Hebreus e monstros, parte II | Guilherme Pontes Coelho | Digestivo Cultural

busca | avançada
63387 visitas/dia
2,0 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Inscrições | 3ª edição do Festival Vórtice
>>> “Poetas Plurais”, que reúne autores de 5 estados brasileiros, será lançada no Instituto Caleidos
>>> Terminal Sapopemba é palco para o evento A Quebrada É Boa realizado pelo Monarckas
>>> Núcleo de Artes Cênicas (NAC) divulga temporada de estreia do espetáculo Ilhas Tropicais
>>> Sesc Belenzinho encerra a mostra Verso Livre com Bruna Lucchesi no show Berros e Poesia
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
Colunistas
Últimos Posts
>>> Glenn Greenwald sobre a censura no Brasil de hoje
>>> Fernando Schüler sobre o crime de opinião
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Uma nova forma de Macarthismo?
>>> Metallica homenageando Elton John
>>> Fernando Schüler sobre a liberdade de expressão
>>> Confissões de uma jovem leitora
>>> Ray Kurzweil sobre a singularidade (2024)
>>> O robô da Figure e da OpenAI
Últimos Posts
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
>>> Ícaro e Satã
>>> Ser ou parecer
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Microsoft matando o livro
>>> A TV paga no Brasil
>>> O Presépio e o Artesanato Figureiro de Taubaté
>>> Change ― and Positioning
>>> Retrato de corpo inteiro de um tirano comum
>>> Arte e liberdade
>>> Literatura em 2000-2009
>>> Abdominal terceirizado - a fronteira
>>> Entrevista com André Fonseca
>>> O bom crioulo
Mais Recentes
>>> A Vênus Platinada de Irving Shulman pela Eldorado (1965)
>>> Missão: Matar! de Robert L. Fish pela Record
>>> Amanhã é Outro Dia (capa dura) de J. M. Simmel pela Círculo do Livro
>>> Pânico na multidão de George LaFountaine pela Record
>>> A Testemunha Ocular do Crime (capa dura) de Agatha Christie pela Círculo do Livro
>>> Assassinato no Campo de Golfe (capa dura) de Agatha Christie pela Círculo do Livro
>>> Os Cinco Porquinhos (capa dura) de Agatha Christie pela Círculo do Livro
>>> Livro Pensadores, Exploradores e Mercadores de Janice Theodoro pela Scipione (1994)
>>> A Noite dos Tempos (capa dura) de René Barjavel pela Círculo do Livro
>>> Elantris de Brandon Sanderson pela Leya (2012)
>>> Bellini E O Labirinto de Tony Bellotto pela Companhia Das Letras (2014)
>>> A Caminho Do Lar de Ellen G. White pela Fisicalbook (2017)
>>> Etiqueta Sem Frescura de Claudia Matarazzo pela Melhoramentos (1995)
>>> Livro O Jogo das Palavras - Aprendendo Português de Amélia Lacombe pela Brasiliense S.A (1991)
>>> Mar De Monstros de Rick Riordan pela Intrinseca (2009)
>>> O Prisioneiro de Anand Dílvar pela Sextante (2018)
>>> Noites do Sertao de Joao Guimaraes Rosa pela Nova Fronteira (1988)
>>> O Estranho e o Extraordinário de Charles Berlitz pela Best Seller
>>> Desenvolvimento Mediúnico de Edgard Armond pela Aliança (2006)
>>> Tubarão de Peter Benchley pela Record
>>> Livro Amor, Medicina e Milagres - A cura espontânea de doentes graves, segundo a experiência de um famoso cirurgião norte.americano. de Bernie S. Siegel pela Best Seller (1989)
>>> Gaijin de Marc Olden pela Record
>>> Educaco Doc de Luiz Bolognesi pela Modena (2014)
>>> Como Ler O Evangelho De Mateus de Ivo Storniolo pela Paulus (1991)
>>> O Riso dos Velhos Deuses de Frank Yerby pela Record
COLUNAS

Quarta-feira, 17/11/2010
Hebreus e monstros, parte II
Guilherme Pontes Coelho
+ de 3500 Acessos

Dorothy acorda do desmaio. Volta ao Kansas, à fazenda onde vive com seus tios Henry e Emily e seu cachorrinho Totó. Enquanto desmaiada, imersa no seu mundo psíquico, Dorothy realiza uma jornada no mundo mágico de Oz, uma terra que desconhece, onde há bruxas bondosas e malvadas e magos charlatães. Com a ajuda dos amigos conquistados durante o caminho, Espantalho, Leão Covarde e Homem-de-Lata, e de sua psicomistagoga, a bruxa Glinda, ela volta para casa. Acordada, exulta: "Não há melhor lugar do que nossa casa". A frase é a prece que Glinda a ensinou, prece que a faria voltar à fazenda. Ela está feliz.

A jornada de Dorothy n'O Mágico de Oz tem servido como exemplo à conquista da autoconfiança desde 1939, ano em que o filme foi lançado. Oficinas e manuais de roteiro confirmam. Leituras d'O Herói de Mil Faces, de Joseph Campbell, também. Uma delas, a famosa regurgitação de Christopher Vogler, A Jornada do Escritor.

Mesmo considerando que todos os avanços de Dorothy em sua jornada foram menos de sua responsabilidade que de seus aliados, uma abordagem mais rasteira do filme diria que ela venceu a si mesma, adquiriu confiança e fez o retorno da heroína à terra natal. Afinal, tudo em Oz eram projeções suas.

Porém, essas conquistas não emergem à sua consciência quando acorda em casa, no Kansas. Ela fica feliz por se ver livre de perigos, os quais enfrentou indiretamente. Além do mais, ela continua sendo tratada como incapaz pelos adultos com quem convive, como se viu no início do filme.

O filme é ótimo. Recomendado a todos, não importa a idade. Mas nele não há pouco heroísmo. O espectador fica aliviado ao ver a garota a salvo. Mas ela pouco controle exerceu sobre si durante a narrativa. Ela não cresceu.

Bem diferente da jornada interior de Dorothy Gale é a de Max Records. Max é o protagonista do filme infantil Onde vivem os monstros (2009), dirigido por Spike Jonze. O filme é inspirado no livro homônimo do americano Maurice Sendak, lançado em 1963, publicado aqui em 2009 pela Cosac Naify (traduçao da Heloisa Jahn).

Lembro que, quando lançado, o filme foi muito criticado por ter a narrativa, em relação à do livro, um tanto hipertrófica ("verborrágica"). É preciso dizer que não havia como ser de outra maneira, já que o filme é um longa-metragem. A transposição da história do livro pra o filme, feita a rigor, daria um curta-metragem. O livro, cuja leitura, para um adulto, não deve chegar a meia-dúzia de minutos, para uma criança, no colo do pai, ouvindo o conto e vendo os monstros festejando com Max, é uma viagem de duração razoável (padrões infantis). O filme é o filme, o livro é o livro. Não posso me estender sobre a transposição de um para outro porque esta coluna não é um ensaio sobre interdisciplinaridade de linguagens. É sobre um filme, a história de um garoto que amadurece.

"Max, what's wrong with you? You're out of control!" ― é o que grita Connie, mãe de Max, depois do filho aprontar. Max é hiperativo, estabanado, agressivo. O filme começa e já o vemos brincando com seu cachorro, uma brincadeira um tanto hostil. Em seguida, tentando se enturmar com os amigos da irmã mais velha, de forma agressiva mas ingênua, Max sofre um revés ― os meninos, já adolescentes, desconsideram que ele ainda é uma criança e exageram no revide da guerra de bolas de neve. Max chora. E vai arruinar o quarto da irmã, destruindo até os presentinhos que deu a ela como demonstração de carinho. Mais tarde, à noite, depois de conversar com a mãe, Max apronta uma daquelas. Connie recebe o namorado em casa, para o jantar. Max, carente, tenta obter a atenção da mãe a qualquer custo. Arma uma cena, tira a paciência da mãe, que, irritada, aos berros, diz "You're out of control!" ― ao que ele responde, assustado, "It's not my fault!" ― e sai correndo para fora de casa, se embrenha no mato, pega um barco, veleja por dias, sob sol e chuva, até chegar na ilha onde vivem os monstros.

A mãe o trata como capaz. Conversa com ele. Embora saiba quem é o filho, um pestinha incorrigível, ela se espanta com a total falta de controle dele naquele momento. Ela confere autoridade a ele e espera que ele corresponda. Uma maneira sensata de lidar com crianças. Na conversa que teve com o filho antes do jantar, ele lhe conta uma história. A de um vampiro menino, cujos caninos já são de adulto. O vampirinho morde um dos prédios mais altos da cidade (os prédios andam, inclusive). Com a mordida, quebra os caninos, fica triste e chora. Aí aparecem outros vampiros, adultos. Perguntam a ele por que chora, já que seus caninos ainda eram de leite. O vampirinho responde que não, que eram seus caninos definitivos. Então os vampiros o abandonam, porque o garoto não poderá mais ser um deles. Acaba a história, fim. Nesta cena, mais importante que ler as entrelinhas da história que Max narra à mãe, é ver que o menino desenvolve uma história de improviso sobre solidão e angústia. Que quem conta a história é a criança e que a conta para um adulto. Há igualdade e respeito aí.

Max ainda é criança, contudo. Uma criança que não sabe o que fazer com tanta energia e tanta vontade de brincar. O seu aprendizado será justamente este, controlar-se e compreender-se. Ambas conquistas que não podem ser impostas. São endógenas.

Nota do Autor
Conclui na terceira parte. Leia também "Hebreus e monstros, parte I".

Nota do Editor
Guilherme Montana mantém o Montana, Blog.


Guilherme Pontes Coelho
Brasília, 17/11/2010

Mais Guilherme Pontes Coelho
Mais Acessadas de Guilherme Pontes Coelho em 2010
01. Nas redes do sexo - 25/8/2010
02. A literatura de Giacomo Casanova - 19/5/2010
03. O preconceito estético - 29/12/2010
04. O retorno à cidade natal - 24/2/2010
05. O mundo pós-aniversário - 3/2/2010


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Paulicéia Trilhas Brás
Lourenço Diaféria
Bomtempo
(2003)



Minuto de Graça 403
Alcino Almeida
Fonte Editorial
(2018)



An illustrated guide to relativity
Tatsu takeuchi
Cambridge
(2010)



Papiros Indianos -
Karin Czech
Giostri
(2010)



Iniciação ao Direito do Trabalho
Amauri Mascaro Nascimento
Ltr
(2015)



Livro Sociologia Cidadania, um Projeto Em Construção Minorias, justiça e direitos Coleção Agenda Brasileira
André Botelho e Lilia Moritz Schwarcz
Claro Enigma
(2012)



Livro Literatura Brasileira Diálogos Impossíveis
Luis Fernando Verissimo
Objetiva
(2012)



Curso e Corte de Confecção
Curso e Corte de Confecção
Artesana
(1978)



A era do Capital 1848 - 1875
Eric J Hobsbawm
Paz e Terra
(1982)



A Felicidade
Richard Paul Evans
Lua de Papel
(2013)





busca | avançada
63387 visitas/dia
2,0 milhão/mês