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Quarta-feira, 4/8/2004
Digestivo nº 186

Julio Daio Borges

>>> ROCK AROUND THE CLOCK O rock fez cinqüenta anos e não há rebeldia que resista. Ou há? Os jornais ficaram mais na implicância (“rock não é música”) e as revistas montaram retrospectivas (até que neutras). Mas o que há para comemorar? A invenção do “pop”? Certamente, embora este nem sempre seja rock (vide os ícones Madonna, Michael Jackson e Prince). Foi uma explosão de hormônios que se arrastou desde a década de 50 até os anos 2000 – mas que, provavelmente, sofre de alguma exaustão. Os roqueiros, hoje, não são mais contestadores de coisa nenhuma. Basta observar que os grandes “fenômenos” da década passada foram, na realidade, grandes negócios para as gravadoras. A rebeldia hoje (ela continuará existindo enquanto os jovens existirem) está no “compartilhamento de arquivos” via internet – que, aí sim, vem ruindo com o “sistema” (como o rock ruiu 50 anos atrás). A internet, portanto, é mais rock’n’roll do que qualquer guitarra, baixo ou bateria. Fora que os estilos se diluíram... Tem gente, por exemplo, chamando “rap” de rock (e não é o Júlio Medaglia), e tem a confusão inerente da também eterna “música ambiente”. O rock, se é que ainda resta algum, rendeu-se – como tudo – ao “star system”. O mercado (no sentido geral do termo) vive de “name dropping” e está lançando artistas como se fossem produtos para usar e descartar. Sempre foi assim? Sempre foi, mas não de maneira tão vertiginosa. Sem contar que, com a reintrodução dos dinossauros em campo, nunca ninguém esteve tão confuso para definir “o que é rock” e o que, afinal de contas, se comemora este ano. Talvez o “poder jovem”, tão abominado por Nélson Rodrigues – que prendeu adultos de mais de 30 anos numa redoma espaço-temporal. O pós-moderno? Pode ser. Ocorre que, quanto mais o tempo passa, mais conservadores ficam os roqueiros de hoje e, principalmente, os de ontem. Mick Jagger caiu na armadilha da mulher grávida. “Eles venceram/ E o sinal [mais uma vez]/ Está fechado para nós / Que somos jovens”.
>>> Carta Capital
 
>>> OSTINATO Leandro Carvalho não pára. Depois de integrar a equipe do secretário de cultura do governo estadual do Mato Grosso, esse que é, certamente, um dos maiores nomes do violão brasileiro na atualidade, passou por São Paulo para uma curtíssima temporada de apresentações no Itaú Cultural. Leandro, que se divide entre a música e o empreendedorismo no universo da cultura, levou o projeto Rumos (do mesmo Itaú Cultural) a Cuiabá e acaba de lançar o Projeto Ciranda. Como se não bastasse, montou uma mini-turnê com The Britton Quintet (esta que se encerra agora), passando inclusive pelo Clube do Choro de Brasília e, nos poucos dias na Paulicéia Desvairada, encontrou ainda tempo para gravar um CD dedicado a compositores brasileiros que mantiveram alguma relação com a Grã Bretanha. Ufa! Nas duas apresentações paulistanas, em meados de julho, Leandro e o Quinteto (dois violinos, uma viola, um violoncelo e um contrabaixo) misturaram compositores que o violonista paulista normalmente divulga, como João Pernambuco e Levino Conceição. As novidades ficaram por conta do “Concerto para Violão e Orquestra”, de Villa-Lobos, escrito para Segovia e arranjado pelo próprio Leandro (considerando-se a atual formação do “ensemble”). Ele aproveitou, também, para testar o novo repertório do CD que já tem nome: “London Poem”. O título, em realidade, se inspira numa peça de Villa-Lobos. Leandro arrancou suspiros da platéia, ao executar, no fechamento, duas composições bossa-novistas de Tom Jobim. Ambas foram escritas para trilha sonora de filme, na Inglaterra, sendo que uma delas se transformou em “Olha, Maria” (com letra de Vinicius) e a outra o próprio Tom nunca gravou. Leandro foi pescá-las no “songbook” do compositor. Além de Tom Jobim, está igualmente previsto o Caetano Veloso da fase “London, London”, com arranjo de ninguém menos que Júlio Medaglia. Se Leandro Carvalho realizou essa e outras proezas, neste segundo semestre seus ouvintes não perdem por esperar...
>>> Leandro Carvalho
 
>>> COBAIAS DE DEUS Paulo César Peréio se consagrou, entre outras coisas, pelos palavrões que emitia nos filmes nacionais da época da censura. Era uma forma de transgressão e, com sua voz rouca, ele se notabilizou. Tanto que acaba de lançar um programa de entrevistas no Canal Brasil e, entre o prefixo, está um “porra”, para fechar. Seguindo esse espírito, o programa se chama “Sem Frescura” e é exibido às terças-feiras a partir das 23 hrs. Sua primeira convidada foi Cissa Guimarães (a ex-Amélia Bicudo) e, na semana passada, Angela Rô Rô. Foi insólito ver a compositora de “Amor, meu grande amor” e o ex-“sex symbol” vocal da cinematografia tupiniquim sérios e bem-comportados. Não combinou. Peréio é hoje um senhor, provavelmente avô, que sobreviveu aos desvarios da juventude e da idade adulta – e mantém, aparentemente, todos os parafusos no lugar. La Rô Rô, cinqüenta quilos mais magra (segundo afirmou), reduziu-se a um fiapo do que era antes, embora cultive ainda uma mente ágil. (Precisava é cuidar dos dentes, que estão bem estragados.) Na verdade, pairou uma certa nostalgia, obviamente do Rio de tempos atrás, e é complicado dar espaço a pessoas que têm menos futuro do que passado (não apenas no sentido cronológico). La Rô Rô também apresenta um “show” na mesma casa e, clamando por um contrato com gravadora, anunciou que tem um CD possivelmente duplo já preparado. (Foi feio mendigar; ela podia ter pulado essa parte...) Anunciou, igualmente, que anda vasculhando os diários da era mais caótica de sua vida (os anos 90) – e que há neles poemas merecedores de uma edição em livro. “Alô, alô, editoras!”, quase disse mas se segurou. O apelo foi Peréio quem completou. Ele é, como nos filmes, um entrevistador seco e direto; também culto. Mas é forçoso perguntar: “Será que alguém se importa com o seu ponto de vista?”
>>> Sem Frescura
 
>>> EVENTOS QUE O DIGESTIVO RECOMENDA

>>> Palestras
* Faça você mesmo o seu destino - Paulo Zabeu
(Ter., 3/8, 19hrs., VL)
* Memória de Empresa - Ivan Ângelo e Luiz Ruffato
(Qua., 4/8, 19h30, VL)
* O que é um corpo - Marcia Tiburi e Ivete Keil
(Qui., 5/8, 19h30, VL)

>>> Noites de Autógrafos
* Marketing do Amor - Patrick Pin e Fábio Cerresi
(Seg., 2/8, 18h30, CN)
* Botafogo - Sérgio Augusto
(Ter., 3/8, 19hrs., CN)

>>> Exposições
* Lucia Buccini
(de 2 a 16 de agosto, Seg. a Sáb., CN)

>>> Shows
* Música das Nações - Hermes Jacchieri e Leila Mutanen
(Seg., 2/8, 20hrs., VL)
* Carmem Miranda - Traditional Jazz Band
(Sex., 6/8, 20hrs., VL)
* Espaço Aberto - Arismar do Espírito Santo
(Dom., 8/8, 18hrs., VL)

* Livraria Cultura Shopping Villa-Lobos (VL): Av. Nações Unidas, nº 4777
** Livraria Cultura Conjunto Nacional (CN): Av. Paulista, nº 2073
*** a Livraria Cultura é parceira do Digestivo Cultural



>>> Circuito Erdinger & Kiss FM
Atenção para a edição extra de encerramento: acontece neste sábado, dia 1º/8, a partir das 16 hrs., no Mirante de Monte Verde, a apenas 170 km da capital paulista, onde estarão se apresentando as bandas Officina Rock e Flores de Fogo & Roberta Kieffer.

* a Erdinger é parceira do Digestivo Cultural
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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