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Quarta-feira, 8/7/2015
A coisa tá preta
Cassionei Niches Petry

O racismo, até há pouco tempo dissimulado no Brasil, ganha proporções alarmantes em pleno século XXI, graças à imbecilidade do lado negro da internet, de gente que, na escuridão do anonimato e dos perfis "fakes", destilam sua dose de veneno nas redes sociais.

O caso mais recente aconteceu com a excelente jornalista Maria Júlia Araújo, apresentadora da previsão do tempo no Jornal Nacional, responsável por nos avisar quando nuvens negras cobrem o céu da nossa pátria. Uma postagem do noticiário global no Facebook em que aparece sua foto foi alvo de injúrias raciais como "sombra 3d", "volta pra senzala", "macaca", "urubú" (sim, com acento!), "a tela da TV tá preta?" Provavelmente todas foram postadas por perfis falsos, que foram apagados depois. De qualquer forma, os "prints" com as ofensas logo foram compartilhados e as pessoas de bem saíram em defesa da jornalista.

Denegrir a imagem de alguém já é um ato deplorável. Se for contra um afrodescendente, o problema duplica, tendo em vista o passado escravocrata no nosso país. Parece que voltamos à idade das trevas, a escuridão reina absoluta, a falta de conhecimento nos tira a luz e nos faz usar o preto, em luto pela morte do bom senso.

A propósito, o que contribui ainda mais para o ódio racial é o enfrentamento de questões que nada têm a ver com o racismo, criando um buraco negro que faz desaparecer os reais problemas que devem ser enfrentados. Podemos citar a perseguição ao uso de expressões que supostamente teriam se originado do preconceito, como as usadas nesta crônica, mas que não têm cunho racista. Mentes obscuras, ou seja, sem luz, que propagam o politicamente correto, desejam nos fazer pensar o contrário, colocando essas expressões na lista negra, o que acaba acirrando ainda mais as tensões raciais.

Essas palavras não são relacionadas à cor da pele e sim à ausência de luz. Inclusive as religiões africanas fazem a distinção entre "magia negra" e "magia branca". "Nuvens negras", por sua vez, é prenúncio de tempestades. Nada, absolutamente nada a ver com raça ou etnia, pois sua origem são anteriores à escravidão dos africanos. Vale lembrar que outros povos também foram escravizados, inclusive negros tinham os seus escravos, os vendiam e os jogavam dentro dos porões escuros dos navios.

Escrever ou dizer que alguém é "a ovelha negra da família", que "o governo não revela a caixa-preta da corrupção", que "a peste negra matou pessoas", que "este texto é de humor negro", que "o mercado negro deve ser combatido", etc., bem como falar em "elefante branco", "me deu um branco", "o alvo" (que usei antes) é diferente de dizer "serviço de negro", "aquele sujeito de cor", "um preto de alma branca" ou "não tenho preconceito, até tenho amigos negros!", essas sim expressões que deveriam ser eliminadas do nosso vocabulário. Corrigir quem diz que vai "comer uma nega maluca" não acaba com essa mancha negra chamada racismo, bem pelo contrário, só atrapalha a luta.

Não vou elencar minha relação com os negros, mesmo que alguém ainda feche seus olhos e veja só a escuridão, não procure entender meu artigo e me acuse de algo que não sou. Basta dizer que minha esposa e minha filha são negras e me dão luz, me livram de qualquer magia negra que tenta me derrubar ou da bile negra (para quem não sabe, a melancolia) que de vez em quando me joga num poço escuro. Elas são a bola preta número 7 do bilhar e me fazem vencer no jogo da vida.

Cassionei Niches Petry
Santa Cruz do Sul, 8/7/2015

 
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