Meu Marido, de Livia Garcia-Roza | Ricardo de Mattos | Digestivo Cultural

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Segunda-feira, 7/6/2010
Meu Marido, de Livia Garcia-Roza
Ricardo de Mattos
+ de 9100 Acessos

"Mas o que é a literatura, senão uma manipulação melancólica ou feliz da realidade?" (Georges Picard)

A escritora e psicanalista carioca Livia Garcia-Roza, autora de Quarto de Menina, Meus queridos estranhos e A cara da mãe, entre diversos outros livros, já foi festejada pelo Digestivo Cultural em textos de outros anos. A leitura de Meu Marido (Record, 2006, 188 págs.), romance de 2006, faz-nos engrossar o coro dos que se entusiasmaram com sua obra. Este romance parece mais uma banal história acerca das vicissitudes de uma dona de casa e seu marido, mas o fácil é uma colcha que encobre dramas familiares e existenciais de causas remotas, expressão presente e manutenção futura.

À moda do seriado norte-americano, podemos dizer que o romance é composto por dois personagens e meio: Belmira (Bela), seu marido Eduardo e Raphael, filho do casal. Bela é a moça oriunda do interior mineiro que se casa com um jovem delegado carioca e vai morar com ele no Rio de Janeiro. Como algumas pessoas de nosso conhecimento, por mais "avançadas" que sejam para o seu meio social, acabam retraídas quando alocadas em ambiente mais amplo. Professora de inglês numa escola de línguas, seu maior feito foi a maternidade. Em primeiro plano, vive para o filho e o marido, nesta sequência, e depois para si. Num dos capítulos do já comentado livro Uma noite no Majestic, Davenport-Hines detém-se na discussão acerca do "material humano" utilizado por Marcel Proust na definição de seus personagens. Cada personagem correspondia a uma pessoa da sociedade parisiense, como afirmavam desde os críticos até os colunistas sociais, ou cada personagem era a reunião de caracteres disseminados em diversos indivíduos, como insistia o escritor em sua defesa? Neste romance de Garcia-Roza, temos para nós que muitas "Belas" compuseram uma só, tal a frequência com que certos comportamentos repetem-se.

O mesmo pode-se dizer sobre o delegado Eduardo Durand. Não se pode dizer que suas questões pessoais em relação ao seu pai, em relação a sua família bem como à de sua mulher, e mesmo de sua paternidade foram mal resolvidas, pois sequer foram identificadas. Ele vive a agonia constante de quem ou sofre e quer esquecer, ou sofre ignorando a própria dor, sendo o alcoolismo e o uso de drogas apenas a tentativa de fuga mais óbvia. Óbvia e paralela ao alvoroço constante de sua vida, pois seu histrionismo parece denunciar alguém que prevê o futuro, quer modificá-lo, mas nem imagina como. Também acreditamos que muitos Eduardos reais formaram o personagem, visto o repertório de situações criadas por ele para conquistar o filho e a quantidade de hábitos antipáticos que mantém. No fundo, é um carente, mas um carente chato e agressivo.

Brás Cubas não transmitiu a nenhuma criatura o legado de nossa miséria. Eduardo fez questão de garantir o legado para seu filho Raphael, uma daquelas crianças que fariam a alegria de Charles Dickens.

Chama a atenção a narrativa em primeira pessoa feita por Bela. Ignoramos a intenção inicial de Garcia-Roza, mas parece autoanálise mediante o uso da escrita que algumas pessoas fazem com ou sem validação científica. Caso não queiram expor-se através da fala, escrevem. "Por que escrevo?", perguntou-se o escritor português Vergílio Ferreira (1916-1996). Dos motivos apresentados, dois afinam-se com o relato de Bela. O primeiro é a criação de um espaço entre a necessidade, a opressão, a dificuldade e o excesso. Tantas coisas sobrecarregam o indivíduo e tolhem-lhos movimentos que é preciso afastar o entulho para posicionar-se e tentar restaurar o equilíbrio, antes de cair, ser encoberto e perder a identidade. Identidade que Bela já não tinha muita, pois só na metade final do livro descobrimos sua idade. O segundo motivo apresentado por Vergílio Ferreira ― "...(escrevo) para evocar e fixar o percurso que realizei, as terras, gentes e tudo o que vivi e que só na escrita eu posso reconhecer, por nela recuperarem a sua essencialidade, a sua verdade emotiva, que é a primeira e a última que nos liga ao mundo" ― liga-se ao passado para preparar o futuro. Fazendo o balanço das situações vividas, e da forma como foram vividas, o indivíduo pode contar com um apoio valioso para sua conduta futura.

Evidente que se pisa aqui em terreno traiçoeiro. Dependendo da clareza com que Bela enxergou os fatos, seu discurso pode adotar rumos diversos. Marcel Proust asseverou que "uma verdade claramente compreendida não pode ser escrita com sinceridade", alertando a respeito do comprometimento do conteúdo da narrativa e contestando frontalmente Francis Bacon, para quem "a leitura traz ao homem plenitude, o discurso segurança e a escrita exatidão". Pouca coisa é mais inexata que o ser humano. Revendo o imutável, assumimos nossos erros e ajustamos a conduta futura ou viramos justiceiros e saímos em busca dos causadores de nossos males. Si o título do romance é Meu marido, fica fácil descobrir qual a opção da personagem narradora. Quando frequentávamos a missa católica, rimos ao ouvir um padre anunciando: "Semana que vem haverá confissão. Quem for se confessar, faça o favor de só contar os próprios pecados". Muitos psicólogos e psicanalistas devem conhecer profundamente a família do paciente antes de conhecer o próprio paciente.

Como quase fomos apedrejados por revelar o final do romance Equador, do português Miguel Sousa Tavares ― foi necessária proteção policial ―, limitamo-nos agora a uma distinção. O texto termina com intervenção externa. A história ainda desenrola-se, tanto na família de Bela, quanto em diversas casas pelo mundo.

Para ir além






Ricardo de Mattos
Taubaté, 7/6/2010

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