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Sexta-feira, 25/4/2008
Digestivo nº 364

Julio Daio Borges

>>> REVISTA FEED-SE Cansados de serem acusados, pelos jornalistas, de não saberem apurar fatos nem analisar informações, os blogueiros decidiram se organizar e começar a dar respostas. A primeira delas talvez seja a revista Feed-se, em PDF, totalmente concebida, escrita, editada, diagramada e distribuída (divulgada) por blogueiros brasileiros. Os temas, naturalmente, se referem à blogosfera: AdSense (ou monetização), SEO (ou ranking no Google), probloggers (profissionalização), blogcamp (eventos e discussões), e lifehacking (o blog como terapia). Os textos, inspirados no formato "post", são curtos e diretos, raramente ultrapassando uma página da Feed-se. O tom é bem humorado, longe, porém, da imparcialidade e da sisudez do jornalismo de mainstream. Na verdade, os princípios do considerado "bom jornalismo" se tornam mais diluídos, à medida que se avança na leitura. Por força do hábito do "hyperlinking", as referências a blogs e outros blogueiros, pelos autores das matérias, são constantes. Portanto, o maior mérito da revista talvez seja revelar um universo, por vezes, inacessível aos leitores leigos, que visitam a blogosfera e, atônitos, não entendem o que se passa nela. A comunicação na internet, entre grupos, muitas vezes se torna hermética, o que leva ao menosprezo — por parte de quem está de fora — de fenômenos como os próprios blogs, os podcasts, os wikis e as redes sociais (entre outros). A Feed-se é de graça, basta fazer o download. Mais do que conquistar jornalistas ranzinzas, oxalá consolide melhor a blogosfera brasileira e seu valor intrínseco.
>>> Revista Feed-se
 
>>> GET YOUR FLIGHT... LOUNGE MUSIC Depois de um longo período de depressão, em que literalmente perdeu a voz, uma cantora brasileira confessou que recuperou o interesse pela vida através da música eletrônica. Para ouvintes de MPB pré-BossaCucaNova, soa esquisito — dada a simplicidade harmônica, a repetição das melodias (isso quando há linha melódica) e o caráter eminentemente percussivo do "estilo" eletrônico. Mas, para a referida intérprete, foi justamente o que chamou a atenção: a batida quase vital, o pulso, a condução, num despojamento quase primitivo de sons. Num mundo onde as informações cotidianamente abundam, o minimalismo da música eletrônica seria, portanto, de grande apelo, para quem quisesse, de repente, reduzir os estímulos, fugindo temporariamente da civilização (nas raves?). Não espanta que a lounge music preencha espaços, sem efetivamente enchê-los, agregando, basicamente, movimento, e aguçando os sentidos pela economia de dados — como que anunciando um grande evento subseqüente: "Silêncio (ou quase), estamos esperando que algo, aqui, aconteça". Na contramão da sociedade saturada de imagens, os beats em uma única dimensão despertariam a fantasia, onde praticamente nada é oferecido, nenhuma história contada, tem de se preencher de sentido o "vazio" (ou não; se for esse outro objetivo: o vazio em si). Como nos livros, onde o que igualmente importa é o que não está dito, na electronic music, as pausas, os fades e os ecos se encaixariam nos pensamentos soltos dos ouvintes — construindo uma experiência particular de audição, perfeitamente legítima. A cantora de música brasileira se recuperou totalmente da depressão. Não é mais a mesma; mas a música eletrônica, para além dos modismos, persiste.
>>> Get your flight...
 
>>> VIDA, VÍCIO, VIRTUDE, PELA CASA DO SABER Com a morte dos velhos ideais do século XX, como se orientar num mundo destituído de transcendência, uma vez que as filosofias, sacrificadas no processo, ficaram igualmente para trás? O materialismo venceu; mas a revolução, não. Descrente com a política, o homem do século XXI não sonha mais com anseios coletivos e volta-se para si próprio. A satisfação de seus desejos resta como único imperativo, colocando em segundo plano o encontro com o outro, os projetos conjuntos, a marcha, para um "futuro melhor", dentro da História. Condenada a um eterno presente, que se repete cotidiana e mecanicamente, a humanidade se dedica a pequenas satisfações imediatas, pois desconhece até a possibilidade de satisfação plena. Descolado do tempo, caminhando na escuridão, resignado em seu labirinto, o homem contemporâneo sofre, permanentemente, sem entender por quê... Foi desta forma que Franklin Leopoldo e Silva abriu o ciclo "Vida, Vício, Virtude", uma iniciativa da Casa do Saber, com a Casa Fiat de Cultura, Artepensamento e SESCSP. No Sesc Paulista, desde o último dia 14 (até 7 de maio), outros nomes da filosofia, do humanismo e da cultura do Brasil vão refletir sobre temas tão amplos quanto "o vazio do pensamento": Marcelo Coelho (sobre a amizade), Eugênio Bucci (sobre a intolerância), Marilena Chaui (sobre a liberdade) e Renato Janine Ribeiro (sobre a intemperança). Quando a espiritualidade é abalada, faz-se necessário um novo iluminismo? Sem objetivos à vista, é iminente um retorno ao ponto de partida? Se a mídia se perdeu no seu ritmo frenético e se a academia se fechou em seu hermetismo, ciclos como "Vida, Vício, Virtude" procuram retomar, em sociedade, a reflexão.
>>> Vida, Vício, Virtude
 
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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