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COLUNAS

Segunda-feira, 30/5/2016
Livrarias
Ricardo de Mattos
+ de 4800 Acessos

O papel e a tinta estão sob vosso controle, não as ideias” (Rabi Shallamo Ben Yeoshua).

Ouvimos dizer que na cidade de Aparecida do Norte, Estado de São Paulo, os visitantes e romeiros, principalmente os romeiros, não adquirem imagens que representam os sujeitos de suas devoções. Não compram nem adquirem, mas trocam. Aproximam-se da imagem que lhes agradou e perguntam ao vendedor – no caso, trocador? – por quanto ele “troca”. Parecerá à maioria mera questão vernácula sem conseqüência prática. Percebemos, porém, o escrúpulo do fiel ao evitar usar os termos “santo”, “santa” e “custo” na mesma frase, mercantilizando o sagrado.

Diante do sentimento de sacralidade que mantemos por alguns de nossos livros, somos tentados a equiparar nossos escrúpulos ao do romeiro. Certas obras atraem-nos com tal vigor que só nos falta bater um joelho no chão enquanto persignamo-nos. De nossa coleção, não há valor econômico que tire algum volume de nós, mesmo que seja uma brochura rabiscada a lápis. Ora, ninguém ofereceria fortuna alguma pela brochura encardida de um desconhecido, o que garante o sossego de nossa biblioteca.

Quem reside na cidade de São Paulo, ou para lá dirige-se com freqüência, poderá compreender nosso pasmo ao visitar a Livraria Cultura da Avenida Paulista. Certamente a variedade de livrarias nesta cidade surpreende qualquer apreciador do livro e da leitura. Todavia, para quem tem pouco tempo para deambular pela cidade, visitar a Cultura é o mesmo que adentrar uma catedral em detrimento daquela capelinha acolhedora e especializada. Das últimas vezes que lá estivemos, suspeitamos ter ouvido música de órgão.

Não perdemos o foco comercial das livrarias nem o respeito com os demais leitores, compartilhem eles, ou não, nosso amor pelos livros. Por mais que o autor o título instiguem, por mais que a edição seja caprichada e melhor o odor do livro aberto diante de nós, há um código de barras ou uma etiqueta de preço a devolver-nos à realidade. É difícil, também, que manuseemos demais um exemplar, para não o deixar amassado ou com marcas. Somos do tipo de leitor que procura o volume mais limpo e cuidado. Com pesar deparamo-nos com aqueles que ficaram sujos, sabendo que poderão ser recolhidos e descartados.

Em Taubaté, conhecemos a versão privilegiada da relação que, si comercial, pode tratar este aspecto com descrição. Houve época em que recebíamos o telefonema da funcionária de certa livraria anunciando a chegada de uma encomenda e de outros “que, talvez, interessem”. Noutro estabelecimento, as vendedoras sabem que preferimos olhar com vagar as prateleiras e deixam-nos em paz. Com esta tranqüilidade, pudemos encontrar o livro sobre a biblioteca de C. G. Jung. O filé da história é que nosso centro Espírita é proprietário de pequena livraria especializada no meio da cidade, livraria esta que se tornou a base de uma de nossas atividades atuais. No tempo das vacas gordas, acompanhávamos “em tempo real” os lançamentos. Sem contar a facilidade da caderneta...

Como leitor, e ocasionalmente como vendedor, acompanhamos os dois lados do comércio livreiro. Tratamos o leitor agora como gostamos de ser tratados nas outras casas, embora esta recíproca nem sempre se apresente.

A começar pela recepção. Quando estamos a sós e entra alguém, cumprimentamos com “bom dia” ou “boa tarde”, com voz alta e clara, e com a seguinte mensagem subliminar: “fique a vontade e, se precisar, chama”. Algumas pessoas sequer olham. Outras agradecem. Algumas pedem ajuda e arriscam rápida conversa sobre livros. Outras aproveitam a deixa e desfiam seus rosários, o que mantém certa especificidade de nosso atendimento. Por outro lado, ao entrarmos numa livraria, agradecemos e demo-nos por satisfeitos com um “bom dia”. Já sabemos que a pessoa de uniforme poderá consultar livros e preços caso o peçamos. Das poucas coisas que aprendemos nesta encarnação, uma delas é que o assunto da sessão está indicado na prateleira ou na estante. Procuremos um livro de Monteiro Lobato, sabemos que nossas chances serão maiores ao nos dirigirmos à estantes onde lemos as palavras “Literatura Nacional” ou “Literatura Brasileira”. Na livraria gerenciada pela companheira de nossos dias – a mesma que pertence ao nosso núcleo espírita -, os livros foram organizados segundo critérios de confrade anterior, de forma que sabemos onde localizar o pedido do cliente.

O lado patológico da recepção observa-se na grande livraria do shopping velho de nossa cidade. Do corredor somos obrigados a verificar onde estão os vendedores e estabelecer uma rota de fuga. Não é misantropia ou esnobismo, conforme poderemos comprovar em Juízo. Em dezembro passado, fomos seguidos dentro da livraria por diversos vendedores, até que a maioria deu-nos sossego. O último, contudo, ficou em nosso encalço como si fôssemos furtar algo. Nenhum livro possuía preço – e ainda não possui – de forma a forçar o contato com o funcionário. Ao menos três deles ofereceram-nos cestinhos idênticos ao dos supermercados. Pelo canto dos olhos, percebemos o quarto vendedor vindo em nossa direção para fazer o mesmo oferecimento. E por trás ouvimos uma moça falar-lhe: “Ele não quer!”. Atribuímos o desconforto ao proprietário da livraria e à crise financeira que nos assola. O proprietário deveria treinar seus vendedores para as especificidades do público. A comissão por venda pode ser ansiogênica diante da crise econômica. Nem por isso é agradável perceber-se seguido pelos corredores. Pela postura física e pelo gestuário do vendedor, captamos mensagens como: “escolhe logo”; “como enrola”; “quanto tempo vai ficar nisso”; “ele deve estar fazendo de propósito”. Respondemos com “sinto muito”, pois nossa busca era por livros, não por meias ou pão de forma.

Mencionamos “especificidades do público”, mas estamos prontos a rever estas palavras diante do crescimento de pessoas que procuram pelo “livro de capa azul”. Já lemos sobre este tipo de cliente, inclusive em colunas do Digestivo Cultural. Talvez a cor da capa varie, mas ficou-nos a impressão de ser o mesmo indivíduo que se propôs a ir de livraria em livraria, país a fora, perguntando aos vendedores sobre o livro com determinada cor de capa. Não existem as loiras do banheiro? Deve existir uma assombração para cada livraria, que desapareça após o vendedor virar-se para consultar o colega sobre o “livro de capa azul”. Um ser penado, que num livro com a capa desta cor encontrou o bilhete de despedida da pessoa amada e agora vaga tentando reverter o acontecido e readquirir o gosto pela vida. Ocorre que eles proliferaram...

Um senhor, com muita pressa, queria saber a respeito de livro lido por ele há muitos anos. Título, autor ou enredo foram esquecidos. Sabia somente dizer que se lembrava de um personagem médico... Restou-nos refletir sobre o que de fato ligou a pessoa à obra. Outras pessoas ficam inseguras diante de livros editados por mais de uma editora. Mesmo título, mesmo autor, mesmo começo de texto, mas um inocultável receio de adquirir o livro errado.

Não sabemos tudo a respeito do livro que procuramos – muitas vezes, sequer dos que possuímos – mas nosso interesse pode ser despertado por uma resenha, ela orelha ou pela quarta capa, pela situação do autor ou da obra num quadro maior. Nada saber a respeito do exemplar que temos em mão e mesmo assim adquiri-lo não foi muito freqüente em nossa trajetória.

Intuição, sim. Não expectativa de grandes revelações a respeito do ser, do destino ou da dor, mas de boa leitura. Já mencionamos em outras colunas que certos livros seguem-nos ou jogam-se diante de nós... Alguns garantem-nos ótimos momentos, outros são valiosos em nossas investigações. Entre os fiadores de bons momentos entre páginas, indicamos Linha M, de Patti Smith. Nada sabemos a respeito do movimento Punk, nem sabíamos a respeito da autora. Todavia, o anúncio da editora começou a aparecer diariamente em nossa página do Facebook e as resenhas sucediam-se. Adquirimos nosso exemplar e lemo-lo com gosto, aproximando-o, com as devidas ressalvas, d’A louca da casa, da espanhola Rosa Montero. Usufruída a obra de Smith, nada mais ouvimos falar dela. Outra experiência que rendeu um bom retorno, mas desta vez sob influência do preço, foi A décima - terceira história, de Diane Setterfield.

O ser ignora sua vulnerabilidade ao não conseguir identificar o que deseja. Esta é uma questão existencial, inclusive. Pior, a nosso ver, é a situação de quem outorga a outra o controle de sua leitura. Soubemos que isto existe. Ainda no Facebook, há quem poste a foto de um livro e pergunte “se ele é bom, se alguém gostou”. Já testemunhamos caos mais graves de pessoas perguntando, livro em punho: “eu já li este livro?”; ou “eu tenho este livro?”. Se você não sabe... Reconhecemos que nos tornamos exigentes e caturras com o passar do tempo e acalmamos nossa empáfia ao recordarmos quanto ainda falta aprendermos e de quanto ficaremos sem saber ao concluirmos esta encarnação. Todavia, tomar um livro e contar com o vendedor para saber si já o leu... Provável que fará a mesma pergunta dentro de alguns meses, diante do mesmo exemplar, após introduzir sua fala afirmando – em contradição – que “ama ler” ou que “lê demais”.

Entretanto, entendemos aqui a falta de respeito consigo. Não se grava de imediato tudo o que se lê, e cada releitura revela uma camada nova. A leitura preenche parte significativa de nosso tempo, de forma que aventar este esquecimento esnobe acaba depondo contra a pessoa.


Ricardo de Mattos
Taubaté, 30/5/2016

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