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Quinta-feira, 30/1/2014
Livros para um cruzeiro
Eugenia Zerbini
+ de 5500 Acessos

Que livro levar para um cruzeiro? Sendo a questão proposta no calor paulistano desse mês de janeiro, a resposta sugerida automaticamente é em favor de algo refrescante. Como a brisa mais fresca que irá soprar todas as noites no convés do navio, com rumo previsto para o sul do continente.

A primeira ideia recai sobre A guerra do sorvete, de William Boyd (1952 - ). Nós vamos derreter como sorvete no Sol, vaticinavam os comandantes dos exércitos inglês e alemão, combatendo por territórios na África Oriental (regiões correspondendo ao Quênia e à Tanzânia), durante a 1ª Guerra Mundial. As maiores baixas eram tributárias à insolação, desidratação, infecção intestinal e pesadas fardas européias. Uma guerra que foi além do armistício porque se esqueceram de avisar Nairobi de que a guerra havia terminado. Boyd foi o escolhido para dar continuação às aventuras de James Bond, agente secreto a serviço de Sua Majestade, saído da pena de Ian Fleming (1908-1964). Cumprindo essa missão Mr. Boyd deu seu recado através de Solo, publicado na Inglaterra e nos Estados Unidos no ano passado. Mas foi A Guerra do sorvete que rendeu a seu autor, em 1982, o John Llewelyn Rhys Memorial Prize e o colocou entre os finalistas do Man Booker Prize no mesmo ano.

Mas, não. A atmosfera de férias em alto mar se chocaria - quem sabe como o Titanic contra o iceberg, sabe-se lá - com as recordações da Grande Guerra (cujo início este ano completa um século). Há a possibilidade de reler Uma mulher pintada, de Françoise Sagan (1935-2004), uma vez que toda trama concentra-se em um cruzeiro no Mediterrâneo, no final do verão europeu. Os passageiros correspondem a certos clichês. A grande diva da ópera que envelhece e está em vias de perder a voz. Ela se faz acompanhar na viagem por um de seus jovens admiradores. Um jogador que ganha a vida nos cassinos do mundo. Uma mulher rica às voltas com um marido que a ridiculariza sempre que pode. Talvez por isso mesmo ela se esconda atrás de uma máscara de maquiagem pesada. Daí o título do livro. Uma mulher extremamente maquiada.

Fui admiradora da obra de Françoise Sagan, que descobri por meio do hoje clássico Bom dia tristeza. O livro, publicado em 1954, quando a autora tinha 18 anos, tornou-se sucesso imediato, na Europa e nos Estados Unidos. Em 1958 virou filme, dirigido por Otto Preminger (1905-1986) (que tinha o condão de tornar suas atrizes sempre mais bonitas). A estrela foi a linda Jean Seberg (1938-1979). Muito jovem, muito magra, muito loira, cabelos muito curtos, muito inconsequente. Tantos "muito", que me apaixonei. De Bonjour tristesse para os outros livros, foi um pulo. Através de sebos e bibliotecas consegui dois textos teatrais de Sagan, Castelo na Suécia e O vestido lilás de Valentina, e seus outros romances: Um certo sorriso; Você gosta de Brahms? (que, em 1961, também foi transposto para as telas, com Ingrid Bergman, Anthony Perkins e Yves Montand nos papéis principais); As nuvens que passam; Dentro de um mês dentro de um ano; O guardador de meus amores; A chamada(Chamade, que inspirou o perfume homônimo da Guerlain); Um pouco de Sol na água fria; O leito desfeito; A coleira; Fundo musical, entre outros. Françoise Sagan foi escritora profícua. Não obstante, em todos os seus títulos, ouve-se os ecos da uma mesma história, iniciada em Bom dia tristeza. Passeios em automóveis esportes na Riviera Francesa, conversas espirituosas regadas a vinho, algum jazz como música de fundo.

Por essas e outras fantasias correrem o risco de entrarem em confronto explícito ao que se espera de um cruzeiro hoje (passeio marítimo cada vez mais sem glamour, com a possibilidade de até um prosaico funk à beira da piscina do navio), decidi poupar o que me resta de encanto pelos livros de Madame Sagan. Afinal, a mesma, embora nascida Françoise Quoirez, para compor seu nom de plume emprestou o Sagan de um personagem do Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust (1871-1922): a princesa de Sagan.

Qual a razão, contudo, de perder tanto tempo na escolha de um simples livro para ler durante uma viagem? Livros e viagens têm que ser harmonizados, como os vinhos em uma refeição. Para um giro pela Grécia, Teogonia, de Hesíodo (Iluminuras, 1991, em tradução direta do grego de J.A.A.Torrano). Para uma semana em Veneza, durante o Carnaval (matéria de sonho, bailes com valsas e mazurcas, à luz de velas, em palácios debruçados no canal, com direito a passeios de gôndola à meia-noite), Lord Byron e seu Beppo, uma história veneziana. Em viagem pelo mar, caberia reler mais uma vez O senador e a sereia, de Tomasi de Lampedusa (1896-1957), e encantar-se de novo com a história do culto senador italiano que, quando moço, passou um verão de paixão com uma sereia, enquanto se preparava para os exames de grego. Outra opção, ler Moby Dick, de Herman Melville (1819-1891), na bem cuidada edição da Cosac Naify, em que a formatação desigual da abertura dos capítulos faz referência ao movimento das ondas.

Meu olhar carinhoso, entretanto, passa pelas lombadas dos meus livros, uns emparelhados em prateleiras, outros empilhados ou abertos sobre minha mesa. Pois bem, dentro da mala desta vez irá um compacto Kindle, substituindo os volumes que costumava carregar. Sei que na estante menor do meu quarto, descansa um dos meus xodós: Hernani, a primeira peça de Victor Hugo (1802-1885), em edição ilustrada de 1843. Presente que ganhei de meu pai, quando conclui meu primeiro mestrado, no Rio de Janeiro.

A questão relevante não é mais que livro levarei ou deixarei de levar; ou aquele que baixarei em minha pequena máquina de ler. Frente ao meu Hernani de folhas douradas e capa de couro vermelho, o que se coloca é se, em época de Kindles, Kobos e IPads, sobreviverá a possibilidade de presentear alguém desse modo.


Eugenia Zerbini
São Paulo, 30/1/2014

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