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Sexta-feira, 12/8/2005
Digestivo nº 239

Julio Daio Borges

>>> IT’S THE END OF THE WORLD AS WE KNOW IT Pouca coisa, hoje em dia, pode ser mais entediante do que ter de comentar os lançamentos da indústria de blockbusters. Mesmo quando existem “diretores” por trás. [Ainda que tendo consciência da rima...] O cinemão (do maior tamanho que você puder imaginar) vive os seus estertores. Spielberg, por exemplo. Esse Guerra dos Mundos nem pra criança serve mais (alguns dizem que a isso servia, por exemplo, Harry Potter – o longa); nem pra fãs de Tom Cruise. Aliás, daqui a pouco Tom Cruise será mais lembrado por ter aderido a essa seita maluca, a Cientologia (em pleno pós-11 de Setembro...). Que os atores são “fracos” (de cabeça), todo mundo sabe. “Gado” – apelidou-os Alfred Hitchcock, depois de muito conviver com a raça... Mas, diretores? Estão, naturalmente, fazendo o jogo do “cartel do entretenimento” – como chama Dan “We the Media” Gillmor... É a tal era dos remakes. Salve-se quem puder. Todas as mídias em decadência estão reciclando formas ultrapassadas, pode reparar. No Brasil, é ligar a TV e ver, por exemplo, Festival da Canção (?!). A idéia é não introduzir conceitos novos; nem nomes novos; nem formatos novos. A curto prazo – embora se desrespeite a inteligência do espectador – funciona. As pessoas que viram E.T., na infância, vão continuar indo às salas para ver Spielberg; nem que seja para se lamentar. E as pessoas que viram Top Gun, na adolescência, vão continuar comprando ingressos para ver Tom Cruise; nem que seja, de novo, para se lamentar (Top Gun já era lamentável como sétima arte...). O cinema, portanto, vai continuar enquanto esse hábito continuar. Quando não mais for assim, vai virar teatro (ninguém mais vai – e dá-lhe caravanas de senhoras da terceira idade...). Se você também desistiu do cinema arrasa-quarteirão, procure saber o que é BitTorrent – e guarde o Spielberg (e o Tom Cruise) numa gaveta bem funda, junto com as recordações da adolescência e da infância. Que eles nunca mais saiam de lá.
>>> Guerra dos Mundos
 
>>> QUEM É ESSA FIGURA QUE NARRA? A Et Cetera é uma bela revista. Ao menos plasticamente, a única revista brasileira com “cara” de revista de literatura: grossa, encorpada, vasta. Com projeto gráfico bonito e arejado, privilegiando o texto (viu, designers?), com um índice respeitável e quase 200 páginas. Mas é meio chata (sorry, Editores da Travessa). Isso porque provavelmente – apesar dessa aparência revolucionária – são, mais uma vez, os mesmos nomes que hoje infestam as poucas publicações literárias. Nelson de Oliveira, que, por exemplo, há alguns meses deu uma longa entrevista ao Rascunho (nem precisava tanto), está lá, de novo, em entrevista para Paulo Sandrini (óbvio que não tem mais nada pra falar). E assim Augusto de Campos, Claudio Daniel, Fabrício Carpinejar... Aliás, a Geração 90 precisava tomar cuidado: mal “estourou” e já está pecando por superexposição... E a Et Cetera publica muita poesia. Mais do que o recomendável. Poesia é muito perigoso; pois, como se sabe, o número de poetastros é muito maior do que o número de seres humanos. Mas não vamos nos indispor com nenhum nome (eles sabem quem eles são). “Pra dizer que não falei das flores”, o melhor momento da Et Cetera, que talvez valha a totalidade desta quinta edição, é a entrevista de Michel Laub a Flávia Rocha, numa fase pós-Bravo! em que ele escreve seu novo romance. E não por eles (Michel e Flávia) serem jornalistas; muitos outros também são (ou tentam ser) – mas, sim, porque a entrevista tem “valor agregado”. E Michel Laub não está em todo lugar; nem Flávia Rocha. Outro bom momento, embora pulverizado pelos excessos da recorrente Geração 90, é o “dossiê” “Como pensar uma literatura em que, aparentemente, temos mais autores do que leitores?” (um título capcioso). Et Cetera continua sendo uma bela revista; mas que ela, nas próximas vezes, entregue dentro o que promete fora.
>>> Travessa dos Editores
 
>>> TEMPO RISOLUTO Quando você vai ver o maior quarteto de cordas do mundo tocando no Teatro Alfa? Se você não viu o Artemis, pela Temporada 2005 do Mozarteum Brasileiro, em julho, não vai ver nunca mais (a não ser que o Mozarteum traga de novo). Quem perdeu os quartetos de Beethoven, no dia 11, já se contorceu de raiva, quando viu o programa do dia 12 e ficou imaginando, em retrospecto, o que teria sido o dia anterior... Eles tocaram, do mestre de Bonn, o nº 6, opus 18, em si maior, o opus 95, em fá menor, Quartetto Serioso, e o nº 1, opus 59, em fá maior. Se você não foi, só pode agora conjecturar. E se você foi, eu não preciso nem falar (deixo você com Beethoven...). No outro dia, reinaram Mendelssohn, Piazzolla e Schumann. Para consolo de quem perdeu Beethoven (e que consolo!). E para surpresa geral, o melhor momento foi Piazzolla. Piazzolla, que na mão de instrumentistas virtuosísticos tende a ser chato, soou vivaz, divertido, passional. A platéia se encantava com aqueles três homens (e aquela mulher) enormes, 100% germânicos na constituição física (o Artemis Quartett é de Lübech), golpeando seus instrumentos com o arco, sugerindo a marcação do tango, na Suite del Angel. Por um instante, era possível fechar os olhos e evocar Paco de Lucia e seu conjunto, em algum ponto perdido dos anos 90, e do ex-Palace, e do ex-Directv Hall... O ciclo se fechou. A Europa cruzando o Atlântico, absorvendo milongas, e voltando. Aplausos a cada movimento (apesar da sugestão de proibição) e aplausos de pé no final. Os músicos suaram. E trocaram de cadeira. E trocaram de lugar. Vai ver que esse “nervosismo” tão saudável fez a crítica exclamar que suas gravações beethovenianas, tão jovens, já fossem obras de referência. E que fez o lendário pianista Leif Ove Andsnes (ausência sentida em 2004) acompanhá-los.
>>> Mozarteum Brasileiro
 
>>> EVENTOS QUE O DIGESTIVO RECOMENDA



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>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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