Empresa e consumidor: tentativa de aproximação | Adriana Baggio | Digestivo Cultural

busca | avançada
55773 visitas/dia
2,0 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Terminal Sapopemba é palco para o evento A Quebrada É Boa realizado pelo Monarckas
>>> Núcleo de Artes Cênicas (NAC) divulga temporada de estreia do espetáculo Ilhas Tropicais
>>> Sesc Belenzinho encerra a mostra Verso Livre com Bruna Lucchesi no show Berros e Poesia
>>> Estônia: programa de visto de startup facilita expansão de negócios na Europa
>>> Água de Vintém no Sesc 24 de Maio
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
>>> The Nothingness Club e a mente noir de um poeta
Colunistas
Últimos Posts
>>> Glenn Greenwald sobre a censura no Brasil de hoje
>>> Fernando Schüler sobre o crime de opinião
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Uma nova forma de Macarthismo?
>>> Metallica homenageando Elton John
>>> Fernando Schüler sobre a liberdade de expressão
>>> Confissões de uma jovem leitora
>>> Ray Kurzweil sobre a singularidade (2024)
>>> O robô da Figure e da OpenAI
Últimos Posts
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
>>> Ícaro e Satã
>>> Ser ou parecer
Blogueiros
Mais Recentes
>>> O Presépio e o Artesanato Figureiro de Taubaté
>>> A lei da palmada: entre tapas e beijos
>>> A lei da palmada: entre tapas e beijos
>>> A importância do nome das coisas
>>> Latrina real - Cidade de Deus
>>> Notas de Protesto
>>> Um imenso Big Brother
>>> O enigma de Lindonéia
>>> Breve reflexão cultural sobre gaúchos e lagostas
>>> Orson Welles
Mais Recentes
>>> Religião e Sociedade 11/2 - Outubro/1984 de Vários Autores pela Campus (1984)
>>> O Advogado Do Diabo de Andrew Neiderman pela Record (1999)
>>> Homem Em Queda de Don Delillo pela Companhia Das Letras (2007)
>>> Livro Literatura Estrangeira O Lado Bom da Vida de Matthew Quick pela Intrínseca (2012)
>>> Amendoa de Nedjma pela Objetiva (2004)
>>> Homem E O Discurso - A Arqueologia de Michel Foucault de Varios Autores pela Tempo Brasileiro (2008)
>>> Livro Literatura Estrangeira A última Música A História do Filme Estrelado por Miley Cyrus de Nicholas Sparks pela Novo Conceito (2010)
>>> Euclides da Cunha - Coleção Melhores Crônicas de Seleção por Marco Lucchesi pela Global (2011)
>>> Livro Literatura Estrangeira Elixir de Hilary Duff pela Id (2011)
>>> Seizing Destiny - How America Grew from Sea to Shining Sea de Richard Kluger pela Knopf (2007)
>>> Guia Visual: Folha De São Paulo: Europa de Vários Autores pela Publifolha (2011)
>>> Livro Eu vi a Mãe de Cristo - Biografia do Médico Dr. Fausto de Faria de Ronaldo Faria pela Associada (2011)
>>> A Cabana de Carla Neggers pela Harlequin (2006)
>>> Livro Biografia Mara Gabrilli Depois Daquele Dia de Milly Lacombe pela Benvirá (2013)
>>> No Bosque da Memória de Tana French pela Rocco (2009)
>>> Santos Dumont e a Conquista do Ar de Aluizio Napoleao pela Itatiaia (1988)
>>> Livro Pedagogia Parentonomics A criação dos filhos de maneira criativa e divertida na visão de um papai economista de Joshua Gans pela Cultrix (2010)
>>> A Invenção De Hugo Cabret de Brian Selznick pela Sm (2007)
>>> Livro Literatura Brasileira Veronika Decide Morrer de Paulo Coelho pela Objetiva (1998)
>>> O Lorde Supremo - Livro 3 - A Trilogia do Mago Negro de Trudi Canavan pela Novo Conceito (2012)
>>> Do Zero ao Infinito (e Além) de Mike Goldsmith pela Benvirá (2016)
>>> Livro Filosofia Não Espere pelo Epitáfio Provocações Filosóficas de Mario Sergio Cortella pela Vozes Nobilis (2014)
>>> Salamina de Javier Negrete pela Planeta Do Brasil (2013)
>>> Olinda - 2 Guia Prático, Históricfo e Sentimental de Cidade Brasileira de Gilberto Freyre pela Livraria José Olympio (1968)
>>> Organizacao Sem Medo, A de Amy C. pela Alta Books (2020)
COLUNAS

Quinta-feira, 23/1/2003
Empresa e consumidor: tentativa de aproximação
Adriana Baggio
+ de 5300 Acessos

Parece que quanto mais perto chegamos do futuro, mais nos voltamos ao passado. É só prestar atenção à volta para perceber uma tendência retrô em quase tudo, da moda à música, do design às novelas. Niemeyer está em alta com seu traço que lembra a arquitetura da cidade dos Jetsons - um futurismo visto pelos olhos das décadas de 60 e 70, presente no museu de Niterói e no NovoMuseu de Curitiba. A Maison Chanel acaba de apresentar sua coleção primavera-verão, toda baseada no estilo das melindrosas da década de 20. A Globo tem no ar duas novelas ambientadas na primeira metade do século passado, uma na década de 20 e outra na década de 30. E a propaganda, como um dos mais eficientes produtos da indústria cultural, não podia ficar de fora.

Justamente pela relação com a indústria cultural, a publicidade é um espelho do que acontece culturalmente em seu raio de atuação, seja esse raio restrito a uma cidade pequena ou ao planeta. Portanto, é natural que a publicidade aproprie-se dessas tendências para comunicar-se mais efetivamente com seu público.

Não que os filmes ou os anúncios publicitários estejam privilegiando a estética das décadas anteriores, como a moda ou a televisão, por exemplo. O retrô na publicidade é a volta a uma maneira "antiga" de fazer publicidade, que lembra os primórdios do varejo e da técnica publicitária. Antes das grandes redes de supermercados e das lojas de departamento, o contato do consumidor com o dono dos estabelecimentos comerciais era muito próximo. Era possível comprar farinha na mercearia do seu Manoel e ser atendido pelo próprio. Ou buscar três metros de fita no armarinho da dona Teresa e ela própria cortar e entregar o pacote. Essa relação dava segurança ao comprador. Se a farinha estivesse bichada ou se a fita fosse de má qualidade, era só reclamar diretamente com o dono da loja.

A quantidade de produtos despejados no mercado graças à revolução industrial cria a necessidade de estimular uma demanda maior para esses produtos. Aí entra a publicidade, nascida, ou pelo menos desenvolvida, pela exigência de comunicar ao maior número de pessoas possível as novidades disponíveis. A demanda estimulada pede que os pontos-de-venda se adaptem. Seu Manoel já não dá mais conta de atender ele mesmo todos os fregueses; d. Teresa já não consegue cortar e embrulhar fitas e botões sozinha. Surgem as lojas e os supermercados como conhecemos hoje: self-service. O cliente entra, passeia pelas prateleiras, escolhe os produtos que deseja, passa pelo caixa e paga. Seu Manoel está, na melhor das hipóteses, atrás de uma mesa no seu escritório, resolvendo os problemas inerentes a um comércio de maior porte. D. Teresa está em alguma feira de produtos para armarinhos, decidindo que tons de rendas e botões comprar para sua loja. Tanto um como outro não estão mais perto de seus clientes. Já não sabem se eles estão satisfeitos, se alguém casou, morreu ou teve filhos, se seus funcionários atendem bem. Os clientes estão abandonados à própria sorte.

O cliente que passa pela frente da mercearia do seu Manoel já não consegue ter contato com o dono da loja. Seu Manoel passa a não significar mais o que significava antes: credibilidade, simpatia, fiado, atendimento personalizado. O nome próprio deixa de designar uma pessoa e vira uma referência, como um nome de rua, ou nos melhores casos, uma marca. Essa marca pode vir a agregar todos os atributos que seu Manoel, a pessoa, passava para seus clientes. Para conseguir isso, a publicidade coloca o Manoel como garoto-propaganda de seu próprio negócio.

Depois de passar por várias fases - a dos depoimentos, como as estrelas do sabonete Lux, a fase dos clipes musicais para vender jeans, a das comparações, para as marcas de sabão em pó, a do humor, a da emoção e a do sexo - a publicidade retrocede para a fase em que os donos das lojas falavam de seus estabelecimentos. Há algum tempo que se comenta a angústia das pessoas em não poder mais contar com um atendimento personalizado. Os comércios de bairro vão sendo engolidos pelas grandes redes de hipermercados, lojas de departamentos e shoppings. O processo de compra está cada vez mais impessoal e o pós-venda é uma utopia, já que clientes insatisfeitos passam por uma verdadeira via crucis para conseguir resolver algum problema com produto ou serviço adquirido, mesmo com a proliferação de SACs. O que a publicidade - determinada pelas estratégias de marketing - procura fazer é passar uma sensação de personalização, de proximidade, que fisicamente não existe. É por isso - e aqui finalmente chego ao ponto-chave deste texto - que grandes empresas estão apelando para seus donos ou altos executivos (que substituem a imagem do dono) para reforçar a imagem de credibilidade de suas marcas.

O exemplo mais saliente desta estratégia é a campanha da Ford, estrelada pelo seu presidente, Antonio Maciel Neto, e que agora entra em sua segunda fase. Na primeira etapa o Sr. Antonio procurava convencer o público sobre as qualidades dos automóveis Ford e prometia que o cliente iria surpreender-se ao testar um carro da marca. Se isso não acontecesse, o consumidor receberia R$ 100,00. Nesta segunda fase, o Sr. Antonio fala das qualidades da Ford e dos seus carros, e aumenta o desafio para R$ 200,00.

Todo mundo sabe que é praticamente impossível entrar em contato com o presidente da Ford. Se você comprar um Ford e tiver problemas, ou ficar satisfeito e decidir ligar para falar com ele, com muita sorte vai conseguir chegar na secretária dele - e só. Mas o fato de o presidente estar na TV fazendo promessas ao consumidor passa a sensação de credibilidade - assim como fazia o seu Manoel com seus clientes da mercearia.

Na mesma linha, a campanha da Kasinski mostra seu dono pilotando uma das motos da marca. Tanto a Ford com seu presidente quanto a Kasinski com seu dono seguem a escola do comandante Rolim Amaro, o falecido proprietário e principal executivo da TAM. A diferença é que o comandante Rolim, no início das atividades da sua companhia aérea, ia cumprimentar pessoalmente os passageiros de seus aviões no aeroporto de Congonhas. Os clientes da TAM tinham acesso ao presidente através de e-mail, que não sei se era respondido por ele mesmo - talvez no começo até fosse.

Não sei se os clientes da Ford ou da Kasinski têm acesso aos seus garotos-propaganda, mas também não vem ao caso. O que é interessante observar é que, seguindo uma tendência geral de retorno a atitudes e estéticas mais antigas, talvez em busca da autenticidade e personalidade de outros tempos, a publicidade volta-se para técnicas consideradas ultrapassadas, com o objetivo de tentar conquistar maiores fatias de mercado. Ao ver o presidente da Ford, uma figura em um papel tão inacessível, fazendo promessas para você, tem-se a sensação de estar mais próximo de quem resolve as coisas por ali. Mesmo que de maneira ilusória, o consumidor tem a sensação de segurança, credibilidade, de que será atendido de forma pessoal e personalizada. Como se estivesse sentido atendido pelo seu Manoel, com respeito pelas suas necessidades e com a certeza de não ser lesado na transação comercial.


Adriana Baggio
Curitiba, 23/1/2003

Mais Adriana Baggio
Mais Acessadas de Adriana Baggio em 2003
01. Ser bom é ótimo, mas ser mau é muito melhor* - 24/4/2003
02. Aventuras pelo discurso de Foucault - 30/1/2003
03. Carga mais leve para Pedro e Bino - 8/5/2003
04. Apesar da Barra, o Rio continua lindo - 9/1/2003
05. Encontro com o peixe-boi - 16/1/2003


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




O Olhar Pedagógico Em Machado de Assis
Arnaldo Niskier
Expressão e Cultura
(1999)



Haroun e o Mar de História
Salman Rushdie
Paulicéia
(1991)



Contencioso Administrativo - o Processo Judicial
Guilherme Fabiano Julien de Rezende
Lumen Juris
(2017)



A Mão Morta
Paul Theroux
Alfaguara
(2011)



Livro Literatura Brasileira Manuscrito Encontrado Em Accra
Paulo Coelho
Sextante
(2012)



Uma Luz no fim do túnel 318
Ganymédes José
Moderna
(2010)



Fadas , Asas e Desejos
Anne Geddes
Alles Trade
(2008)



París
S. Pairault
Larousse
(1952)



A Propaganda Brasileira Depois de Washington Olivetto
João Renha
Leya
(2013)



Pat De Silver Bush
Lucy Maud Montgomery
Principis
(2021)





busca | avançada
55773 visitas/dia
2,0 milhão/mês