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Sexta-feira, 16/12/2005
Digestivo nº 257

Julio Daio Borges

>>> O SELVAGEM DA ÓPERA Se, como disse Keynes – citado por Eduardo Giannetti em seu novo livro sobre juros –, à medida que envelhece, o homem vai desistindo da criação e da construção, e vai se apegando mais ao dinheiro e à segurança, então Rubem Fonseca deve ser uma exceção. Um dos maiores contistas brasileiros vivos, como convém sempre lembrar, nunca produziu tanto como a partir dos seus 65 anos – época que coincide com a consolidação da editora Companhia das Letras (é sabido que o editor Luiz Schwarcz quis, desde o começo, ter em seu catálogo as obras do autor de Feliz Ano Novo). Foram, desde 1990, quatro romances (sendo que um histórico e um biográfico), duas novelas e seis livros de contos – fora antologias, reedições e participações em coletâneas esparsas. Ao contrário de seu personagem Gustavo Flávio, o poeta que detestava ser indagado sobre o que andava escrevendo, Rubem Fonseca, dos anos 90 pra cá, poderia responder sempre positivamente à mesma questão. E desde 1997, especialmente, vem inclusive ressuscitando o próprio Gustavo Flávio e o detetive Mandrake – duas de suas criaturas mais evocadas. Do meio do mundo prostituto, só amores guardei ao meu charuto (1997) mistura, justamente, os dois; e Mandrake: a Bíblia e a bengala (2005) trouxe, evidentemente, Mandrake de volta, solo, em duas histórias policiais escritas e publicadas agora. Tendo em mente esse panorama, de produção alucinante, em uma década e meia, é possível descontar o fato de que, mesmo em grande estilo e forma (para um homem de 80 anos), Rubem Fonseca vem se repetindo um pouco. Ou será que nós – que o lemos e que o amamos tanto – fomos desvendando seus mistérios logo nas primeiras folhas com o passar dos anos? Rubem Fonseca, ainda assim (ainda que não nos surpreenda nem nos desaponte), continua dando aulas de bom português, continua levantando sobrancelhas e sobrolhos, e continua entretendo como poucos. Enfim: o que mais esperar de um autor dando as últimas pinceladas na sua obra?
>>> Mandrake: a Bíblia e a bengala - Rubem Fonseca - 200 págs. - Companhia das Letras
 
>>> UM FLASHBACK, UMA ATUAL E UM LANÇAMENTO Ao mesmo tempo em que está estourando, o podcast, às vezes, parece que não foi ouvido direito. Potenciais ouvintes ainda não entenderam como ele funciona e, volta e meia, se atrapalham com questões básicas como o volume da caixa de som, um fio desconectado ou uma mera configuração de software. Podcast é só clicar e escutar – mas esta proeza, infelizmente, não está ao alcance de todos. Felizmente, porém, Maestro Billy é um dos podcasters que não se abala com esse estado de coisas e bateu um recorde razoável, no meio do podcast brasileiro: mais de 100 programas. Antes, Durante e Depois é como chama o seu show. O centésimo episódio, inclusive, foi uma compilação dos pedidos de ouvintes que costumam acompanhá-lo pelas ondas da Web. Maestro Billy afirma que eles chegam às centenas à sua caixa postal. Qual será a sua fórmula do sucesso? Para o bem ou para o mal, o ADD (abreviatura do título) emula, na internet, um verdadeiro ambiente de FM – e é muito menos autoral do que outras variantes na língua de Camões. Talvez isso explique a sua maior aceitação. Maestro Billy faz um uso muito hábil de vinhetas, divulga novidades, toca oldies but goldies, fornece notícias e mistura deliberadamente estilos. As más línguas devem acusá-lo de “sem personalidade” ou de eclético demais, mas o certo é que agrada, ponto. Maestro Billy está sentindo na pele o retorno, e está tão animado com a experiência que, em entrevista a Edgard Costa, revelou planos de estruturar e de explorar (comercialmente?) o formato. Andou palestrando, em Curitiba, na primeira conferência sobre o assunto – e já desperta interesse o material que elaborou especialmente para a ocasião. Chega a ser empolgante a maneira com que esses pioneiros do podcast brasileiro se agarram à sua prática, mesmo que haja dúvidas sobre seu futuro. Que eles confirmem suas melhores esperanças, pois o Brasil não pode perder, mais uma vez, o bonde – como perdeu o dos blogs.
>>> Maestro Billy
 
>>> CHIAROSCURO Pelo menos em matéria de arte, parece que todo mundo tem consciência da importância de períodos como o da Renascença. Ter, tem – mas não quer averiguar. O interessado médio fica naquelas noções básicas sobre Leonardo, Michelangelo e outros dos quais nem se lembra mais. Quando muito apela para um modismo envolvendo algum desses artistas, como foi, de uns tempos pra cá, a leitura, para muitos reveladora, de O Código Da Vinci... Para desembaraçar o emaranhado de hipóteses e suposições, e para aprofundar as mesmas vagas noções artísticas que adquirimos – a princípio – desde a infância, surgem os cursos de – por que não dizer? – História da Arte, da professora Tereza Aline Pereira de Queiroz, na Casa do Saber. Embora temas como o do Renascimento, do Barroco e do Rococó, por exemplo, sejam vastíssimos, Tereza concentra seu saber em algumas aulas, abordando um ou dois artistas, acompanhada de slides, de maneira que seu conhecimento flui e, paulatinamente, a nuvem de ignorância se dissipa. Ultimamente, varreu o pó das nossas idéias sobre os mesmos Leonardo e Michelangelo, reintroduzindo outros mestres esquecidos como Donatello e Rubens, e totalmente nos revelando a dimensão de assinaturas como a de Mantegna e mesmo a presença meio estrambótica de figuras como o Arcimboldo, resgatado pelos surrealistas e seus delírios virtuosísticos. Tereza, ainda que muito culta, não nunca é cerimoniosa e é sempre muito divertida. Em outras palavras: mesmo desfolhando a informação em camadas, não soa pernóstica, rindo do que é forçosamente ridículo e despertando a simpatia dos circunstantes. Em alguns meses de Casa do Saber, já tem seguidoras – discípulas? – que a acompanham, de curso em curso, como sói acontecer com os professores mais populares... E quando se imaginava uma especialista restrita ao domínio da Renascença, eis que Tereza surge ministrando aulas sobre o Romantismo na pintura e até, num considerável salto temporal, sobre o Impressionismo. Impossível captar todas as nuances, e principalmente guardá-las para si, em obras e artífices. Talvez o maior mérito de Tereza Aline Pereira de Queiroz seja, como todo bom professor de artes plásticas, despertar a famosa educação do olhar. Saímos então do nosso vôo cego e partimos para uma visita guiada – pelas mãos da mestra.
>>> Casa do Saber
 
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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