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Sexta-feira, 27/1/2006
Digestivo nº 263

Julio Daio Borges

>>> HEAD TO HEAD Paulo Francis, em sua coluna, sempre frisava que a melhor enciclopédia de todas era a Cambridge. É possível, mas quem hoje em dia consulta enciclopédias? Como diz o chavão, a internet converteu-se na Grande Enciclopédia; e a sua porta de entrada, o Google. Mas a internet não é “confiável”, nem todas as informações são “checadas”, muitas vezes os autores assinam anonimamente... “Ainda prefiro a Cambridge” – e você? O fato é que a Wikipedia, a enciclopédia da internet hoje, completa cinco anos. Pior: completa cinco anos sendo atualizada, ou escrita, ou concebida, por gente como eu e você. Como o próprio nome já diz, uma enciclopédia “wiki”: onde todos podem criar um verbete, editar um verbete, estragar um verbete... Adam Curry, ex-VJ da MTV americana, o podcaster mais famoso do mundo, foi lá na Wikipedia, acessou justamente o verbete “podcast” e colocou que ele – Adam Curry – tinha sido o inventor do negócio. Descobriram e caíram de pau no Adam Curry (com razão). Óbvio que não foi ele que inventou a coisa... Isso aconteceu em 2005. Também em 2005, a revista Nature cruzou as informações sobre ciência da Wikipedia com as mesmas informações da Enciclopédia Britânica. Conclusão dos especialistas que se debruçaram sobre os verbetes de ambas as enciclopédias (sem saber qual era qual): as duas têm praticamente o mesmo número de erros, a Wikipedia e a Britânica – você já pensou? Eu já... Tanto que vou agora, na Wikipedia, escrever meu próprio verbete (antes que escrevam minha biografia sem eu saber). Você deveria fazer o mesmo. Vai que o Paulo Francis do futuro entra lá e lê...
>>> Wikipedia | The Book Stops Here (Blog)
 
>>> PACIÊNCIA E IMEDIATISMO O aclamado professor de economia Eduardo Giannetti internou-se quatro meses numa pousada em Tiradentes para escrever sobre juros, sua base biológica e suas implicações filosóficas. A proposta de trabalho soa irresistível e seu objetivo, no mínimo, louvável. As entrevistas que o professor concedeu depois – até na Veja, onde, no final do ano, foi palpitar – são também razoavelmente interessantes. Apenas um problema na equação: O valor do amanhã, o livro resultante desse esforço (pela Cia. das Letras), não cumpre o que promete. Abriga boas teses, esboça pontos de partida instigantes, mas repete-se, constantemente; não aprofunda seus enunciados; e parece sempre se perder no verniz de excelentes citações a outros economistas e renomados pensadores. Em seguida do ótimo Felicidade (2002), Giannetti aparentemente se dispersou – na pressão por mais e mais lançamentos (anuais) –, de modo que não superou sua principal deficiência desde então: coloca os problemas, que pretende resolver, muito bem, mas não alcança uma solução; caminha para a aporia ou para o rebuliço da conclusão que não dá conta de todas as pontas soltas (ou de todas as portas abertas, cada um escolhe sua metáfora). Dizem que as aulas do professor Giannetti são brilhantes e que, entre seus melhores trabalhos, estão Vícios privados, benefícios públicos? (1993) e O mercado das crenças (2003), conclusão reeditada do seu ph.D. em Cambridge. Temos de concordar e de supor, provavelmente, que O valor do amanhã não seja representativo de toda essa capacidade. O livro confirma suas potencialidades, mas, vale repetir, como realização, é falho – até pela constante sensação de que poderia ser resumido em menos de 200 páginas. Eduardo Giannetti deveria ter perdido menos tempo na pousada e gastado mais energia com edição e notas.
>>> O valor do amanhã - Eduardo Giannetti - 328 págs. - Companhia das Letras
 
>>> FOTOGRAFIA Pasolini afirmava que o cinema era a arte mais próxima da representação da vida, porque era a única que poderia retratá-la em três dimensões. De fato, Vinicius de Moraes vem sendo homenageado desde 2003, ocasião de seus 90 anos, mas pouco espaço a ele havia sido dedicado em matéria de sétima arte (descontando-se, talvez, Orfeu (2000), de Cacá Diegues, no conjunto mais uma adaptação questionável). Vinicius, de Miguel Faria Jr., preenche bem essa lacuna. Primeiro, porque é um documentário, em que o próprio Vinicius de Moraes ganha destaque. Segundo, porque é enriquecido com depoimentos de ilustres convidados. E terceiro, porque a música de Vinicius, a trilha sonora do filme, continua uma das mais representativas do Brasil do século passado. Não existem grandes novidades, ou teses reveladoras, nesse Vinicius – até porque, como falou Mauro Dias, a vida de Vinicius de Moraes era praticamente pública. Esteticamente (ou artisticamente) falando, para ser mais exato, não encontra surpresas quem já conhece a obra. É na esfera da intimidade – nem sempre 100% pública, aliás – que estão os achados desse documentário. Desde os mais prosaicos, como a revelação de Chico Buarque de que, mesmo depois de nove mulheres (oficiais), o Poetinha ainda se importava – do ponto de vista anatômico – com sua performance sexual... até a constatação da própria decadência física (generalizada), revelação feita por Edu Lobo, a quem o Poeta&Diplomata, nos últimos anos, desconcertantemente perguntou: “Você está com dó do seu Parceirinho, não está?”. No fundo, é o que mais toca no documentário: Vinicius de Moraes caminha, lenta e inexoravelmente, para o suicídio etílico. Sim, ele não caberia no Brasil de hoje, como diz o autor de “A Banda” – mas talvez o mundo de hoje não fosse tão leniente, quanto o foi o outro, com a sua degradação.
>>> Vinicius
 
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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