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Quarta-feira, 17/1/2001
Digestivo nº 16

Julio Daio Borges

>>> VOCÊ TEM CONFIANÇA NO SEU TACO? A revista Você S.A., de janeiro, traz chamada de capa e um verdadeiro dossiê sobre empreendedorismo. Mais do que uma derivação abstrusa do inglês (entrepreneurship), o termo distingue aqueles que, mais simplificadamente, têm "espírito empreendedor", podendo tornar-se patrões de si mesmos, ainda que dentro de uma empresa, ainda que tendo um chefe. No Brasil, cultiva-se muito uma tendência exacerbada a querer seguir os modelos mais avançados de negócio, oriundos dos Estados Unidos. Muita gente caiu do cavalo, acreditando, por exemplo, que a internet iria eclodir por aqui como eclodiu por lá. Qualquer observador mais ou menos atento percebe que, no Brasil, não faltam idéias. O problema do nosso país é muito anterior ao nascimento de qualquer um desses gurus da administração moderna, remonta às capitanias hereditárias, e reflete-se hoje na dominação exercida por certos grupos que se revezam, seja nas comunicações, seja no governo, seja onde houver um poder minimamente constituído. Antes de importar manuais, precisamos mudar a mentalidade desse pessoal, e das pessoas que eles formaram.
>>> Você S/A
 
>>> O PIOR CEGO É O QUE VÊ TEVÊ Correm notícias de nova agonia financeira da TV Cultura, que vem se equilibrando num Ibope que oscila entre traço e ponto. Internamente, existe a crença de que o foco numa programação mais comercial, mais orientada ao consumidor, desde 1995, teria matado a criatividade, suprimindo da TV Cultura o seu diferencial. É possível. Mas é possível também que a explosão de programas apelativos e de atrações chulas, em quase todas as emissoras de sinal aberto, tenha provocado a migração das platéias ditas "mais inteligentes" para outros segmentos (como o das tevês a cabo), ou mesmo para outras mídias (como, por exemplo, a internet). Embora continue sendo um oásis no deserto da televisão, a TV Cultura ainda engatinha em termos de marketing e de mercado, ao mesmo tempo em que não conta mais com a complacência de um Estado que se privatiza a passos largos.
>>> Folha de S. Paulo
 
>>> VISIONE DEL SILENZIO, ANGOLO VUOTO É muito provável que os italianos tenham levado a sétima arte ao cume de sua expressividade no século XX. A Noite, de Michelangelo Antonioni, reestréia em cópia nova, e não nos deixa mentir. O diretor consegue transmitir sua mensagem brutal apenas pela economia extraordinária de sons e de palavras. A tensão, a aflição, a angústia, o vácuo exalam de um Marcello Mastroianni e de uma Jeanne Moreau, no resplandecer de sua beleza e graça. O enfado, o tédio, a esterilidade de um mundo próspero, farto, nababesco guiam as personagens para o prazer de quem testa sempre os seus limites, arriscando transformar a vida, de forma irrevogável. Nesse contexto, um casal que sepultou definitivamente o diálogo, parece indagar, através de seus excessos, até aonde vai o casamento, até que ponto resiste o amor, por que é que ainda vale à pena viver. Obviamente que ninguém tem essas respostas, o que se admira em Antonioni, no entanto, é a maneira como ele faz essas perguntas, n'A Noite.
>>> Cinesesc
 
>>> VOCÊ TEM DE SER EQUILIBRISTA ATÉ O FIM DA VIDA É Fernando Sabino quem inspira o mais recente volume da coleção Perfis do Rio, da editora Relume Dumará, idealizada pela Prefeitura e pela Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro. Arnaldo Bloch, o autor, é muito feliz em procurar perfilar não apenas o Fernando Sabino escritor, mas sim, também, o Fernando Sabino personalidade (uma das mais fascinantes da nossa literatura), e, para completar, o Fernando Sabino homem (falível, vulnerável, imperfeito). Como literato, Fernando Sabino marcou época com "O Encontro Marcado", nos anos 50. Posteriormente, são questionáveis suas incursões pelo cronismo, e mesmo sua volta tardia ao romance, com "O Grande Mentecapto". É na grandeza da persona que conviveu intimamente com Mário de Andrade, Clarice Lispector, Vinícius de Morais, Carlos Lacerda, Rubem Braga e, claro, Paulo Mendes Campos, Hélio Pellegrino e Otto Lara Resende, é na grandeza dessa personalidade, que encontramos a chave para o quebra-cabeça. Fernando Sabino, privando da amizade de figuras tão ilustres, foi simplesmente viver a vida, e - como um Cony que retorna de um silêncio de vinte anos -, para ele, a vida estava boa, simplesmente. Sendo assim, depois de três esposas, sete filhos, um enteado, uma paixão, o que há de se exigir de um Fernando Sabino que, ainda por cima, nos legou mais de 25 obras?
>>> "Fernando Sabino" - Arnaldo Bloch - 156 págs. - Ed. Relume Dumará
 
>>> UM NOVO OLHAR SOBRE O COTIDIANO Victor Brecheret, o escultor modernista da monumentalidade, está em pauta, no 447º aniversário da cidade de São Paulo. O Banco Real homenageia o artista com uma breve mostra de alguns poucos painéis e de algumas peças diminutas, sob o título "São Paulo de Brecheret". Fora o que se tem por mais notório e conhecido, como o Monumento às Bandeiras (o do empurra), e o Monumento a Duque de Caixas (a maior estátua eqüestre do planeta, na Praça Princesa Isabel), Victor Brecheret permanece esquecido e abandonado como as ruas, as edificações e os demais espaços públicos da capital paulista. Se não fosse por essa iniciativa, e pelos textos de Tarsila do Amaral e de Menotti del Picchia (igualmente citados na exposição), quem se lembraria que o caráter épico, os traços firmes e a tez altiva, que consagraram Brecheret mundialmente, também estão no Hospital das Clínicas, no Largo do Arouche, no Jardim da Luz, na Galeria Prestes Maia, no Teatro Municipal, no Largo São Francisco, no Cemitério da Consolação, no Parque Trianon, no Jockey Club, no Centro Cultural e no Aeroporto de Congonhas?
>>> Banco Real - Av. Paulista, 1374
 
>>> MINHA PÁTRIA É MINHA LÍNGUA
"Vamos analisar o conteúdo das mensagens para todos estarem falando a mesma linguagem e traçar o nosso plano de ação."
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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