Fabio Weintraub, poesia em queda livre | Jardel Dias Cavalcanti | Digestivo Cultural

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Terça-feira, 9/8/2011
Fabio Weintraub, poesia em queda livre
Jardel Dias Cavalcanti
+ de 4700 Acessos

O poeta Fabio Weintraub resolveu descer aos infernos. Seu livro Baque, editado pela Editora 34 letras em 2007, mergulha o leitor num conjunto de poemas que, no mínimo, desfiguram ou tratam da desfiguração da vida humana. Antes dele, Baudelaire já exigia dos poetas que deixassem sua auréola de criadores do sublime na lama. Não é sem sentido, portanto, a existência de um poema como "Carniça" do mestre francês. Rimbaud e Verlaine também ousaram criar juntos um soneto em louvor à baixeza, decifrando as entranhas físicas do olho do cu de cada um.

Weintraub, embora não partilhe do gosto romântico pelo dejeto, não faz outra coisa que transplantar para dentro de seus poemas a queda, esse baque que a vida sofre em várias situações, irreversíveis, muitas delas, e que revelam estragos nauseantes. Da descrição de um quisto maligno a impregnar um rosto carcomido pela destruição pútrida, que faz "moscas brotar do ar", ao golpe desfigurador que atinge um velho: "dois ou três golpes/ no cofre do crânio (...) Seu pensamento agora vaza/ entram barulhos,/ a brisa/ e toda sorte de insetos", sua poesia está tão dura quanto o peso de uma vida que se destrói em queda livre.

A poesia de Weintraub não se furta da dureza necessária ao entendimento do mundo "aqui perto". Porque a vida está dura, como no baque que a vida impõe a cada queda, sua poesia também despenca dura. Ela abraça o inusitado, sem reticências, e parece fria, cortante, como o bisturi a tentar expurgar doenças ou agulhas a remendar rostos atingidos "por canivetes ou tiro", nessa vida que "num átimo" vai deixar marcas indesejáveis: "meu rosto será desfigurado (...) talvez fique cego".

O mundo ao redor do poeta não cheira bem, e se é de pólvora e sangue que nossas narinas se alimentam, a poesia deverá transplantar para dentro de si os miasmas que vazam de gangrenas físicas e desfigurações sociais.

Mas Baque não é um livro de poesia social, não faz uso de um discurso raso de denúncia da "realidade". Ele não deixa, no entanto, de guardar no seu próprio vocabulário o desconforto quase tétrico dos baques, mas sem "nenhuma concessão sentimental" ao leitor, como disse Maria Rita Kehl na orelha do livro. Sem apelos chorosos humanistas, o poeta aproxima sua lente num terrível zoom sobre feridas, da alma e do corpo, numa sucessão de desamparos atordoantes colocados à nossa vista.

Quando a vida está por um fio, a poesia não pode e nem deve estar por menos. Weintraub assume que quer entrar na sombra. Onde qualquer olho rejeitaria olhar, ele olha. Da exaustão ao abatimento fatal, só os poetas mergulham sem medo nessas zonas de breu. Não como sociólogo ou psicanalista, pois a poesia não quer interpretar. O poeta vislumbra como imagem o que, ali mesmo, no cheiro da carne que se decompõe, deve ser o lugar da possibilidade da matéria sobre a qual sua arte se compõe.

Podemos pressentir na própria ordem dos poemas um andamento que vai do mal ao pior. Da violenta "paixão do alicate/ pelos mamilos da gorda", passando pela "dor aguda" que "piora com o calor/ a luz e os movimentos", atingindo uma atmosfera desoladora onde "tudo acabará/ num mero ricto grotesco-/ remendo horrendo/ para fundilhos".

As duas epígrafes do livro, uma de Beckett e a outra um provérbio grego, dão a pista para o andamento, como no segundo caso, que diz que "a pior parte é a maior".

Atravessar os poemas numa leitura direta e sem descanso nos deixa atônitos, pois nossos sentidos se atordoam numa viagem vocabular extremada e em sua conclusão fatal e básica: a vida está imprestável no tanto que a corrompe. O poema que dá título ao livro "Baque" resume em si mesmo o sentido de todo o livro: estes poemas são "um buquê de seqüelas/ em fratura imposta". Um poema que exemplifica a dureza das imagens desse livro é "Um balanço" que deixo ao leitor como antegozo (é justa essa palavra aqui?) para o resto do livro:

UM BALANÇO

do qual só restasse a trave
sem assentos
suspensos por corrente
sem crianças oscilando
de pernas abertas
em meio a risos e gritos
nem adultos
atrás empurrando
para frente
para o alto
cada vez mais
longe
mais forte
até o
crânio aberto entre cascalhos e bem-te-vis

Maria Rita Kehl chama atenção para o fato de que neste livro Weintraub abandona as paisagens interiores, comuns em outras de suas obras, para se encontrar com o outro, exterior ao poeta, mas partícipe do seu mundo, buscando, assim, "outra intimidade, inesperada, com o que restou de espírito aos homens e mulheres desprotegidos, expostos às vicissitudes das ruas, das doenças, da loucura".

Ao abandonar um certo subjetivismo, Weintraub abraça as formas do mundo como matéria e dor. Ao espectador a dor é palpável, pois esta poesia crava em nós o verbo como "cicatriz que se alastra". Se a vida só faz o pior, a poesia de Weintraub "não faz por menos". Vida in extremis, poesia in extremis.

Para ir além






Jardel Dias Cavalcanti
Londrina, 9/8/2011

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