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Segunda-feira, 19/12/2011
Livros e Saúde
Ricardo de Mattos
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Dança dos Espíritos Superiores, por Elyane Klughist

"A literatura moderna não deve continuar sendo outro sintoma da neurose de massa atual. Ela pode muito bem contribuir para a terapia"(Viktor Frankl).

Registremos que rótulos nem sempre fazem jus àquilo que rotulam. Paira no ar certa má vontade em relação à literatura de auto-ajuda, que varia da indiferença à animadversão. Por conseguinte, caso o leitor entre numa livraria e sequer passe diante das estantes dedicadas ao tema — o que não deixa de ser, em geral, justificável — periga não conhecer o livro Felicidade Autêntica, de Martin Seligman. Vendido no Brasil como livro de auto-ajuda, trata-se na verdade de um handbook com as bases de uma das mais atuais vertentes da Psicologia, a Psicologia Positiva. Em 1998, Seligman alcançou a presidência da American Psychological Association - APA -, órgão máximo da Psicologia nos Estados Unidos da América, o que potencializou a repercussão de sua teoria.

Seligman observou que o trabalho clínico e a pesquisa acadêmico-científica privilegiaram a patologia, a enfermidade, a moléstia. Patrocínio polpudo era destinado, e ainda é, a trabalhos referentes à busca da cura de moléstias psíquicas. Desde os primórdios desta Ciência a ênfase teórica recaiu sobre casos clínicos como si parte significativa da população pudesse ser pautada por eles. Contudo, questiona Seligman, onde estão as pesquisas e estudos a respeito daquilo que promove a saúde e o bem estar humanos? Qual o material disponível referente não ao que cura ou previne, mas ao que favorece a qualidade de vida? Perguntas assim foram feitas no início de sua carreira científica e, para poder respondê-las, precisou incluir a abordagem promocional nas pesquisas que realizou concernentes à ... cura e prevenção. Si os profissionais consultados podiam citar capítulos inteiros de males codificados — CID, DSM -, engasgavam quando a perguntados sobre o que promove a saúde. Citando a lista de outro pesquisador, Seligman começa indicando que estes "promotores" encontram-se, por exemplo, no casamento — ou nas relações estáveis e duradouras -, no bom nível de instrução, na conciliação com o passado, nas boas expectativas para o futuro, na religião — pelo sentido que pode dar à existência -, etc.

Queremos, nesta última coluna de 2011, incluir o livro entre os fatores promocionais da saúde humana. Não afirmamos que quem lê mais vive mais. Entretanto, que pode viver melhor e dar mais vida à Vida. Percebemos nesta circunstância, inclusive, a oportunidade de estabelecer um elo entre Seligman e nosso querido Viktor Frankl, elo já evidenciado na epígrafe.

Defendemos que à boa prosa escrita deve proceder a boa prosa verbal. Ficamos irritados quando uma pessoa procura o serviço de atendimento oferecido pelo Centro Espírita ao qual estamos vinculados e a única coisa que obtém é o encaminhamento à biblioteca com uma indicação de leitura, muitas vezes de livros que nada dizem à sua realidade atual. Pregamos que o atendente que assim age desvirtua o trabalho para o qual voluntariamente propôs-se. Fica-nos a impressão de que pela cabeça de gente assim passam pensamentos como: "não sei a resposta para o teu caso, mas si você ler tal ou qual livro, pode ser que encontre alguma coisa que lhe sirva". Deparamos com esta atitude em nosso cotidiano, mas sabemos que não é nem localizada, nem própria apenas do trabalho dito religioso — pois o Espiritismo não é religião, ou ao menos não deve ser tratado como se fosse. Aos poucos familiarizados com a literatura espírita, traçamos um paralelo desta prática irresponsável: digamos que alguém nos procure querendo desabafar sobre os conflitos familiares que vive e, em resposta, nós simplesmente indiquemos-lhe Os irmãos Karamazov. "É um livro bom, leia que é capaz de você encontrar uma luz para o seu caso".

Primeira conclusão: para que o livro seja um fator de promoção da saúde, é necessário continuidade, convívio, entrosamento. Naqueles momentos em que, segundo Frankl, a vida exige uma resposta de nossa parte, e esta resposta é uma atitude, ler passa a ser paliativo. Ou mesmo, fuga. Como exemplo, a pessoa que perde um ente querido não quer ler sobre perda de entes queridos, mas aprender a conviver com a ausência material. Contudo, caso ela já tenha bagagem cultural e literária prévia, saberá lidar melhor com o distanciamento causado pelo desencarne.

Com o passar dos anos, começamos a fazer vista grossa para os livros de auto-ajuda doados à biblioteca que administramos. Por vezes, procuram-nos pessoas atingidas de tal forma pelas vicissitudes que mais admiramos-lha disposição pela leitura que lhe criticamos o gosto. Falamos aqui dos que procuram o livro por opção pessoal, não por omissão alheia. Caso perguntem-nos, então, sim, cumprimos nossa função e procuramos com elas algo melhorzinho. Certos males alvejam com tal intensidade que somente a literatura edulcorada, filtrada, a "literatura soro" pode ser de alguma valia.

Degraus acima da literatura de auto-ajuda, encontra-se a dos grupos anônimos (Alcoólicos Anônimos, Narcóticos Anônimos, Amor Exigente, etc.). Sem que uma necessidade pessoal nos movesse, porém incluindo o contato com estes grupos na nossa busca pessoal de significado, durante alguns anos tivemos com eles estreito e salutar contato. Resta-nos gratidão. Evocamos novamente Frankl. Segundo afirmou em um congresso literário, em texto constante da antologia Um sentido para a vida, a auto-revelação, ou o que quer que tenha auxiliado o escritor a superar — digamos — uma crise de desespero, pode ser oferecido ao leitor em mesma situação para ajudá-lo. "Se o escritor não for capaz de imunizar o leitor contra o desespero, deveria ao menos abster-se de inoculá-lo". A seu tempo, Allan Kardec advertiu: "Vós, cuja doutrina total consiste na negação do futuro, que compensação oferecereis para os sofrimentos deste mundo?".

E aqui podemos incluir uma segunda conclusão. O benefício que se pode esperar da literatura envolve, necessariamente, comprometimento. Tudo ler para tudo questionar e a nada aderir pode levar à dúvida sistemática e ao vazio existencial. Adesão, para nós, tem o sentido de trabalho conjunto, não de anulação pessoal em prol de suposto direcionamento por outrem. "Para nos libertarmos das ideias alheias, precisamos ter ideias próprias", asseverou Kardec. Si em nada acredito, si nada questiono atrás dos fundamentos, si para nós a opinião de um autor tem o mesmo peso da opinião de outro, para que ler? Sugerimos que o leitor debata com o texto, questionando o que lê com base no que vive, e vice-versa. Sugerimos, também, que o leitor forme sua opinião e não tenha medo de depurá-la no decorrer de sua existência; que não tenha medo de confrontá-la com conhecimento substancial.

Tão importante quanto educar as pessoas para que tenham acesso aos livros, é fazer com que os livros cheguem até elas. Falamos do livro impresso, pois o suporte eletrônico ainda é uma realidade distante e supomos que por muito tempo ainda a prática será oferecer computadores e livros de papel, para que depois, elas querendo, ser-lhes apresentada a alternativa. Recortamos e colamos num caderno diversas iniciativas assim, colhidos na imprensa escrita e na virtual. Como o caso da faxineira da cidade do Guarujá, que na sala de casa montou uma biblioteca para as crianças do bairro. Ou uma carroça de livros em São Paulo, que é colocada quinzenalmente à disposição de crianças, com direito a contador de histórias. No Estado do Maranhão, um jegue carrega e seu dorso mais livros do que um universitário médio já tenha lido em sua vida inteira. Tanto nos Estados do Rio de Janeiro quanto de Santa Catarina, soubemos de barcos que levam livros à população distante. Encontramos casos opostos. Em São Paulo, onde um dia ergueu-se a penitenciária do Carandiru, de triste memória, hoje encontra-se instalada uma biblioteca. Na cidade de São Francisco Xavier, a prefeitura transformou o prédio da biblioteca municipal em cadeia, dando a um dos munícipes o imenso trabalho de resgatar o acervo e mantê-lo à disposição dos leitores.

Coletamos casos multinacionais, também. O mais recente é o do empresário John Wood, que desde 1998 já espalhou pelo mundo nada menos que doze mil bibliotecas. Como não havia livros infantis em todos os idiomas, Wood assumiu a tarefa de providenciar a tradução e a edição. Além disso, promove a construção de escolas e a freqüência escolar. Pelo que entendemos, recorre ao apadrinhamento de crianças por pessoas e empresas, mas nunca ao sistema de bolsas. Exemplo igualmente estimulante é o de Greg Mortenson, cuja história está narrada no livro A terceira xícara de chá, escrito a quatro mãos com o jornalista David Oliver Relin. Este norte-americano dedica-se à construção de escolas no Afeganistão e no Paquistão, tendo seu trabalho reconhecido, aprovado e protegido pelas autoridades eclesiásticas islâmicas. Até onde nos é relatado, isso foi obtido mediante o respeito à cultura original das pessoas que pretendeu ajudar. Gestos com os de Wood e Mortenson favorecem desde o abandono da prostituição até a evolução da mentalidade.



Ricardo de Mattos
Taubaté, 19/12/2011

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