Wilhelm Reich, éter, deus e o diabo (parte I) | Jardel Dias Cavalcanti | Digestivo Cultural

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Terça-feira, 2/9/2014
Wilhelm Reich, éter, deus e o diabo (parte I)
Jardel Dias Cavalcanti
+ de 9300 Acessos

Como resultado de suas pesquisas com o "animal humano", Wilhelm Reich escreveu um livro que denominou Éter, Deus e o Diabo, traduzido e publicado no Brasil pela editora Martins Fontes. O livro trata da relação direta que existe entre as emoções, o funcionamento biológico da vida e a energia cósmica.

Para definir as atividades de Reich após o período freudiano, o melhor termo talvez seja o de biopsiquiatra. Reich pesquisa as atividades da psique humana juntamente com o funcionamento biológico da vida. Para ele não existe separação entre as atividades psíquicas e as biológicas. Elas se intercomunicam, se influenciando e se ligam, ainda, ao que chama de atividades cósmicas da vida.

Descobridor de uma suposta energia cósmica primordial, que denominou orgone, a energia que daria animação à vida, Reich desenvolveu a partir dessa descoberta pesquisas sobre os mecanismos que guiam a profunda relação entre as emoções, o comportamento das estruturas celulares plasmáticas e o funcionamento do cosmos.

Materialista em sua abordagem da existência, para Reich "a essência da vida é o funcionamento vital em si, que não tem nenhum significado ou finalidade transcendental". Este conceito de vida está relacionado às suas pesquisas anteriores sobre a análise do caráter segundo perspectivas freudianas. Avançando em alguns pontos em relação ao criador da psicanálise, para ele as neuroses humanas se cristalizam no próprio corpo, naquilo que ele denominou de "couraça muscular do caráter".

Sua visão radical da sexualidade levou-o a escrever um livro denominado A função do orgasmo, em que expõe a teoria de que o organismo sexualmente bloqueado é o gerador de todas as doenças psicofísicas do homem. A ausência de uma entrega sexo-emotiva livre de barreiras seria o gerador das neuroses, doenças corporais e atitudes sociais fascistas (da fofoca à criação de grupos racistas como o nazismo). O acúmulo de energia sexual não liberada numa relação sexo-emocional seria o gerador, inclusive, do gosto pela violência, pela morte, pela autodestruição, dentre outras atividades perniciosas ao organismo e à vida.

Contrariando a ideia de Freud de que existem duas forças antagônicas que guiam a natureza do homem, Eros (princípio da vida) e Tânatos (princípio da morte), Reich deduz a partir de suas pesquisas que o princípio da morte não é parte da natureza humana, mas é gerado por circunstâncias avessas à existência livre da expressão humana dos sentimentos e da sexualidade. O masoquismo, por exemplo, seria apenas um acúmulo de energia psicofísica não liberada pelas emoções e pela sexualidade livre que se volta contra si mesma. Ideia radical que mais tarde seria desenvolvida numa concepção de que o câncer é apenas o suicídio plasmático de células contraídas pela impossibilidade de viverem livremente seu movimento natural e cósmico.

A ideia de liberdade e de saúde (psicofísica) é para Reich, portanto, a de "uma vida sem couraças, que não procura um significado ou finalidade para sua existência, pelo simples motivo de que funciona de modo espontâneo, significativo e intencional, sem necessidades de mandamentos ou proibições". Para pensar essa liberdade, Reich cria uma "ciência da vida", que seria um instrumento para examinar e julgar a história humana de um ponto de vista diretamente ligado à relação do homem com sua vida biológica, social e cósmica. Essa ciência ele denominará Orgonomia, "ciência das leis funcionais da energia orgone cósmica".

Em Éter, Deus e o Diabo, Reich passa em revista todas as mazelas humanas, as perseguições ao pensamento livre e à violência histórica contra quem fez avançar a ciência cósmica, como foi o caso de Giordano Bruno (queimado vivo pela Santa Inquisição) e Galileu (proibido de lecionar e publicar suas ideias contrárias à visão metafísica da igreja católica). Sua ideia é de que existe uma "lógica interna de erros" na irracionalidade humana, sendo ela uma espécie de "ilusão que se revela na intolerância e crueldade". Essa lógica "atribui à natureza qualidades da estrutura humana que não podem ser encontradas num dado objeto da natureza".

Para Reich, racionalmente "o homem deveria ter estudado seu próprio organismo antes de qualquer outra coisa". Entendendo seu funcionamento enquanto criatura viva, com necessidades que contrariam a cultura e seus instrumentos de domesticação, edificaria uma sociedade mais livre, ou ao menos aberta à expressão dos sentimentos naturais.

Suas proposições criticam e contrariam as ideias metafísicas do homem e da existência. "A religião, com seus erros metafísicos em relação à culpa absoluta do homem (...) infiltrou-se nas esferas subordinadas da existência biológica, social e moral (...)". O resultado é que "a humanidade, cindida em milhões de facções, grupos, nações e estados, se dilacerou em acusações mútuas". Uma cultura da culpa se espalhou pela humanidade inteira adoecendo a sociedade em toda sua estrutura: a culpa é dos gregos, a culpa é do romanos, a culpa é dos judeus, a culpa é dos cristãos, a culpa é dos hereges, a culpa é da rainha, a culpa é do povo, a culpa é dos austríacos, dos russos, prussianos, a culpa é das máquinas, a culpa é dos proletários, a culpa é dos índios, etc. Isso é o que nós convencionamos chamar de história.

A resposta de Reich a essa cultura da violência é diagnosticar o organismo humano como doente. É na biologia do animal humano que a resposta a essa doença deveria ser procurada. Nem por isso Reich está alheio às investigações sociais, tais como as empreendidas por Karl Marx, que vê a interdependência entre o elemento social e o biológico - "o processo social era um processo da natureza", diz Marx.

A questão que Reich levanta é a seguinte: "Se todos os homens desejam a paz, então porque há sempre outra guerra assassina, contra a vontade e os interesses vitais da população global?" O que se deve fazer é compreender "a profunda aversão da pessoa média à perguntas que tocam o cerne de sua vida". As perguntas essenciais, as mais importantes, fazem tremer o homem comum. E são elas as que resolveriam os problemas de sua vida.

A vida foi pensada de forma errada, segundo Reich. As questões que foram colocadas sobre ela ou partiram de uma visão mecanicista ou metafísica. A ideia de que existe um ser sobrenatural que dá forma à vida seria para Reich apenas uma distorção da sensação provocada pela percepção da energia orgone cósmica. O anseio orgástico (reprimido) seria a origem deformada dessa percepção. E o encouraçamento das emoções no próprio corpo geraria o pensamento mecanicista.

O que Freud já havia percebido, Reich levou às últimas consequências. Para Freud, o sentimento oceânico, experimentado por muitos místicos, era apenas sublimação da energia sexual. É essa energia biopsíquica que Reich dizia ser Deus, ou o Éter. Em sua obra O assassinato de Cristo, disse claramente: "A força dita cósmica é a mesma que te habita entre as pernas".


Jardel Dias Cavalcanti
Londrina, 2/9/2014

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