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Terça-feira, 30/7/2002
Ecos Musicais
Waldemar Pavan

Pequeno roteiro de aquisição (ou não) de CDs de Nova Bossa Nova:

Bossa Cuca Nova Revisited Classics
Alexandre Moreira, Marcelinho Dalua e Mário Menescal editaram, mixaram e masterizaram este disco absurdamente delicioso - desde a escolha de repertório, músicos, músicas e intérpretes, foi tudo de bom - para quem chapa em discos com tratamentos musicais diferenciados, no encarte a recomendação: "OUÇA NA PRESSÃO!!!" e ainda a observação: "Escute com fone de ouvidos, isto vai expandir sua mente". Realmente. Repertório abarrotado de clássicos da Bossa Nova com tratamento de mixagem digital-acústica. Na sessão cantores, Carlos Lyra comparece em duas faixas, "Maria Moita" e "Influência do Jazz", arranjos deliciosamente sofisticados, Sylvio Cesar comparece brilhantemente em "Consolação" (sim, é aquele mesmo Silvio Cesar que cantava a mela cueca "pra voce eu guardei, o amor mais bonito...", só que em "Consolação" ele bota pra quebrar, zero de lamúria). Na sessão grupos, dominio total d'Os Cariocas que também comparecem em duas: "Berimbau" e "Só Danço Samba". O quesito cantoras é mais variado, começa com a mãe do Bena Lobo, Wanda Sá, arrasando meu coração em "Meditação", depois é a vez de Astrid com a incisiva "Vai de Vez", Chris Dellano em "Se Todos Fossem Iguais A Voce" retirou toda a babação de ovo que sugeriam as versões anteriores desta música. Claudia Telles está trip hop em "Samba de Uma Nota Só". O disco ainda tem uma versão instrumental para "O Barquinho" com o pai Mário, ninguém menos que, putz, Roberto Menescal, aquele mesmo que resolveu tocar tudo igualzinho a "O Barquinho".

Bossa Cuca Nova & Roberto Menescal: Brasilidade
Acabou-se o que era doce, Roberto Menescal vislumbra o Bossa Cuca Nova como mais um empreendimento musical para ele agenciar no Japão, Estados Unidos e Europa. Sua participação neste último disco dos meninos do BCN tranformou-os em mais um pastiche da indústria de intenções mercadológicas internacionais de Roberto Menescal, que em tempos idos era um bom músico mas alucinou geral pela fissura e carência de outros povos por produtos musicais da era Bossa Nova, que de genêro passou à condição de repertório - então, o que era para ser mais um disco do Bossa Cuca Nova resultou em mais um disco do Roberto Menescal com edição, mixagem e masterização da moçada do BCN. Eu não tenho mais paciência para ouvir Roberto Menescal arranjando e tocando invariável e infinitamente do mesmo jeito, sempre compro meus discos (este ganhei, se fosse para comprar não comprava de jeito nenhum e só recomendo a compra para quem gosta de muzak). As músicas são todas instrumentais, exceto "Rio" com Chris Dellano e "Garota de Ipanema" por Ed Motta, que é outro que já estou bem enjoado de seus malabarismos vocais. "Rio" com Chris Dellano é a única super bacana, no disco ainda tem "Nana", "Surfboard" e "Bye Bye Brasil", que são músicas super legais em suas gravações originais, mas que não escaparam à pasteurização do tipo exportação por Roberto Menescal (afê é pouco). Tome muito cuidado na hora de comprar, disco bacanérrimo do Bossa Cuca Nova é o "Revisited Classics", o que tem um fusca conversivel na foto de capa, a arapuca "Brasilidade" é muito mais fácil em ser encontrada por que é o mais recente. Fuja de "Brasilidade" e abrace afetuosamente "Revisited Classics". (Aviso por que a critica especializada em música foi só elogio; para o primeiro disco foram corretos os elogios, para o segundo foram hiper dimensionados.)

Celso Fonseca & Ronaldo Bastos: Juventude/Slow Motion Bossa Nova
Talento, bom gosto e musicalidade é o que sobra para esta dupla de compositores/arranjadores. Este não é um disco para se ouvir na pressão: introduza em your CD-player e vá escrever ou responder alguns e-mails, a sonoridade vai te pegar aos poucos; se não rolar empatia total na primeira audição, repita a operação escrever/responder e-mails que, desta segunda audição, tú não escaparás. Trata-se de um disco arrebatador de cabo a rabo, o que de melhor ouví em criação de Bossa Nova pós-Bossa Nova. Se espera ouvir temas já gravados do repertório pode ir tirando o cavalinho da chuva, porque aqui quase tudo é inédito; só não é um trecho incidental de "A Voz do Morro" (Zé Keti), incluido na música "La Piu Bella Del Mondo" e "O Que Restou de Nosso Amor" ("Que rest-t-il de nous amours", gravada por João Gilberto em "João"), belissima versão de Ronaldo Bastos. Todas as outras são criações inéditas da dupla e não vou perder tempo em reproduzir nomes, vou aproveitar o espaço para relatar o timaço de músicos participantes: Armando Marçal, Arthur Maia, Daniel Jobim, Eduardo Souto Neto, Jacques Morelenbaum, João Donato, Jorjão Barreto, Jota Moraes, Luiz Alves, Márcio Montarroyos, Nivaldo Ornelas, Marcos Suzano, Robertinho Silva, Vittor Santos e Walter Costa. Me responde com sinceridade: faz quanto tempo que voce não vê um disco com participações tão estreladas? De quebra ainda tem a envolvente voz da deliciosa Jussara Silveira dividindo os vocais com Celso Fonseca em "Feito Pra Voce". "Juventude/Slow Motion Bossa Nova" é um disco que você - além de conservar com carinho seu exemplar - deve estocar e sacar um volume sempre que precisar dar um presente bacana para uma pessoa idem. Este disco, somado aos CDs ainda disponíveis da dupla, ambos imperdíveis, "Sorte" e "Paradiso" encerra um projeto de trilogia para a dupla de compositores. Em "Juventude/Slow Motion Bossa Nova", Gabriel Zellmaister, Javier Llusa e Washington Olivetto, todos da agência W/Brasil, foram os parceiros financeiros que proporcionaram a viabilização deste trabalho. Já ia me esquecendo de dois importantes detalhes: o timbre de voz de Celso Fonseca, presente em todas as faixas, inicialmente se assemelha pra caramba com o timbre de Caetano, um pouco mais suave e menos rascante que a do baiano, mas esta impressão só bate nas primeiras audições, depois que você se acostumar esta semelhança desaparece totalmente.

Mart'nália - Pé do Meu Samba
Se você me contasse que esta reunião iria acontecer na música brasileira eu não acreditaria: Mart'nália em disco arranjado por Celso Fonseca e dirigido por Caetano Veloso? Inacreditável! O melhor de tudo isso é o disco em sí, tudo é surpreendentemente bom neste trabalho. Você já deve ter se tocado que Mart'nália é filha de Martinho da Vila, mas não desfruta de nenhum privilégio por isso, a moça compõe e trabalha intensamente em discos alheios, ora em backing vocal ora como percussionista, e diga-se de passagem: eximia percussionista. "Pé Do Meu Samba" é o segundo disco que adquiri de Mart'nália, o primeiro foi o CD "Minha Cara" que é bem legalzinho mas que ficou bem ofuscadinho perante a delicadeza infinita que é "Pé do Meu Samba" que começa com um arranjo impensável para "Filosofia" de Noel Rosa, só esta interpretação e este arranjo valeriam todo o CD, mas todas as outras interpretações, arranjos e canções são de arrepiar, entre as conhecidas estão "Tempo Feliz" (Baden Powell e Vinicius de Moraes) e "Molambo" (Jayme Florence/ Augusto Mesquita).

Waldemar Pavan
São Paulo, 30/7/2002

 
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