Somos diferentes. E daí? | Daniela Sandler | Digestivo Cultural

busca | avançada
63387 visitas/dia
2,0 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Terminal Sapopemba é palco para o evento A Quebrada É Boa realizado pelo Monarckas
>>> Núcleo de Artes Cênicas (NAC) divulga temporada de estreia do espetáculo Ilhas Tropicais
>>> Sesc Belenzinho encerra a mostra Verso Livre com Bruna Lucchesi no show Berros e Poesia
>>> Estônia: programa de visto de startup facilita expansão de negócios na Europa
>>> Água de Vintém no Sesc 24 de Maio
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
Colunistas
Últimos Posts
>>> Glenn Greenwald sobre a censura no Brasil de hoje
>>> Fernando Schüler sobre o crime de opinião
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Uma nova forma de Macarthismo?
>>> Metallica homenageando Elton John
>>> Fernando Schüler sobre a liberdade de expressão
>>> Confissões de uma jovem leitora
>>> Ray Kurzweil sobre a singularidade (2024)
>>> O robô da Figure e da OpenAI
Últimos Posts
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
>>> Ícaro e Satã
>>> Ser ou parecer
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Guia para escrever bem ou Manual de milagres
>>> O Presépio e o Artesanato Figureiro de Taubaté
>>> A lei da palmada: entre tapas e beijos
>>> A lei da palmada: entre tapas e beijos
>>> A importância do nome das coisas
>>> Latrina real - Cidade de Deus
>>> Notas de Protesto
>>> Um imenso Big Brother
>>> O enigma de Lindonéia
>>> Breve reflexão cultural sobre gaúchos e lagostas
Mais Recentes
>>> Felpo Filva de Eva Furnari pela Moderna (2001)
>>> Crepúsculo dos Deuses de Robson Pinheiro pela Casa dos Espíritos (2010)
>>> Diagnostico Bucal de Silvio Boraks pela Artes Medicas (1996)
>>> A Construção Social Da Realidade de Peter L. Berger - Thomas Luckmann pela Vozes (1996)
>>> Playboy Edição Colecionador- 1975 -2003 - A História da Revista Em 337 Capas de Revista Playboy pela Abril (2003)
>>> Revista Sexy - Mari Alexandre - Outubro 1994 de Revista Sexy pela Abril (1994)
>>> Radiologia Odontológica de Aguinaldo de Freitas - José Edu Rosa - Icléo Faria pela Artes Medicas (1994)
>>> Dentística - Procedimentos Preventivos E Restauradores de Baratieri Cols pela Quintessence Books - Santos (1996)
>>> Histologia Básica de Junqueira e Carneiro pela Guanabara Koogan (1995)
>>> O Livro da Psicologia de Clara M. Hermeto e Ana Luisa Martins pela Globo (2012)
>>> Mulheres Públicas de Michelle Perrot pela Unesp (1998)
>>> Alma de Luz - Obras de Arte para a Alma de Joma Sipe pela Pensamento (2014)
>>> Além do Divã - Um Psicanalista Conversa Sobre o Cotidiano de Antonio Luiz Serpa Pessanha pela Casa do Psicólogo (2004)
>>> Brasil: Uma Biografia de Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling pela Companhia das Letras (2015)
>>> Lavoura Arcaica de Raduan Nassar pela Companhia das Letras (1997)
>>> O Diário de Anne Frank (Capa Dura) de Anne Frank pela Record (2015)
>>> Mapas Estratégicos de Robert S. Kaplan e David P. Norton pela Campus / Elsevier (2004)
>>> Perdoar Amar Agradecer de Carmen Mendes pela Luz da Serra (2022)
>>> O Anjo Pornográfico - A Vida de Nelson Rodrigues de Ruy Castro pela Companhia das Letras (2013)
>>> Livro Pena de morte - Coleção Lazuli de Maurice Blanchot pela Imago (1991)
>>> Livro A Colônia das Habilidades de Liriane S. A. Camargo pela Rima (2015)
>>> Memórias de Vida, Memórias de Guerra de Fernando Frochtengarten pela Perspectiva (2005)
>>> Os Segredos da Maçonaria de Robert Lomas pela Madras (2015)
>>> Livro Como Elaborar Projetos De Pesquisa de António Carlos Gil pela Atlas (1993)
>>> Incríveis Passatempos Matemáticos de Ian Stewart pela Zahar (2010)
COLUNAS >>> Especial Guerra dos Sexos

Quarta-feira, 30/1/2002
Somos diferentes. E daí?
Daniela Sandler
+ de 8900 Acessos
+ 4 Comentário(s)

Alguém terá de me convencer de que eu devo levar a sério essa história de guerra dos sexos. O tema rende ótimas piadas, não há dúvida – da memorável novela da Globo, com Fernanda Montenegro e Paulo Autran, à mais recente coluna de meu colega Rafael Lima, sem contar os inúmeros exemplos hilários de que vocês, leitores, irão se lembrar ao pensar no antagonismo entre homens e mulheres.

Não que humor não seja sério – aliás, pode ser uma das formas mais eficazes de comentar criticamente assuntos importantes. Nem sempre, porém – às vezes, assim como charutos, uma piada é só uma piada. Em relação ao antagonismo dos gêneros, se decantarmos a gozação, não sei se sobrará muito mais do que esquetes engraçados – além de um fundinho amargo, talvez...

Historinha sem fim

Juro que tentei levar a questão a sério. Pensei nas principais contribuições ao entendimento do tema - por exemplo, o feminismo. Recapitulando sua versão dos fatos: quase todas as sociedades são patriarcais, e a influência masculina se estende da dominação física à hegemonia cultural – a História e a Bíblia foram escritas por homens, e somos impregnados pela visão de mundo machista desde o berço, tanto na formação intelectual quanto religiosa. Nessa linha, as relações sociais, as características pessoais e os laços familiares seriam moldados pela opressão masculina – sem contar os mecanismos concretos de dominação, da força física à chantagem econômica. Não estou dizendo que isso não faz sentido – ajuda a entender muita coisa, e tem importância histórica (e prática) para a emancipação de muita mulher oprimida ou discriminada pelo chefe, marido, pai etc.

Mas essa historinha não dá conta de tudo, porque ignora nuances, contradições e particularidades, e encaixa todo mundo – homem e mulher – em estereótipos tão simplistas e preconceituosos quanto aqueles cunhados pelo machismo. Se tomada ao pé-da-letra, a crítica feminista é tão útil para entender a tal guerra dos sexos quanto aqueles livros que dizem que homens e mulheres são de planetas diferentes ou que nos dividem em “Ele”, “Ela” e “Nós”.

Boneca versus carrinho

Quando escapamos dos estereótipos – tanto os feministas quanto os machistas –, o que nos resta a dizer sobre diferenças entre homens e mulheres? Sim, claro, somos diferentes – mas diferença não significa apenas diferenciação sexual. Somos diferentes em inúmeros aspectos, somos similares em tantos outros, e não (apenas) porque somos homens ou mulheres.

Para a “guerra dos sexos”, no entanto, diferença é uma divisão binária – restringe a variação a uma oposição dual e maniqueísta. Rosa X azul, boneca X carrinho, delicada X tosco, irracional X racional...

Ora, a variação humana é muitíssimo mais rica que isso – muito mais rica, aliás, que outros reducionismos binários como adulto X criança, hetero X homossexual, teoria X prática, cerebral X emocional, físico X imaterial. O problema dos dualismos é que, além de reducionistas, enxergam a “diferença” como “oposição” – como antagonismo, exclusão, embate... como guerra.

Uma digressão triste: não só no caso dos sexos, muita gente ainda parece dar às diferenças essa conotação belicosa – é só pensar nos conflitos entre raças, religiões, nações e ideologias (não vou entrar, nesta coluna, na discussão das grandes e das pequenas diferenças – fica para outra vez). Mas, voltando a homens e mulheres, suspeito que boa parte das hostilidades mútuas tenha a ver com rivalidade – com a raiva que muita gente talvez sinta, sem perceber, de precisar do “outro”, de não ser auto-suficiente.

Quando um não quer, dois não brigam

Especulações à parte, a coisa mais fácil é transformar diferença em problema. E eu poderia dar mil razões humanitárias para mostrar que diferença não é problema, que deve ser respeitada, incorporada, talvez até celebrada. Mas começarei por uma razão simples: não devemos fazer da diferença um problema porque a diferença é inevitável e ubíqua. Quero dizer, se formos criar caso por isso, passaremos a vida brigando. Convivência, entendimento, união de esforços – nada disso é fácil, mas fica mais difícil quando há antagonismo e resistência.

Dualismos como a guerra dos sexos revelam, pelo elogio de um dos termos, o ódio à diferença – e abrigam o impulso de apagar a variação, de transformar tudo em “igual”. "Igual", claro, ao termo classificado como “bom”. O rolo compressor da homogeneização está onde a gente menos suspeita! E a possibilidade de libertação também. Uma das linhas esquecidas de Karl Marx dizia que, numa sociedade comunista, o direito, em vez de ser “igual”, teria de ser “desigual” – porque os homens são diferentes. Não é à toa que a França, onde se proclamou a igualdade dos homens, inventou outro mote famoso, o “Vive la difference”.

Não, ninguém ainda me convenceu a levar a guerra dos sexos a sério. Aliás, pensando bem, acho que nem mesmo as piadas têm me feito rir muito...



Daniela Sandler
Rochester, 30/1/2002

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Gostar de homem de Marta Barcellos


Mais Daniela Sandler
Mais Acessadas de Daniela Sandler em 2002
01. Virtudes e pecados (lavoura arcaica) - 9/1/2002
02. Nas garras do Iluminismo fácil - 10/4/2002
03. Iris, ou por que precisamos da tristeza - 24/4/2002
04. Somos diferentes. E daí? - 30/1/2002
05. Crimes de guerra - 13/3/2002


Mais Especial Guerra dos Sexos
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
30/1/2002
19h18min
Saca só esse trecho da entrevista da Betty Friedan ao Pasquim (22/04/1971) --- Flávio Rangel: "Você disse que está se informando sobre a posição da mulher brasileira. Que espécies de posições você já encontrou?" --- Betty Friedan: "Oh! Eu sei exatamente a piada que você está querendo insinuar. (...) Mas na questão das mulheres, nada de piadas. Não é necessário usar 'mace' ou gás lacrimogênio para reprimir as mulheres mesmo no meu país, basta tratar-nos como uma piada (...) Agora, eu levo a minha revolução muito à sério e eu tenho que brigar contra a falta de seriedade e por isso eu não vou responder à sua pergunta." --- Millôr Fernandes: "Essa não é uma maneira democrática de pensar. Isso quer dizer que se as mulheres estivessem em pé de igualdade com os homens, não haveria humor."
[Leia outros Comentários de Rafael Lima]
30/1/2002
19h40min
rafael, antes de mais nada, o que significa "pegar pilha"?
[Leia outros Comentários de daniela sandler]
31/1/2002
09h26min
Pigar pilha é tão somente ter o seu equilíbrio emocional alterado para um estado de maior excitação emocional às custas de algum agente externo (em geral, uma provocação proposital), causando reações exaltadas, apaixonadas ou destemperadas. Ou seja, passando recibo, vestindo a carapuça da provocação. Também se usa 'entrar na pilha', o verbo derivado 'pilhar' ou o adjetivo 'pilhada'.
[Leia outros Comentários de Rafael Lima]
31/1/2002
20h10min
Olá colega, fico surpreso em saber que a FAU continua produzindo celebridades intelectuais, nem vou citar Chico Buarque para não encher a tua bola. Mas voltando ao texto, justamente ontém comentava com um grande amigo que a Natureza deve ter criado dois humanóides distintos. Um racional e insensível, capaz de simplesmente fazer coisas.Outro, o oposto, mas não antagônico, capaz de sentir, exprimir o sentimento e meditar sobre as ações plausíveis antes que elas se materializem. Isso porque ele, meu amigo, queixava-se de sua esposa lastimar de coisas sem querer simplesmente resolve-lás. E ele, logicamente, queria terminar a discussão oferecendo uma solução. Pois bem, dado o panorama do mundo, ocasionado pela ação exclusiva dos governos masculinos, não seria o caso de obedecer a Natureza e compactuar os modos operantes deste dois serezinhos, diferentes mais comuns, a mulher e o homem? Melhor que isso fica! (ah! parabéns por esta coluna!)
[Leia outros Comentários de Eduardo Vianna]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Olhares Obscuros - Romance - Literatura
Marco M.W. de Castro Araujo
Ponto da Cultura
(2012)



Secretária uma Parceira de Sucesso
Stefi Maerker
Cosanec
(2007)



Eles Formaram o Brasil
Fábio Pestana Ramos
Contexto
(2010)



Estados Unidos - Guia Visual
Diversos autores
Publifolha
(2015)



Princípio da Conservação dos Negócios Jurídicos
Alexandre Guerra
Almedina
(2016)



Livro Literatura Brasileira Senhora Série Bom Livro
José de Alencar
Ática
(2003)



O altar supremo - Uma história do sacrifício humano
Patrick Tierney
Bertrand Brasil
(1993)



Brasil Atlântico: um País Com a Raiz na Mata
Enrico Marone, Julio Bandeira
Mar de Ideias Ibio
(2010)



Arigó - Vida, mediunidade e martírio
J. Herculano Pires
Edicel
(1966)



Um Século de Moda
João Braga
D livros
(2013)





busca | avançada
63387 visitas/dia
2,0 milhão/mês