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Quinta-feira, 1/1/2009
Douglas Diegues
Julio Daio Borges


Douglas Diegues em foto de Bruno Torturra

Douglas Diegues, um poeta radicado em Ponta Porã (MS), com pouco mais de 40 anos, é o maior representante do Portunhol Selvagem no Brasil — embora negue que exista um único "portunhol selvagem"; que ele, Douglas, o tenha inventado; e que, ainda, tenha havido qualquer apropriação de sua idéia original por parte de outros escritores, jornalistas e editores.

Como Douglas Diegues mesmo define, seu Portunhol Selvagem nasce da "tripla fronteira" do Mato Grosso do Sul, misturando, justamente, português do Brasil, espanhol do Paraguai e variações do guarani ainda falado pelo índios (e/ou seus descendentes) na região. Reconhecido por poetas importantes de outras gerações, como Régis Bonvicino e Glauco Mattoso, Douglas é, em toda sua complexidade linguística, uma das vozes mais originais dos últimos anos. Publicou, entre outros livros,
Dá gusto andar desnudo por estas selvas — sonetos salvajes (2002), Uma Flor na Solapa da Miséria (2006) e El Astronauta Paraguayo (2008).

Nesta Entrevista — com respostas em Portunhol Selvagem (
por supuesto, sem tradução, com pouca revisão e quase nenhuma formatação) — Douglas Diegues conta da invenção de "seu" portunhol; aborda, com condescendência, a questão dos diluidores; evoca o reconhecimento (igualmente crítico); paga seu tributo a Manoel de Barros; fala, ainda, de sua própria editora, a Yiyi Jambo; e aborda, naturalmente, sua relação com a internet através de seu blog. Douglas, sem apego maior, escancara as portas do seu Portunhol Selvagem: "Quem quiser fazer, vae y faz, usando suo repertório y sua competência". Avanti! — JDB.

1. Douglas: quem me apresentou, pela primeira vez, o seu nome foi o Régis Bonvicino. Eu tinha acabado de endossar um texto do Alcir Pécora, sobre a condescendência da nossa "crítica" e dos nossos "críticos" para com a Geração 90, quando ele me chamou a atenção para a sua poesia, dizendo que era nova mas que era diferente (despertava interesse). Trombei com algum inédito seu, na internet, através de uma entrevista com o Marcelino Freire, e gostei — mas só fui me interessar mesmo quando assisti à sua mesa na Fliporto, ao lado de Xico Sá e Joca Reiners Terron. Então o Portunhol Selvagem, ou Salvaje, fez todo o sentido na minha cabeça, porque também fui criado entre o português e o espanhol... Conte-nos, portanto, como foi forjar essa língua, ou linguagem, que eu considero a mais original desde Guimarães Rosa.

El portunhol selvagem brota de la nada como flor selvagem de la buesta de las vakas. Oui, yes, por supuesto, mejor comenzar desexplicando. Pues que de hecho toda explicación única (scientífica ou non) será siempre traicionera versione falsificada. Ou seja: non soy nim fui el inventor del portunhol selvagem. Soy apenas el inbentor de um concepto de portunhol selvagem, um portunhol salbahem enquanto habla y escritura y non-lengua. Um concepto falsificado, paraguayensis, pero que nim Borges y suos acólitos nim los kapos de Oxford ou de la Sorbonna lo podem refutar. Porque de hecho el portunhol selvagem se hay inventado a si mesmo em distintas épocas, antes y después de la Guerra de la Kuádruple Alianza (Londonlândia, hay que escribir solo la verdad, fue quem bankou la alianza luso-rapay-urugua-kurepí kontra Paraguaylândia).

Existem vestígios de lo proto-portunhol selvagem enquanto escritura em algunas páginas de Sousândrade, Oswald de Andrade, Haroldo de Campos, Héctor Olea, Wilson Bueno, Nestor Perlongher, Antonio Fraga... Y posso dizer também que, em ambos lados de la frontera, el pueblo inbenta-lenguas triplefrontero lo sigue inventando enquanto habla.

Contudo, aqui, allá, kurepilândia, em todas las partes, konfunde-se ainda portunhol com portunhol selvagem bem como portunhol selvagem com portunhol salbahem y poro'u'ñol salvaje ... ¿Me desexplico? Digo que es um habla y es una escritura de las mais hermozas de tutti la gluebolândia, porque en los mil korazónes de pneu de camión del portunhol selvagem cabem todas las lenguas del mundo habidas ou por haber. Avanti.

2. Hoje o Portunhol Selvagem virou quase uma franquia: vejo muitos contemporâneos no seu rastro, mas sem a mesma vivacidade, como se fosse uma moda literária. Mesmo a inclusão do Wilson Bueno na genealogia, com Mar Paraguayo (1993), eu acho questionável, porque ele é mais um satirista, que explora muitos outros estilos, como o do nosso pavoroso século XIX... Enfim: seguindo aquela idéia do Borges, você "inventou" seus predecessores; e você, hoje, tem seguidores, até ilustres. Vi, outro dia, uma menção ao seu blog, inclusive, numa revista de viagem e turismo. Há, ainda, essa confusão entre o seu Portunhol Selvagem e o "portunhol" que todo mundo arranha quando sai do Brasil. Sei que você não quer fixar uma forma; aliás, isso seria a morte, como já disse o mesmo Guimarães Rosa... Mas o que acha desse "auê" e das "variantes"?

¡Bah! Diskordo 200% que el Portunhol Selvagem haya virado "quase uma franquia", porque, lo repito, ya cansado de repetirlo, non existe nem nunka existirá portunhol selvagem único. ¿Me desexpliko? Non es como Makidonall ou Burguerkin. Prefiro la imagem de miles de kurupís y yasiyaterês bailando cumbia flor de piedra com las yiyis mais hermosas de la Playa Mole. Cada persona nasce ya com suo portunhol selvagem próprio, personal, intransferíbelle. Sousândrade hay inventando el procedimento de suo próprio portunhol selvagem nel Inferno de Walt Street, em que se mesclam el tupi ameríndio, espanhol, portugês y mais 4 ou 5 lenguas. Wilson Bueno hay inbentado el suyo com suo papyro mais rarófilo, el Mar Paraguayo. Xico Sá hay inventado el portunholito kabrobol xicosáensis com la nobela Caballeros solitários rumbo al sol poente. Ronaldo Bressane inventou el portunhol salbahem ronaldobressaniensis com Cada vez que ella dice X. Joca Reiners Terrón lo inbentou a suo modo terrónnnnnniensis, mesclando non guaraní, pero ishir-chamacoco a um portunhol selvagem muy dele em Monarks atravessam el Apa. Bruno Torturra lo inventa como um Waldick Soriano chaqueño esperando sua Stefanía entre baratones nocturnos paraguaianos... ¿Y como olvidar Mário y Quitéria, que participaram dum disko de los Titãs? ¿Qué lengua hermoza, fea, rupestre, post-literária, era aquella que ellos kanto-falavam?

Nem mais nem menos: cualquier princesa, cualquier anjo, cualquier vagabundo puede inbentar suo próprio portunhol selvagem. Non existe, y lo desrepito ya por milionésima primera vez, portunhol selvagem único, aunque seja como honguito lingüístico alucinógeno que si non faz bem também non faz mal pra ninguém. Brota de las selvas de los kuerpos triplefronteros, se inventa por si mismo, acontece ou non...

Ya el portunhol convencional, sim, es algo único, em que se mezclam lusofonias com hispanofonias y nada mais. Pero el portunhol selvagem non: además del guaraní, posso enfiar numa frase palabras de mais de 20 lenguas ameríndias que existem em Paraguaylândia y el resto de las lenguas que existem en este mundo. El portunhol comum es bissexual. El portunhol selvagem es polissexual. El portunhol conbencional es medio papai-mamãe. El portunhol selvagem es mais kama-sutra.

3. O Glauco Mattoso, na orelha do seu livro pela Travessa dos Editores, evoca o Juó Bananère, e alguém já deve ter te aproximado, mais recentemente, do João Filho, um baiano caudaloso, que declamou sua prosa poética e chamou a atenção na Flip. Como você se sente em meio a essas comparações todas? Acha, primeiro, que tem comparação? Eu até entendo que jornalistas, e divulgadores, precisem te aproximar de alguma coisa que veio antes, mas, no seu caso, não sei se é a melhor opção... A pergunta, mais geral, é: você se sente compreendido nessa experimentação sem paralelos que faz com a nossa língua? Acha que existe um resíduo de crítica que pode estar notando a sua produção? Ou o reconhecimento é mais esse mesmo — dos festivais, das platéias, das gags? O Guimarães Rosa, se publicasse hoje, seguiria, igualmente, entre a invenção solitária e a veia cômica?

Ya me han komparado também a um Don Quijote gordo, mas foi en la revista dum bankeiro'í de Rapaylândia... Y muy antes disso había ficado feliz por Glauco Mattoso (y non um bundón de las Akademias) haber publicado mios sonetos selvagens em suo sonetário brasileiro digital, antes mismo saíssem en libro. Gosto del baiano João Filho, de suo lenguahe mais joaonfilhoensis, seu português selvagem próprio que brota de la nada del sertonismo urbano mais paraguaio de Bahialândia. Gosto dos três autores lanzados pela Baleia (salve Nelson Provazi!): Jorge Cardoso, el Nilo y João Filho.

Também gosto de outros escribas que han brotado, en los últimos tiempos, desde el solo fértil y seco de mio querido nordeste brasileiríssimo para tutti la Gluebolândia: Xico Sá, Ronaldo Correia de Brito, Frederico Barbosa, Raimundo Carrero, Marcelino Freire, Jomard Muniz de Brito, Micheliny Verunschk y muitos otros que non lembro agora...

Nel âmbito de los estudos literários, cito com gosto Myriam Ávila, que dispensa comentários, hay escrito dois ensayos sobre mios sonetos salbahens que me gustan mucho, um deles publicados nel glorioso JB "Idéias e Livros".

Kuanto a los auês, caôs, badauês y demais surunauês, me parecem divertidos: outro dia vi nel youtube um bídeo filmado en Mercearia Sam Pedro onde aparece uma yiyi, una hermosa pauslistanita leyendo un soneto salbahe de mio libro Uma Flor, pero atribuyéndolo a um poeta boliviano amigote suyo, y en la seqüência uma outra yiyi hermosa leyendo El Astronauta Paraguayo y mijándose de risa... Me faz bem que miles de yiyis hermosas como Márcia Tiburi me leiam... Hasta Maitê Proença, que debe ser muchíssimo mais hermoza de lo que aparenta en la moldura de la tele, dicen que recentemente hay leído um trecho d'El Astronauta Paraguayo en suo programa pollerita mykymy justita... ¡Baaaaaaaaaaah!... Non quer dizer nada, pero fico feliz, porque escrevo sobretudo también ou também sobre tutti kuanti para ustedes, hermozas yiyis de toda la Gluebolândia, escribo para ustedes, non para los boluditos, y mucho menos para los Pimkos (Cf. Witold Gombrowicz; Ferdydurke; Seix-Barral; 2004)...

4. Você ressuscitou a forma soneto, quando a poesia parecia condenada, para sempre, aos versos livres e brancos. Ou, então, quando o soneto só servia para expressar o mau gosto, a cafonice e a ignorância das pessoas. O que é um pouco culpa, convenhamos, dos poetas modernos — que emprestaram tanta coloquialidade à linguagem, a ponto de qualquer analfabeto funcional achar que pode "poetar" (verbo, aliás, horroroso que os poetastros, geralmente, adoram)... O economista que previu a crise financeira atual, sugeriu que se fechasse, por duas semanas, as bolsas de valores; o Elton John, numa investida senil contra a troca de arquivos on-line, sugeriu que se fechasse a internet (para salvar a indústria musical); mas, no caso da poesia, fechar, para balanço, a impressão, eu acho uma boa, porque, com a queda no custo das gráficas, se lança cada bomba... Qual a sua opinião sobre essa poesia "sem esperma", como você mesmo chama?

¿Ressuscitei? Sei non... La poesia puede estar muerta... Pero habemus Augusto dos Anjos, Glauco Mattoso, Sebastião Nunes, Mário Bortolotto, Vera Albers, Manoel de Barros, MaicknucleaR, Sérgio Medeiros, Bruno Napoleão y miles de outros, ¿quem mais?, miles de outros... Nel lado triplefrontero posso mencionar los Sonetos Soretos de Marcelo Silva, que em breve publicaremos por Yiyi Jambo...

Pero si, por supuesto, los poetastros son um pé no saco... Aliás: el mundillo literário oficialezko es algo protokolar, falso, burocratizado, solenezko, vanidosamente aburrido... Sobre la poesia sin leche próprio, sin água íntima, que non fede nim cheira nim nada, recomendo la lectura de "Kontra los Poetas", el fulminante ensayo de Witold Gombrowicz (el gombro, pa los íntimos), el gran escritor polako autor de Trans-Atlantico, considerada por Ricardo Piglia, salvo engaño mio, la mejor nobela kurepí (argentina) del siglo XX...

5. Eu vejo muitas referências suas ao Manoel de Barros, mas não consigo aproximar, muito, a sua obra da dele. Talvez seja como o dueto entre Martha Argerich e Nelson Freire — ela é uma tempestade, ele é delicado; ela parte pra cima do instrumento, ele o teme (e o respeita); ela sempre no atacado, ele sempre no varejo. No caso da poesia, encontro no Manoel de Barros um aspecto lúdico, panteísta, quase pré-verbal; enquanto você é desbocado, "selvagem" e dialoga com a nossa realidade urbana. Não duvido que a conversa, entre vocês dois, seja possível, mas, a meu ver, funciona mais como um contraste, uma oposição, uma relação dialética, de complementaridade. Estou certo ou falei bobagem? O que um veterano, consagrado, pode ensinar a um revolucionário, que é, muitas vezes, editor de si próprio? O que o mainstream da poesia, do Prêmio Portugal Telecom, pode ensinar ao autor que se equilibra na fronteira?

Minha faculdade de letras fueron las tardes com Manoel de Barros nel living de sua casa em Campo Grande, la hermoza city morena, kapital de mio querido Mato Grosso do Sul. Ouvindo atentamente el inbentor del Libro de las Ignoranzas, desaprendi miles de coisas sobre arkissemas, encantamento y néctar verbal, poesia y literatura, el Pa'í Viera y la frase em estado de sol. Manoel de Barros me hay transmitido lâmparas, águas, ignoranzas, ojos de pássaro, sabedorias vegetales sobre lo inverossímil verossímil. Solamente uma coisa que escrevi em português non es falsa y por isso nunca rasgarei: la solapa ("orelha") de la primeira edición del Libro de Pré-Koisas publicado pela editora Record.

Non sei si he podido devolver algo a mio querido Manoel de Barros, fenômeno rarófilo en la selva literária de la lusofonia, um menino que a los 92 se recusa degenerar en adulto amadurado... Por mia kuenta, penso que prêmios como Brasil Telecom, Portugal Telecom, Non-sei-lo-que Telecom, non querem dizer puerra ninguma. Considero esses prêmios sospechosos. Y digo que Manoel de Barros merece mais até que el tal prêmio Nobel. ¡Abran Karajo! Usted diz que ele es um veterano consagrado onda mainstream y qué sei yo. Pero, la crítica oficial nacional, la mais mainstream, la top-line, la qué sei yo, todavia faz questión de ignorárlo solemnemente... Outra coisa: Manoel de Barros non es um poeta de fim-de-semana: ele vive la poesia de las palabras 28 horas por dia... Lo considero a Manoel de Barros y Stella mios mejores amigo de la tercera, kuarta y oitava infânzia em Campo Grande... La conbersación com Manoel de Barros y Stella fue, es y será sempre, uma fiesta imperdíbelle...

6. Brinquei com as gráficas antes, mas gostaria de ouvir um pouco sobre a sua experiência como editor, à frente da Yiyi Jambo. Admirei a iniciativa, quase suicida, de editar em papel cartão, fazer um projeto pra lá de low cost e espalhar esses volumes pelo mundo, imagino que sem um "sistema" de distribuição. Hoje, embora haja muitas editoras, "para todos os gostos" (dizem), permanece uma dicotomia: ou você faz o jogo do mercado, dos best-sellers, da auto-ajuda (das "majors", digamos); ou você edita o que quer, mas não alcança as livrarias, e o público. Sei que podemos considerar a internet, mas eu prefiro me concentrar nos "livros físicos". Essa questão te preocupa na Yiyi Jambo? E como funciona o resto? Os autores são convidados ou apresentam seus projetos próprios? Você, efetivamente, edita (avalia, corta, dá sugestões)? Revisa também? As capas, eu já sei quem faz... Enfim, resuma essa ópera, porque eu imagino que as pessoas têm curiosidade em saber.

Entre agosto y setiembre del 2007 y com el apoyo de Washington Cucurto y Javier Barilaro, fundadores de Eloisa Cartonera, hemos inventado Yiyi Jambo, con el bróder Domador de Yakarés, em Asunción del Paraguay, donde tuvimos el apoio de amigos poetas como Jorge Kanese, Hugo Duarte, Edgar Pou, Kuru Bogado, El conde Bazzano y Javier Viveros. Bibíamos en una pseudo-mansión del barrio sajonia. Después conocimos jornalista Carla Fabri, uma de las damas selvagens de la nuebíssima poesia paraguayensis, com quem realizamos anualmente el evento Kapital Mundial de la Ficción, que este año aconteceu no Hotel del Lago em San Bernardino, Sanber pa los íntimos, uma de las ciudades mais hermosas del Paraguay y del mundo, a los márgenes del mítiko Lago Azul de Ypakaraí.

Digamos que de fato Yiyi Jambo hay brotado também como flor de la buesta de las vakas. De la nada. De los futuros desconocidos. Fazemos libros com kapas de kartón komprado em vias públikas de pequeñas y grandes ciudades. Hasta el momento hemos publicado mais de 30 títulos. Em Paraguaylândia nunca tivemos apoyo de ninguma instituicione oficial para publicar los libros etc. Fazemos tudo movidos a cumbias villeras kurepas y paraguayas. Las kapas de los libros de Yiyi Jambo nunca se repetem porque son pintadas a mano por el Domador de Yakarés y colaboradores. El domatore, segundo Joca Terrón y Xico Sá y tambien Ronaldo Bressane, es uma espécie de Pollock de los Chacos. Recentemente, Yiyi Jambo fue invitada junto a Eloísa Cartonera y otros sellos del âmbito cartonero a participar dum evento em Wisconsin University, que acontecerá em 2009, em Yankeelândia.

Y lo hermozo de eso es que agora neste exato momento Yiyi Jambo es el primeiro sello editorial kartonero nômade, easy rider, itinerante, on the road... Dizem que Yiyi Jambo es una cartonera paraguaia... Pero era: porque agora non es mais... Non queremos representar a ningum país, ningum estado, ningum esquema burokrátiko oficialezko... A partir de agora moramos en la estrada, bamos y venimos driblando las alfândegas del pelotudismo... Estamos em Paraguay, em Ponta Porã, em Asunción, em Manaus, em Maceió, em Natal, em João Pessoa, em Cordisburgo, em Porto Alegre, em Curitiba, em Pedro Juan Almodóvar Caballero, em Sanber, nel hotelito del lago, por supuesto... Agora Yiyi Jambo es um sello cartonero de ninguma parte... Nim del Brasil nim del Paraguay nim nacione alguma...

Quanto a los títulos de la "Colección de poesia y narrativa transfronteriza Abran Karajo!", conbidamos sempre los autores que nos gustam, como el poeta Jorge Kanese, el inventor de la poesia de vanguarda y después del post-porno-vanguardismo en Paraguay... Ya publicamos dois libros de Kanese: Temboreí y Xamán Xapucero... Obviamente editamos los libros: revisamos etc., junto a suos autores, pero non somos perfeitos... Habemus mais de 20 títulos para publicar hasta el final deste 2008... Quanto ao mais, seguiremos kontrabandeando al Vatikano y al resto de la Gluebolândia los bessos kalientes que nim los lovers boys mais karos de la selva rio-sampaulandensis vendem...

7. E já que a internet apareceu, vamos entrar nela. Como tem sido a sua experiência com o blog? Era um desejo seu ou foi uma ferramenta que se impôs pelo seu alcance? Eu vi muitos escritores começando blogs e parando. Ou, então, matando blogs e, depois, ressuscitando. No seu caso, parece mesmo um diário de bordo. Ainda que você se derrame na mesma língua que inventou. Eu queria saber, também, se você lê outros blogs. Se a diferença de tempo, entre a internet (on-line) e a literatura (a dança dos séculos), incomoda você... A discussão é infinita e a classe dos escritores parece longe de um consenso, mas muitos evitam a exposição, criticam a "celebrização" do autor e, às vezes, até se opõem à idéia mesma do livro como "produto"... O blog pode ser uma faca de dois gumes, entre a literatura e o mercado? Você me parece tranqüilo em relação à internet, mas queria confirmar se é verdade.

Entrei nel mundillo de los blogs guiado por una hermoza yiyi nel kalor de la gracia del 2004 em la bella city morena, onde morei hasta el 2006. Konoci a esa yiyi, que ya era bloguera de las buenas, feroz sherazade afroguaranguita, y ella muy amablemente fez um bloguizito para mim. Non escribo mais nesse blog y nem lembro mais suo enderezo... Escrevi muita porcaria alli. Non vale la pena. Amóntema. Foi.

Después, fiz outro blógui, que uso como caderno de apontamentos mais do que diário: alli posteo notas, esbozos, borradores, delírios, intentos, pruebas de campo etc. Alli puedo escribir lo que quiser.

Después fiz outros blóguis para postar material jornalístiko, conbersas com otros poetas, transdeliraciones y otras yerbas.

Habemus também el blog de Yiyi Jambo en donde posteamos poko a poko los títulos que bamos publicando.

Sei de algunos amigos que me leem pero non hay nem contador de público y nim sei bem quem me lee alli... Siento que me espionan diariamente los mails y otras boludeces: pero kago y ando para los espías, non tengo nada para esconder de ningum polítzei-system... Às vezes, pinta um kabrón querendo usar mio blógui para insultarme, ridikularizarme, enredarme em polemikitas imbéciles... Enton, ponho tranka pra non entrar bugiu y otros animalitos exótikos, evitando que me lo utilizem el blógui para atirar bosta em mim. Se quiserem lanzar mierda kontra mim, que se metam primeiro um yakaré de 2 porongos nel fondo del hondo y después tengam el trabajo de utilizar suos próprios blóguis. Tampoko adentro en polêmikas babakuaras. Aliás, difícil hoy dia polemikita que non seja mais aburrida que um tatu kure'í...

Sobre el tema libro bersus blógui: cada qual es uma experiência estétika-sensorial diferente, cada uno tem um sabor... Non me interessa saber si es bom ou ruim: solo me interessa lo que me gusta... Espero que um dia me paguem para escrever um blógui, porque escrever gratirola nel blogspot es muy kansativo... Talvez llegue el dia em que nos paguem para usar este ou aquele www-service... Pero lo que sei es que em breve la internet se vai al karajo, chau internée, non lembro quem me hay comentado, y que será reemplazada por algo mais veloz... Quanto a lo mais, non entendo puerra ninguma de internet nim de merkado librero-editoriale on ou off-line... Non acompanho el circuito comercial... Prefiro escuchar temas de cumbia villera made in kurepilândia de los Flor de Piedra, Pibes Chorros y Damas Grátis...

8. Esta pergunta é mais uma curiosidade minha. Como você consegue ser um poeta de alcance nacional morando em Ponta Porã (Mato Grosso do Sul)? Nossa amiga internet tem alguma coisa a ver com isso? Eu sei que tem, mas, mesmo assim, parece que não explica tudo. Afinal, você "aconteceu" de uma maneira repentina, na "Ilustrada" da Folha, e eu imagino que existam milhares de blogueiros "poetas" tentando isso agora (e não conseguindo)... Quero crer que se deve à originalidade da sua obra, mas meu realismo, mais uma vez, me impede de acreditar 100%. É sério que não é preciso mais habitar um grande centro para produzir, receber convites e sobreviver male male? Tradução: faria diferença para você, em termos de resultado, estar em São Paulo ou no Rio? Ou a produção seria a mesma, os convites, os mesmos e a sobrevivência, muito parecida?

Lo que apresenta el poeta es la poesia que el poeta apresenta me disse una vez Manoel de Barros. Y percebi que non adianta prólogo, padrino, mecenas, capas de ilustrada, producione, profissionalismo (¡bah!), kapas nel JB, resenhas positivas nel New York Times. Isso tudo pode ajudar a vender ou difundir, pero non alterará en nada la poesia que el poeta apresenta. El gran Roman Jakobson dizia que el primero mito que um poeta cria es el mito del poeta. Avanti.

Em mio caso, atenti, es el portunhol quem es selvagem, non el Douglas Diegues. Pero aki como em Kurepilândia, konfundem tudo: portunhol com portunhol selvagem, ximbo xá com Xico Sá, kola com porongo, kumbia com bola, kulo com kola, kachaka com guaripola... Avanti.

Qualquer um puede inventar suo portunholito selvagem onde quer que esteja. Obviamente cada lugar tem suas misérias y esplendores, suos infernos y paradaizes artificiales, suas kumbias flor de piedra y suas aburridas kachakas dolor de kuerno. Puede que lugares tengan influênzia em palabras. Pero la poesia non se faz com estar ou non em um determinado lugar, non-lugar, entre-lugar, post-lugar... La poesia se faz com palabras. Y com palabras se puede fazer poesia em qualquer parte. Estar em Nueba Yorki ou Ponta Porã terá alguma influenzia. Pero non es garantia de puerra ninguma. Porque hay algo que está antes de las palabras, que es la energia que cada um enfia en sua palabra. Manoel de Barros por ejemplo pone sua energia, sua vida, suo amor amor. Ele expressa a si mesmo, non al "verso ideal", a la "frase perfeita". Es essa coisa que se pone antes de las palabras, la energia, el esperma, el amor amor, la buesta, non importa el nombre, ere'la'eré'a, lo que faz la diferenza.

9. E falando de vida... como é viver numa língua que você mesmo criou? Poderíamos, claro, falar em "linguagem", mas é língua mesmo, porque você a fala no dia-a-dia. Não é como o Guimarães Rosa, que escrevia uma coisa e falava outra... Será que o que falta, aos nossos criadores literários, não é, justamente, uma convicção como a sua — de vestir a própria criação, além de lambê-la e incensá-la para a platéia? Os rebeldes vão dizer que, hoje, ninguém mais tem coragem de viver segundo os próprios ideais; e os fracassados vão falar que "quem vive" paga um preço alto. "La poesia está morta mas continua viva" é um verso seu — tem a ver com isso? Quer dizer: o fato de "todo mundo" querer ser poeta matou a poesia; mas a coragem de abraçar a própria poesia, brandindo os versos contra a indiferença, é algo que só poucos poetas, "com o fogo da palavra", podem realizar?

Es importante aclarar que el portunhol selvagem, como observa el poeta Sérgio Medeiros, existe enquanto habla, pero non como lengua. Y agora, obviamente, enquanto escritura, com um korpus de textos que brotam de la buesta de la post-hystória y se expande em mio caso permanentemente 25 horas por dia, hoy dia hasta puedo sonhar em portunhol selvagem. Agora, mudando rumbo a Guimarães Rosa, discordo que ele escrevia uma coisa y hablaba outra... Conosko suas cartas a Edoardo Bizzarri y a Paulo Dantas... Konosko sua entrevista a Günter Lorenz... Ademais de la coerência vida-escritura, conozko algo de seu trabalho como diplomata: gênio inimitábelle, com sua gravatita borboleta, sui generis em la historia del Itamaraty. Avanti.

Sobre el portunhol selvagem: também non me konsta que dizer que la koisa brota com flor de la bosta de las vakas seja lamber e incensar la cria... Me encanta escribir em portunhol selvagem: is diferent. Yes: hay mucho miedo y paranóia infiltrados, pero non hay mystérios nem lugares ideales, unas ciudades son mais poéticas que outras, y la poesia segue sendo la mais inútil de las artes... Quem quiser fazer, vae y faz, usando suo repertório y competência... Quanto ao mais — ¡Abran karajo! — Kanese konfirmeitor — silva Silvakov.

10. Estamos encerrando e eu gostaria de ouvir seus conselhos para jovens iniciantes. Sei que "se conselho fosse bom" etc., mas você deve ter algumas indicações de leitura, alguns autores que considera fundamentais, algumas publicações que recomenda. Parece improvável que alguém aconselhe um jovem hoje a ser poeta, mas, por outro lado, as Cartas a um Jovem Poeta, de Rilke, são constantemente evocadas. O que o Douglas escreveria para um "jovem poeta"? Ou o que o Douglas escreveria para si próprio (anos mais jovem)? Além do "currículo obrigatório", de leituras, o que você recomendaria em termos de experiências? Se aventurar pelo mundo? Amar muito? Perder e, depois, ganhar tudo? O Drummond disse, do Vinicius quando morreu, que ele foi o único que teve coragem de viver como poeta. (Também tem muita gente que "vive no bar" e não escreve coisa nenhuma...) Douglas, a palavra é sua.

Non tengo consejos para dar nim a um porco morto esticado sorridente num gancho cavernoso de hierro em una boutique de carnes, mucho menos para vender. Pero puedo sugerir que lean los libros cartoneros de Yiyi Jambo, de Paraguaylândia y todas las estradas de la Gluebolândia; de Eloisa Cartonera, de Buenos Aires; de Yerba Mala Cartonera y Mandragora Cartonera, de Bolívia; de Felicita Cartonera; de Murukujaramí Kartonera, de Paraguay; de Sarita Cartonera, de Almita Cartonera, de Chile; de Dulcinéia Catadora, komandada por mia querida amiga Lúcia Rosa em Sampaulândia; y tambiém de la mexicana La Cartonera, que acaba de publicar Respiración del Laberinto (que também publicaremos em dezembro), de Mario Santiago Papasquiaro, poeta del grupo salbahem infrarrealista, com actuaccione en México. Segundo Roberto Bolaño, el Papasquiaro (Ulisses Lima, en los Detetives Selvagens) ha sido el poeta mais intenso que ha conocido em sua vida.

Voltando a los libros cartoneros, digo que son una esplêndida fuente de lecturas e inspiracione para jóvenes de todas las idades y, a la vez, una hermoza oportunidade para conocer parte de lo mais significativo que se escreve nel kalor de la hora selvátika post-latrinoamerikana. Los libros cartoneros, para quem ainda non sabe, son feitos com kapas de cartón (papelão) kompradas em vías públicas de grandes y pequenas ciudades y después pintadas a mano. Tudo empezou em Buenos Aires, com Washington Cucurto y Javier Barilaro y el maravishozo nacimiento de Eloisa Cartonera en una hermoza noche de fiesta posmo-cumbiantera. Hoje, el fenômeno del libro cartonero se multiplika em várias partes del continente amerikano al mismo tempo. Yo y el Domador de Yakarés nos consideramos apenas astronautas multiplicadores del wawanko cartonero. Las capas pintadas a mano son como bessos calientes que nunca se repetem. Cada libro es um objeto úniko. Non tem precio. Y custam, aqui em Brasil, entre 5 y 20 reales el ejemplar, conforme el formato. Son libros que tienen korazón de kartón batendo, tan tán tan tán tan tán tan tán, piernas, sexo, boca, lábios, narizes, ojos y orejas... Pero non tengam miedo... Sobretodo non tengam miedo... Los libros de cartón non muerdem... Son como animalitos selvagens post-humanos... Y, por otra parte, como le dijo una vez Clarice Lispector a mio amigo José Castello: "Com miedo ninguém consegue escrrrreverrrr"... Acrescento: sobretudo escrrrribirrrr em portuñol selvagem...

Para ir além
Blog Portunhol Selvagem

Julio Daio Borges
São Paulo, 1/1/2009

 

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