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Sexta-feira, 2/5/2008
Digestivo nº 365

Julio Daio Borges

>>> DE CABEÇA BAIXA, DE FLÁVIO IZHAKI De cabeça baixa, romance de Flávio Izhaki, pela editora Guarda-chuva, é o primeiro saldo dos novos autores que publicaram no início dos anos 2000, no Brasil - e ele é negativo. Bem escrito desde o começo, o livro prende, mas seu realismo deprime e até causa uma certa vertigem. Felipe, o protagonista, era um desses "geninhos" literários da blogosfera brasileira, com um aguardado volume que nunca saía - e que, quando saiu, teve repercussão quase nenhuma. Felipe, que já havia desistido de tudo (até de dar aulas de literatura), entrou em depressão profunda. Rompeu com sua namorada-esposa e isolou-se em Curitiba (era originalmente do Rio). Felipe só sai do seu imobilismo - de anos - quando encontra, num sebo, um exemplar de seu primeiro livro fracassado, todo comentado, com uma letra que ele não reconhece. Quem seria? Sai do auto-exílio, retorna à civilização, para resgatar seu único crítico. E resgatar, junto, sua própria vida. Cabe ao leitor responder se Felipe consegue isso ou não... Quando, no início dos anos 2000, a internet, aparentemente, conferia um novo fôlego à literatura brasileira - após as dúvidas da Geração 90 -, raros autores se consagravam, enquanto a maioria se oferecia apenas ao sacrifício. Conforme afirmou Daniel Galera, o "lado dos leitores" - mais especificamente das pessoas que compram e lêem livros - ainda não aconteceu no Brasil. Não foi desta vez. O Kindle não havia sido inventado em 2000 e pouco, mas, supostamente, o fôlego da leitura frenética on-line não se transferiu para a leitura de livros off-line - e as dezenas de livros de contos, romances e coletâneas de estreantes voltaram para o limbo. Escrevinhadores de 2005 pra cá têm preferido os blogs. Os que insistem no livro físico deveriam ler De cabeça baixa, de Flávio Izhaki.
>>> De cabeça baixa
 
>>> CADA MESA É UM PALCO, DE LIMA+SALLES Carlos Fernando fez tanto sucesso nos anos 90, com o Nouvelle Cuisine, que seu fantasma continua nos assombrando nos anos 2000. Quem, senão ele, salta logo nas primeiras faixas de Cada mesa é um palco, de Claudio Lima e Rubens Salles? Felizmente, a angústia da influência, neste caso, é para bem. Afinal, as melhores interpretações são, efetivamente, as do início: "Bis", animadíssima, de César Teixeira, abrindo; "Minha Carta", oscilando, entre desesperada, arrastada e pontuada, de Tom Zé; "Caminhemos", grave e eletrônica, ao mesmo tempo, de Herivelto Martins; e "Lush Life", clássico reinventado com bravura, de Billy Strayhorn. O CD perde um pouco do ritmo a partir de "Lígia", dificílima depois do próprio Jobim; lenta demais aqui (chata&dramática e, não, lúdica&auto-irônica). "Tola foi você", então, parece querer pegar carona no revival de Ângela Rorô (pós-Barão Vermelho), mas só consegue soar indecisa entre os vários gêneros oferecidos. E "My Funny Valentine" é um desperdício, porque se rivalizar com o instrumentista Chet Baker em "Lush Life" poderia parecer admirável ao ouvinte, evocá-lo, de novo, depois, num ritmo de Marcos Valle contemporâneo, simplesmente não funciona. (A musa veio e se foi.) Neste ponto, com a arriscadíssima "Despedida", de rimas fáceis (e de um desconhecido Bruno Batista), o álbum empata. "Assum Preto", devagar quase parando, não ajuda na conclusão (o que diria Luiz Gonzaga dessa versão?). Cada mesa é um palco satisfaz a curiosidade nas primeiras audições (da primeira metade do disco); mas, num próximo passo, talvez seja melhor evitar a comparação com André Mehmari e Ná Ozzetti — por enquanto insuperável na atual formação de piano e voz.
>>> Cada mesa é um palco
 
>>> TECH NATION, BY DR. MOIRA GUNN Talvez a melhor rede de podcasts atualmente seja a denominada IT Conversations, sob o comando de Phil Windley. Em vez de soltar o ouvinte, de uma maneira errante, pela internet afora (atrás de áudio), Windley e seus associados reuniram, provavelmente, o que há de melhor em matéria de entrevistas, debates e até palestras em formato podcast. Se por um lado a abundância das "IT Conversations" inicialmente assusta, sua variedade não cansa — e, como novos episódios fluem sempre, cada podcaster pode trabalhar, no seu próprio ritmo, sua produção. O programa Tech Nation, da doutora Moira Gunn, é possivelmente um dos pilares da rede de Phil Windley. Com uma experiência prévia em rádio, e mais de 2 mil entrevistas no currículo, o objetivo da doutora Gunn é simples e apenasmente explicar a tecnologia, que faz cada vez mais parte de nossas vidas. E, para isso, ela já abordou desde os fundadores do Google, em pleno ano 2000, até Steve Wozniak, o parceiro de Steve Jobs, na invenção do computador pessoal (e da Apple). Já esteve com o discreto Linus Torvalds, do Linux, com Scott Adams, pai do tecnocrata Dilbert, e com Andy Grove, da Intel. Passou pela política, através do senador John McCain, circulou pela economia, com Paul Krugman, e até surfou nas ondas de Alvin Toffler. Se o elenco pode sugerir, de repente, a superficialidade dos talk shows da nossa televisão, vale advertir que, apesar da simpatia risonha da doutora Gunn, suas entrevistas mergulham fundo no assunto. Ex-cientista da Nasa, com passagens pelos conselhos de engenharia de Stanford, "Dr. Moira Gunn", como é conhecida, fincou tão firmemente sua bandeira na tecnologia que acabou se expandindo para a biotecnologia, com o BioTechNation. E se a rede IT Conversations dá a referência de qualidade aos podcasts na internet, a doutora Moira Gunn dá a referência à própria IT Conversations.
>>> Tech Nation
 
>>> E O CONSELHEIRO TAMBÉM DÁ AULA...

Ouça aqui a palestra que Julio Daio Borges, Editor deste Digestivo, proferiu sobre "Web 2.0", no curso de Jornalismo na Internet, promovido pelo Espaço Cult, no dia 27 de abril de 2008. (Vencedor da respectiva Promoção: Sergio Capozzielli Silva.)
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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