40 com corpinho de 39 | Ana Elisa Ribeiro | Digestivo Cultural

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Sexta-feira, 2/5/2014
40 com corpinho de 39
Ana Elisa Ribeiro
+ de 5000 Acessos

Eu não tenho - ainda - 40 anos. Tenho quase. Nessa de achar que tenho quase, vivo arredondando pra cima. É nefasta a influência de certas regrinhas da matemática nas nossas vidas. Aprendi cedo, sei lá em que série, que quando passou de 5... pode arredondar pra cima. Por conta disso, vivo aumentando minha idade em 2 anos. Vira e mexe estou dizendo aquela frase assim "pô, tenho quase 40 anos, rapá!". Geralmente, é pra obter algum efeito de respeito ou "cala a boca".

Uma mulher de 40 anos é um mulherão. Ops, vamos dizer que uma parte delas o seja. Generalizar é sempre polêmico. O que é uma mulher de 40 anos? Melhorando a pergunta: O que é uma mulher de 40 anos, hoje em dia? Poxa, ela pode ser tantas coisas.

Conheço muita mulher de 40 anos que está no auge de sua beleza e de sua inteligência. Muito melhores do que eram aos 20, acrescendo ainda uma certa liberdade - inclusive financeira - de fazerem o que quiserem. Em compensação, conheço mulheres de 40 anos que parecem não ter saído do século XIX.

Repito: sou quase quarentona. Não deu ainda pra experimentar a dor e a delícia de fazer os 40, propriamente. Só que já dá pra sentir um cheirinho de realização. Isso aí. Vou chegar aos 40 como queria, ao menos em parte. Bem, na verdade, eu não fantasiava muito os 40. Gastava meu tempo de juventude verde imaginando como seriam os 30. Ter 30 anos, pra mim, era ser um "mulherão", fosse lá em que estilo fosse.

Mas também há tanto conflito nisso, mermão, que é difícil de falar. Vou chegar aos 40 em velocidade de cruzeiro na minha profissão. Isso aí. Fiz tudo o que devia fazer, em tempo hábil, e conquistei uma certa estabilidade. Vou chegar aos 40 mãe de um garotão de 12. Vou chegar aos 40 tendo viajado um pouquinho e tendo pra onde voltar, sem sustos. Vou chegar aos 40 com meus pais ainda vivos e juntos, que privilégio - e cada vez mais comum, por estarem vivos, e incomum, por estarem juntos. Vou chegar aos 40 tendo quebrado apenas um dedo mindinho - e não por falta de estripulias. Vou chegar aos 40 com boas lembranças dos 15, dos 20, dos 30. Isso é fundamental, não acham?

Vou chegar aos 40 com uma imensa rede de conhecidos, além da sensação de estar justa no meu tempo, sem muito delay. Vou chegar aos 40 sem sequelas graves. Chegarei aos 40 com alguns poucos segredos. Muito poucos. E vou chegar aos 40 com alguns amigos da vida inteira.

O que não conquistei aos 40? Muita coisa. O que uma mulher deseja ser aos 40? O conflito, pra mim, está nas questões que não puderam ser equacionadas. Infelizmente, uma mulher de 40 que se mantém sozinha e tem uma vida profissional razoavelmente bem-sucedida ainda passou pela provável tristeza de ter uma vida afetivo-familiar meio turbulenta. Ainda acontece? Sim. Principalmente hoje em dia.

Vivi o inferno de chegar em casa, cansada, depois de um dia inteiro de trabalho árduo e ter de enfrentar, ainda, além dos afazeres domésticos, um homem que se achava no direito de fazer beiço, cara feia e emitir um imbecil "você não me dá mais atenção". Nesse sentido, eu lançava logo um olhar fulminante para o meu filho pequeno, como que a lhe dizer: "não imite".

Uma mulher de 40 já viveu muitas coisas. Mas ainda vai viver outras tantas. Uma mulher de 40 tem chances de refazer tudo. Vez em quando, fico cá pensando que cada um de nós se casará ao menos duas vezes na vida. E essa chance ocorre ali pelos 30 e tantos ou 40. É que hoje uma mulher de 40 pode escolher. Ela está bem, voa solo e pode tentar de novo. Ela tem discernimento, se quiser.

Um amigo, dia desses, explicou, segundo sua teoria, por que uma mulher de 40 ouve tanto a piadinha: "vou te trocar por duas de 20". Segundo ele, os homens têm medo das mulheres de 40 porque elas podem comparar. Rá! Tempo de voo, estrada. Este presta, este, não. Mas, admito, a mulher de 40 ainda se engana. Não está livre de todos os infortúnios. Só dos mais evidentes.

Uma mulher de 40 pode dizer "vou ali e já volto". E pode não voltar, se achar que lhe apetece. Ou voltar cheia de ideias.

Mas estou falando de uma certa mulher de 40. Conheço muitas assim. Há outras, no entanto. Nos rincões do Brasil, há mulheres de 40 com rugas que diriam respeito a uma mulher com o dobro da idade. Há mulheres de 40 reféns de maridos violentos. Há mulheres de 40 reféns de tantas outras coisas. Há frustradas, humilhadas e apagadas. Silenciadas, que é diferente de silenciosas.

Quando eu tinha 20 anos, eu queria ser uma determinada mulher de 40. Por diversas razões, até que deu. Mas nem tudo ficou completo e certinho. Houve custo.

Eu não sei por que continuo arredondando minha idade pra cima. Há quem me dê menos anos do que eu tenho. Isso é comum, aliás. E não está explicado nos cabelos brancos - que despontam céleres - e nem em gordura localizada. Isso de se parecer com gente mais nova está no jeito, no sorriso, no olhar. Especialmente no olhar, acho. É que uma mulher de 40 pode recuar ou avançar, conforme queira. Pode se vestir num All Star ou num salto de grife. Ela pode.

Não acho que tenha chegado aos quase 40 com esgares de gente experientíssima. Falta muito ainda. Mas cheguei com fôlego para muitas tentativas. Os joelhos doem meio sem conserto, a cintura precisa ser remodelada, os vincos ao redor da boca denunciam, mas os encantos possíveis estão mais em riste do que nunca. Talvez porque uma mulher de 40 seja altiva e autônoma. Como sabemos, certa postura autônoma tem ares de charme e de decisão, duas coisas muito sedutoras.

Os 30 já vão lá atrás - e outro dia estava pensando neles, num esforço de memória. Os 50 ainda não se divisam. Os 40 são picos, cimos, cristas. Balzac é que não chegou lá pra experimentar.


Ana Elisa Ribeiro
Belo Horizonte, 2/5/2014

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