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Sexta-feira, 3/11/2006
Por que eu montei um blog
Eduardo Carvalho

legenda

Eu montei um blog porque gosto de escrever e - isto é difícil admitir - de ser lido. Não sinto aquela compulsão, aquela obrigação quase fisiológica, da qual alguns artistas reclamam. Nem acho, aliás, que estou fazendo alguma coisa muito importante ou que tenho opiniões muito originais. Simplesmente acho legal. Acho divertido ir ao cinema, ler um livro, almoçar num restaurante, viajar, assistir a um jogo de tênis, e depois escrever alguma coisa sobre o assunto. É uma forma de passar o tempo. E que não substitui nenhuma atividade que gosto de praticar. Essa divisão entre escrever e viver é a mais boba. Coisas boas não se subtraem: se multiplicam.

Escrever me exige ficar atento ao que está acontecendo nos lugares em que vou, ao livro que estou lendo, ao filme, à revista. E essas experiências - se se pode dizer assim - ficam mais fortes, mais intensas. É difícil explicar isso para quem não tem o hábito. Mas acredite: quem escreve precisa pensar em frases, em palavras, que descrevam a sensação de alguma coisa - de um sambão em Pinheiros a uma praça em Gilgit. Não é uma obrigação. Mas um conjunto de palavras às vezes aparece naturalmente. E é legal: depois você as desenrola em frases e vira um texto, um post. E você - que de repente nem sabia direito o que pensava sobre sambão ou o Paquistão - acaba sabendo. Escrever é uma forma de se conhecer melhor.

Mas, dito isto, um diário talvez fosse a melhor opção - e não um blog. Só que diário - tenho os meus, aliás - tem um problema fundamental: você não publica. Não enquanto está vivo, normalmente. É muito mais íntimo e, por isso mesmo, exige menos, cobra menos do autor. Você pode escrever besteiras enormes e supostamente muito bem justificadas. E pior: pode acabar se convencendo delas. Ninguém corrige os problemas matemáticos que resolveu sozinho. Acho que é importante expor o que se pensa, portanto, por dois motivos: porque assim você escreve com mais cuidado, pensando melhor e, de quebra, compartilha suas idéias com quem está interessado pelos mesmos assuntos - e que pode te ajudar a pensar melhor.

E é aí - no segundo motivo - que está toda a força da Internet. É muito fácil, agora, descobrir quem se interessa pelas mesmas coisas que você. É por isso que esses sites de relacionamento - Myspace, Facebook, Orkut, etc. - explodiram. Aliás, é por isso que os blogs explodiram. Porque é uma forma de ligar pessoas que tenham alguma afinidade - independentemente de onde elas estejam. Nem os blogs nem a Internet estão mudando a natureza humana: as pessoas sempre quiseram ter informação e sempre quiseram conversar sobre o que pensam sobre elas. Mas tudo isso está agora muito mais fácil. A gente continua igual, mas o mundo, felizmente, tem melhorado.

Eu mesmo, sinceramente, até há pouco tempo lia poucos blogs, de amigos que escrevem muito bem e são divertidos, como o FDR, o Alexandre Soares, o Rafael Azevedo, o Rafael Lima. Nunca me interessei muito por blogs de gente que eu não conhecia. Mas aí descobri - por recomendação do Julio - o Brad Feld, o Fred Wilson, o Mark Pincus, por exemplo, e uma série de venture capitalists e empreendedores que escrevem diariamente sobre assuntos de suas empresas, sobre maratonas, sobre um jantar, um show de rock, um jogo de beisebol. E me convenci de que pode ser legal acompanhar o blog de alguém que escreva sobre vários assuntos, inclusive pessoais. Ferramentas como o Google Reader, claro, ajudam muito.

Eu tenho um blog simplesmente porque faz todo sentido. (Um dia, aliás, todo mundo vai ter um blog. O Orkut - que todo mundo tem - é uma versão piorada de blog.) Eu escrevo, publico, recebo comentários, dicas, reclamações, etc. É a ferramenta mais prática para tudo isso. Posso estar em Lima ou em Talin e escrever do mesmo jeito. Pode ser um texto curto, longo, com fotos, imagens, na hora em que eu quiser - como eu quiser. Isso parece bobo: mas é exatamente o que os jornalistas nunca puderam fazer num jornal impresso. É uma liberdade quase absoluta, com a qual, claro, é preciso saber lidar. Eu aproveito o conforto para escrever de onde estiver, mas, por exemplo, tenho publicado todo dia, e com certo padrão nos posts. Tento manter a identidade do blog e - ao mesmo tempo - surpreender o leitor diariamente. É o desafio.

Inaugurei meu blog em maio como uma espécie de presente de aniversário. Comecei porque - depois de quase deixar o Digestivo - de vez em quando precisava escrever alguma coisa. Não imaginava que fosse me divertir tanto. Recebi dicas ótimas, leitores inesperados, e tenho escrito sobre assuntos que - não fosse o blog - talvez eu prestasse menos atenção. Não me lembro de outro presente de aniversário mais bacana. Aliás, não me lembro de outro presente de aniversário que tenha me dado. Espero que daqui a dez anos me lembre deste.

Eduardo Carvalho
São Paulo, 3/11/2006

 
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