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Terça-feira, 13/5/2003
Trilogia Evil Dead
Nemo Nox

Sam Raimi é hoje cineasta celebrado, com sucessos de crítica como A Simple Plan (Um Plano Simples) e sucessos de público como Spider-Man. Mas sua carreira começou com filmes modestíssimos, que se tornaram cultuados e superestimados. É a trilogia Evil Dead, citada muitas vezes mas raramente avaliada criticamente.

O primeiro filme da série, The Evil Dead (EUA, 1981), conta a história de cinco amigos (dois rapazes e três garotas) que vão passar o fim-de-semana numa cabana na floresta. Lá encontram um livro antigo e uma gravação com a tradução de inscrições aparentemente indecifráveis. Inadvertidamente, eles ouvem a fita e despertam demônios que vão se apossando dos seus corpos, um a um.

Mas, apesar do tema, não se trata de um filme de horror. Pelo contrário, a violência exagerada lembra os desenhos animados de Tex Avery e a encenação infantilizada sofre forte influência de The Three Stooges (Os Três Patetas).

Pouca coisa acontece além de uma longa seqüência de pessoas sendo possuídas por demônios, transformando-se em criaturas nojentas e em seguida sendo mutiladas e desmembradas pelo herói Ashley, interpretado de forma extremamente caricata por Bruce Campbell, amigo de infância de Sam Raimi. No final, ele é o único sobrevivente, mas como convém ao gênero, há uma última cena que deixa em aberto seu destino: teria sido também vítima dos demônios ou foi somente um movimento de câmara mais ousado para terminar o filme com algum impacto visual?

Evil Dead II: Dead by Dawn (EUA, 1987) é uma das continuações mais estranhas da história do cinema, por dois motivos. Primeiro, em vez de dar continuidade à história, simplesmente o filme reconta a mesma trama com variações mínimas. Segundo, desmente basicamente tudo o que foi contado no episódio anterior.

Numa rápida introdução, ficamos sabendo como Ashley, novamente interpretado por Bruce Campbell, foi parar naquela cabana. Mas agora em vez dos cinco amigos temos somente um casal, e vários detalhes importantes são revisados, como a forma que o livro dos mortos é encontrado e os demônios invocados, ou o momento em que descobrimos que a ponte foi destruída e os personagens estão isolados na cabana maldita.

Sozinho por alguns momentos, Ashley protagoniza várias cenas que poderiam ter saído diretamente de desenhos animados, especialmente quando sua mão é possuída por um demônio (e posteriormente amputada pelo próprio Ash).

Como o roteiro pouco mais é que uma sucessão de vítimas para serem esquaterjadas, logo temos a visita de mais quatro personagens (a filha do dono da cabana, seu noivo, um guia e sua namorada) e a descoberta de um quinto (a mãe enterrada no porão, que ressurge ao ser também possuída pelas criaturas do além).

Segue-se muito sangue, muita gosma, e muita violência cartunesca, com destaque para o olho demoníaco que sai voando de uma cabeça possuída para entrar diretamente na boca da mocinha que grita. Assim como no episódio anterior, este também termina com a história em aberto, com Ashley sendo transportado através de um túnel mágico até a Idade Média, onde tem que combater demônios novamente.

Quando Sam Raimi parecia finalmente ter deixado para trás os tempos de Evil Dead (que não deveria render mais que um curta-metragem mas que ele transformou em dois longas), e apesar de já contar com um filme interessante no currículo, Darkman, ele voltou à série com Army of Darkness: Evil Dead 3 (EUA, 1993).

Mais uma vez reconta o que aconteceu nos filmes anteriores, e mais uma vez a história é desmentida e modificada sem pudores, desde de detalhes sem importância (como a namorada de Ash, interpretada por Betsy Baker no primeiro filme, por Denise Bixler no segundo e por Bridget Fonda no terceiro) a acontecimentos fundamentais (em Dead by Dawn, Ash chega na Idade Média matando demônios e é logo celebrado como salvador, em Army of Darkness ele não encontra demônio algum e é capturado como inimigo).

Desta vez, a ação não se passa na cabana da floresta, mas em castelos e florestas do passado, onde Ashley vai combater os mesmos demônios invocados pelo mesmo livro mágico. O tom de comédia também é o mesmo, agora com mais citações a outros filmes. Temos a frase de The Day the Earth Stood Still (Klaatu barada nikto), o moinho e o monstro reconstruído de Frankenstein, os liliputianos de Gulliver's Travels, a criatura de duas cabeças de The Thing with Two Heads, os esqueletos animados de The 7th Voyage of Sinbad, e mais uma vez as palhaçadas de The Three Stooges.

Esse terceiro episódio ao menos oferece uma história que vai além da matança em série numa cabana isolada. O roteiro, porém, é ainda primário, e todo o interesse se centra novamente nos efeitos especiais, que, apesar de melhorarem a cada filme e serem muitas vezes engenhosos, freqüentemente revelam a falta de recursos mostrando os fios que movem os objetos e outras imperfeições.

Vista em conjunto, a trilogia Evil Dead é uma obra formalmente claudicante e narrativamente rarefeita. Pode servir como exemplo de filmes onde os realizadores se divertem mais na produção que os espectadores na exibição, mas não como modelo a ser seguido por quem quer contar uma boa história nas telas.

Nota do Editor
Texto gentilmente cedido pelo autor. Nemo Nox é editor do blog Por um Punhado de Pixels e do site Burburinho, onde este texto foi originalmente publicado.

Nemo Nox
Washington, 13/5/2003

 
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