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Sexta-feira, 18/5/2007
Digestivo nº 329

Julio Daio Borges

>>> SONATA PARA PANDEMÔNIO Erza Pound, pensando em poetas, cunhou a expressão “antenas da raça”. Num mundo ideal, o poeta deveria expandir os limites da expressão, do que pode ser dito, inaugurando caminhos para o resto da humanidade. O mesmo termo “poeta” em nossa época, infelizmente, se banalizou. “Poeta” ou “gênio” é apenas quem tem hoje uma “sacada” de momento, que depois fica velha, como uma piada. Talvez dê um “teco” no marasmo, mas não amplia nosso vocabulário, não nos empresta novas possibilidades, nem nos abre novos horizontes. Então encontrar um poeta, agora, talvez seja um acontecimento muito mais relevante – na atual maré de “eventos” chochos. Elisabeth Veiga, por exemplo, em seu A Estalagem do Som, que a editora Bem-te-vi acaba de lançar (dentro da sua coleção de poesia): “Ao vento/ um palito de fósforo/ que pensa:/ existo”. E esse é só o primeiro poema, “Ser”. Poeta não é eu-lírico, claro, mas Elisabeth poderia se definir, brilhantemente, assim: “Quem quiser que funcione:/ eu sou um parafuso a menos/ da máquina do mundo”. A máquina do mundo de Drummond, para quem lembrou. Drummoniano ou pessoano, igualmente, o trecho: “Escrevo como quem sobrevive/ e se diz: em frente”. E a justificativa: “Não posso/ jogar-me fora”. Impossível, neste ponto, não lembrar das hordas de “geniais”, “criativos” e outros mais, que só nos fazem cócegas com seu cabelos, óculos e andrajos espalhafatosos. Poetas, eles? “Estou chorando a cântaros/ em dodecafonia/ (dói na cabeça/ que bateu de ponta com a/ vida)”. Ou finalmente o poema, homônimo, “O Poema”(!), que deve ser lido, todo, já que o poema, o próprio (de novo), não pede licença (nem precisa de horário nobre): “[O Poema] não tinha ninguém/ para gostar ou não”. Elisabeth tem três outros livros, já, mas que continue nos “depositando [seus] ovos incubados de poesia”, num tempo em que até o “ônibus perdeu o rodízio” e onde a saída pode ser, justamente, “pinçar relâmpagos”.
>>> A Estalagem do Som
 
>>> TE CUIDA, RAPAZ O talento é necessário mas pode ser também uma coisa perigosa. Yamandú Costa, por exemplo. Quando apareceu, assombrava – e todo mundo projetava nele outro Raphael Rabello. Mas projetar não basta. O talento, na realidade, não basta. Faltava, no caso de Yamandú, uma direção, para que seu talento pudesse ser canalizado, a fim de produzir grandes obras. Porque parece que, se deixassem, Yamandú continuaria lá, na noite, fritando dedos, cordas e guitarras, em casas lotadas. Assim, sob a produção de Maurício Carrilho, Yamandú gravou um primeiro álbum, onde quase não saía dos trilhos e onde, muitos diziam, não era 100% Yamandú. Seu segundo disco em estúdio foi um experimento mais interessante, com Paulo Moura, onde a aproximação com Rabello era proposital e a comparação, enfim, obrigatória. Não funcionou como o clássico da Kuarup, claro, porque Yamandú não estava suficientemente “maduro” e Moura estava mais-que-maduro – mas a tentativa foi válida. Agora passamos a uma espécie de terceiro round, em matéria de gravação: Dominguinhos e Yamandú, pela Biscoito Fino. É Yamandú dosmesticado, mais uma vez – e eles não deveriam ter incluído “Chorando baixinho” (porque, nessa, até os solos seguem os passos de Raphael Rabello) –, mas Dominguinhos, generoso e amplo, parece que, em alguns momentos, funciona melhor do que seus predecessores. “João e Maria”, por exemplo, foi um acerto em cheio; “Estrada do Sol” (e “Wave”) nos faz esquecer as regravações recentes de Tom Jobim; e “Domingando” (também “Feira de Mangaio”), cujo mérito é deixar Yamandú “perdido” e fazê-lo, justamente, mais criativo. Quando a sanfona de Dominguinhos domina, sufoca e quase apaga a estrela do virtuose do violão é que aparece a novidade – porque, até agora, estavam tratando Yamandú com muito medo e respeito. Dominguinhos não se intimidou. E jogou a sanfona pra cima dele. Vamos ver agora em show...
>>> Dominguinhos e Yamandú
 
>>> O CONSELHEIRO SEMPRE COME (E BEBE) O Friday’s tem, no Brasil, a idade da internet comercial. Começou, como a Netscape, em 1995. Mas, nos Estados Unidos, o Friday’s tem mais de 40 anos. Começou em 1965, em Nova York. A filosofia das mais de 800 lojas (seis delas no Brasil: São Paulo, Alphaville, Campinas, Rio, BH e Brasília), e em mais de 50 países, é fazer o cliente se sentir “como um convidado de honra”. Em 1995, na esquina das avenidas Juscelino Kubitschek e Santo Amaro (a primeira loja em nosso País), os garçons e barmen pareciam VJs da MTV – um canal de música, que antes existia –, usavam roupas coloridas, chapéus bufantes, cantavam “Parabéns pra você” alto (para constranger o aniversariante), faziam acrobacias com os drinks (para conquistar a molecada)... Era divertido. A Barra da Tijuca não era ainda como Miami, um real valia um dólar, os Estados Unidos começavam a ser explorados além da primeira viagem (à Disney), e o Friday’s então funcionava como uma espécie de embaixada, quando nasciam também os primeiros happy hours, claro, às sextas. De lá pra cá, o Friday’s, no Brasil, abriu e fechou lojas em São Paulo, mudou de sócios e atualmente, numa estratégia de expansão nacional, quer recuperar talvez o lugar no coração de seus antigos freqüentadores... A campanha tem nome, American Road Trip Menu – e o objetivo é oferecer um cardápio com pratos significativos da culinária norte-americana, inspirando-se em oito cidades, regiões ou estados-chave: Santa Mônica, Santa Fé, Midwest, Wisconsin, Kansas, Beverly Hills, Miami e Filadélfia. Tem desde bolinho frito de três queijos (americano, colby e parmesão) até tortilhas com molho panchero e pico de gallo, até costelinhas de leitão marinadas, cobertas com molho barbecue... Passando por sanduíche de cookies, de sobremesa, e por um mojito todo especial. A década de 90 passou, com sua euforia e sua bolha (no Brasil, a bolha do real), mas o Friday’s, como a internet, sobreviveu às turbulências. Os Estados Unidos não têm mais o mesmo apelo, de novidade, mas o Friday’s está tentando abrir as portas da reinvenção.
>>> T.G.I. Friday´s Brasil
 
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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