseca a capacidade do ser humano de distorcer a verdade, de criar uma fantasia de que tudo pode acabar bem quando começou completamente errado. Trata-se de um tratado sobre a estupidez humana, com um verbete para cada ato e estilo de disparate.

Larry Gopnik busca auxílio no judaísmo. Não consegue. O primeiro rabino com quem conversa é evasivo e jovem demais. O segundo conta uma fábula sobre um dentista judeu que encontrou uma frase entalhada atrás dos dentes de um paciente. Após meses de pesquisa e reflexão, o dentista não encontra significado nenhum para o fato, mas decide que essa era uma oportunidade de ajudar aos outros. Larry inspira-se com a história e começa a deixar a letargia. Escolhendo as iniciativas erradas.

Num primeiro momento, Larry vai até a casa de uma bela vizinha, com o espírito menos preparado para ajudar do que ser ajudado, e divide com ela um baseado. Péssimo começo! Em outra ocasião, assustado com a grande dívida que tinha com os advogados contratados para tratar de seu divórcio, da prisão do irmão e das divisas do terreno de sua casa, decide ficar com o dinheiro do suborno e aprovar Clive, o aluno sul-coreano. Como assim, Sr. Gopnik?

Ao terminar de retificar a nota de Clive no livro, o telefone do escritório toca. Uma voz grave diz que ele deve se dirigir o mais rápido possível ao consultório médico para discutir os resultados de um exame de raio-x realizado logo no início da história. Enquanto isso, um tornado se aproxima da cidade e seu filho observa-o curiosamente, com outros alunos do lado de fora da escola, como se fosse o primeiro estágio do juízo final. "Somebody to love" volta com toda força, o filme acaba e os créditos descem.

Existe uma relação sobre a visão da maioria das pessoas que assistem ao filme, entre o comportamento de Larry e a nossa cultura atual de superficialidades. Aceitamos passivamente que a ausência do mal representa a presença do bem. Enquanto o protagonista se omite em todos os fatos relevantes de sua vida prestes a ruir, a audiência interpreta suas omissões como positivas, afinal, Larry é um homem decente que não causa mal algum e que está passando por uma maré de azar. Mesmo durante a a evolução da história, quando ele comete as maiores bobagens, Larry não parece merecer a culpa por nenhum de seus infortúnios.

Que expectativas são essas? Imaginar a abstinência social de Larry como uma qualidade, é rebaixar demais as virtudes do ser humano. Não causar o mal, simplesmente não fazendo o bem, é delegar sua culpa aos outros. Sua indiferença ao resto do mundo só é rompida quando soprada a trombeta do apocalipse pelo médico, no telefone, anunciando sua provável causa mortis. É uma ironia bem ao estilo dos irmãos Coen. Azar o seu, Larry.


Vicente Escudero
Campinas, 15/4/2010

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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
17/4/2010
15h31min
Ótima resenha. Os Coen não fazem filmes para imbecis e vivemos num mundo cada vez mais imbecializado. A tendência é aceitar a primeira impressão. Adoro diretores que não entregam tudo de bandeja. Abraço.
[Leia outros Comentários de Julio Corrêa]
17/11/2010
14h06min
Melhor comentário sobre o filme que vi até agora. Parabéns!
[Leia outros Comentários de Melk]
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