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Quinta-feira,
20/7/2017
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Apontamentos de inverno
>>> Entre as folhas dos pinheiros nos cemitérios, desponta um pontilhismo em tons de laranja do precoce anoitecer. Barracas de moradores de rua parecem curtir a suavidade de um pôr do sol praiano, e os últimos raios do dia encimam o edifício Queen Elizabeth. Emergidos das sombras e a elas retornando, assim surfamos, delirantes, nesta terra de subtropical indiferença.
por Elisa Andrade Buzzo
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Literatura, quatro de julho e pertencimento
>>> Uma lista, divulgada pelo site Nexo com base de dados do PublishNews, indica os livros mais vendidos do Brasil nos últimos anos. O campeão de vendas, Edir Macedo, seguido por Marcelo Rossi e um livro de colorir. Nenhum livro de poesia. Quanto a ficção, nenhuma obra escrita por brasileiros, apenas ficção de língua inglesa. Li essa lista no dia 4 de julho. Não há como desassociar um fato do outro. A literatura cria um senso de nacionalidade e fortalece a cultura de uma nação.
por Guilherme Carvalhal
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O Abismo e a Riqueza da Coadjuvância
>>> O conceito de lugar de fala - a ideia de que as perspectivas de cada qual são marcadas pela sua situação, pelos custos e riscos das suas ações, pelos seus recursos e ferramentas particulares - é produtivo; pode nos equipar para construir potencialidades e destruir posturas arraigadas. Diz algo sobre nós e nos estimula a atentar ao que os outros dizem de si - e também expõe os desníveis entre o que um e outro podem perceber.
por Duanne Ribeiro
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Os Doze Trabalhos de Mónika. 4. Museu Paleológico
>>> A sala se enchia. As caras a assustavam. Onde estavam os meninos barbados e as meninas de chinelo? Havia poucas meninas. E os meninos estavam de terno. Que juventude era aquela? Nas salas de aula, gostava de provocar. Um dia falou: "Esqueçam essa categoria de classe social, pois isso explica pouco da vida humana." Os alunos tiveram um treco, foi engraçado.
por Heloisa Pait
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Um caso de manipulação
>>> Em seu famoso prólogo a Dom Quixote de La Mancha, o autor, Miguel de Cervantes, fornece uma importante informação ao leitor: a de que ele, Cervantes, não é o "pai" da obra, mas sim o seu "padrasto". O leitor - ou "desocupado leitor", como o autor a ele se dirige no começo do texto - é pego de surpresa: como assim, padrasto? Abre-se, então, espaço para que se faça a inescapável pergunta: se ele não é o pai - ou seja, o criador - da história, quem o será?
por Celso A. Uequed Pitol
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Brasil, o buraco é mais embaixo
>>> Lá se foram quatro anos de muita turbulência. Muita coisa mudou. E a política? Houve troca de presidente, é verdade, mas voltou ao poder aquele partido que sempre esteve lá. Afinal, a história recente do Brasil ensina que não se governa o país sem fazer pactos. E um dos primeiros a exigirem que sua mão seja beijada é o PMDB. Está no poder desde 1985 e não deve sair tão cedo.
por Luís Fernando Amâncio
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Nós que aqui estamos pela ópera esperamos
>>> A primeira vez foi na biblioteca. Estava no campus da Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara. Havia passado em Ciências Sociais, mas seis meses depois abandonei o curso. Nada de sociologia, de política, de antropologia; descobri que queria mesmo era fazer Letras; então, fiquei na biblioteca do campus, pelejando para o próximo vestibular. Tinha 19 anos.
por Renato Alessandro dos Santos
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Retratos da ruína
>>> Como e quando foi arrancado o duplo caminho retilíneo de árvores da avenida Paulista? Suas copas, como triângulos, empinadas para cima, para o futuro, tão bem protegidas por uma estrutura de madeira; tal qual um grande prédio em construção. Provavelmente hoje não há nenhum exemplar delas, retratadas na aquarela de 1891 de Jules Martin, exposta no MASP na mostra "Avenida Paulista".
por Elisa Andrade Buzzo
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Os Doze Trabalhos de Mónika. 3. Um Jogo de Poker
>>> Poker. Então era isso. Poker. Ele jogava. Não jogava como um jogador, um Dostoievski, entregue. Não. Apenas apreciava o jogo. Era isso. A política! A aposta, o blefe. Saber as cartas que o outro tem... O poker, é verdade, havia se tornado mais popular ultimamente. Clubes de bairro, jogos online, cursos caros para crianças ocupadas e gratuitos para jovens em situação de risco. Era uma dessas febres que assolava o país de tanto em tanto tempo.
por Heloisa Pait
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Notas confessionais de um angustiado (VI)
>>> O tema do suicídio começa a ganhar bastante espaço na história, pois se torna uma obsessão de Fred, à medida que começam as aparecer referências sobre o tema em tudo que lê ou a que assiste. Analisei o tema em um dos ensaios na disciplina do mestrado e foi assunto recorrente em outras oportunidades dentro do curso. Por que inserir temas como esse na narrativa?
por Cassionei Niches Petry
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Os Doze Trabalhos de Mónika. 2. O Catolotolo
>>> Mónika subiu as escadas meio apreensiva com seu atraso, mas ninguém a esperava na porta da sala de aula. Abriu a sala, janelas, cortinas, botou o repelente na tomada e ficou esperando. Justificava-se. Era reposição de greve. Quem tinha carro, vinha. Quem morava na cidade, também. E naquele ano a evasão já se fazia sentir... Pior seria se não viesse ninguém... Mónika matou a charada na hora: catolotolo.
por Heloisa Pait
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A pós-modernidade de Michel Maffesoli
>>> Para Maffesoli, nossa era pós-moderna é marcada pelo que ele denomina de "tribalismo", em que as relações são formadas mais por um forte senso emotivo e menos pelas relações frias da sociedade industrial. Assim, o comportamento moderno cada vez mais converge para um modelo tribal, em que as pequenas aglomerações ganham força, superando o conceito de nação ou de povo. Então, surge um novo modelo, onde o laço afetivo é mais forte.
por Guilherme Carvalhal
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Um parque de diversões na cabeça
>>> Fui com a família ao Pedro II assistir a Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto em ação. Já havia ido em outras horas, mas como desta vez não houve igual. Ganhei os convites. Iria no domingo, de graça, mas com os ingressos nas seis mãos de minha família, para a gente ficar na plateia, logo abaixo daquela gota imensa no centro do teto do teatro ― isto é, com a filarmônica a tocar a poucos metros de distância, numa sinestesia entre os olhos e os ouvidos.
por Renato Alessandro dos Santos
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O que te move?
>>> A vontade, pois, de colocar em evidência o que merece... é que me move. É o meu "propósito", para utilizar o termo correto. Eventualmente, alguns dos meus trabalhos ou espaços na internet atingem uma grande repercussão - mas não é a busca da audiência que me move... Se assim fosse, haveria caminhos (aparentemente) fáceis a seguir.
por Fabio Gomes
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O dia que nada prometia
>>> Aquele dia prometia não ser nada demais e eu estava aproveitando cada minuto dele. E tudo ia bem, o dia estava agradável. Minha vida era boa e, o que me consola, eu sabia bem disso. Só que aí, no meio do plenário, o maldito do celular ligado, chega a mensagem. A desgraça da mensagem. "Vazou uma gravação com você pedindo propina". E o dia, que estava dentro do previsível, virou do avesso. O mundo veio abaixo...
por Luís Fernando Amâncio
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Julio Daio Borges
Editor
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