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Sexta-feira, 25/7/2008
Digestivo nº 374

Julio Daio Borges

>>> JOGOS DO PODER, DE MIKE NICHOLS Tom Hanks personifica os Estados Unidos da América no cinema já há algumas décadas, então todo filme com ele é suspeito até prova em contrário. Jogos do Poder, no entanto, conta com o brilhantemente subversivo Philip Seymour Hoffman — o coadjuvante que é, há anos, melhor do que muitos atores principais — e, embora seja propaganda republicana subliminar, o longa é anárquico e irreverente em igual medida. Julia Roberts também dá as caras — como uma dondoca texana das mais bem informadas — e a direção é de Mike Nichols, o que garante alguma isenção (se é que ela é necessária), por ter feito o controvertido Closer e o ex-controvertido (hoje clássico) A Primeira Noite de um Homem. Jogos do Poder está, ainda, longe de ser unânime e essa é, talvez, a sua maior graça, numa época de eleições presidenciais norte-americanas, em que um dos temas mais espinhosos é justamente a Guerra do Iraque. Ao contrário do engajado Leões e Cordeiros, de Robert Redford (pró-democratas, para quem não percebeu), Jogos do Poder conta a história do financiamento dos mujahidin, no Afeganistão, pela CIA, que resultou na primeira derrota do Exército Vermelho, no fim da década de 80 (sugerindo, para muitos, que começou aí a derrocada do comunismo e da antiga União Soviética). Charles Wilson (Hanks), um congressista do Texas, faz a ponte entre a CIA, representada por Gust Avrakotos (Seymour Hoffman), e o governo dos EUA, elevando o orçamento da operação, gradativamente, de 5 milhões para 1 bilhão de dólares. Embora tenha sido condecorado no final, a história não acaba aí — porque, aliás, a História nos levou ao 11 de Setembro. Teriam aquelas armas caído nas mãos do Talibã e de Bin Laden? Wilson, ele mesmo, se arrepende e diz que vai levar isso até o túmulo. Os Estados Unidos não deviam ter abandonado o Afeganistão em ruínas? Nunca vamos saber. Por isso Jogos do Poder se torna, atualmente, interessante.
>>> Jogos do Poder
 
>>> TRIO 202 AO VIVO: NEW YORK + SÃO PAULO Nelson Ayres (piano), Ulisses Rocha (violão) e Toninho Ferragutti (acordeom) estão entre os maiores instrumentistas brasileiros de suas respectivas gerações — mas eles não formavam um trio até abril do ano passado, quando, por um erro de uma produtora, e por um compromisso agendado de última hora pela mesma, Ayres, Rocha e Ferragutti deram à luz o Trio 202, para se apresentar no Jazz Standard, depois de apenas três noites de ensaios. O resultado, no CD Ao Vivo New York + São Paulo, é impressionante, sabendo-se ou não dessa história saborosa. É música brasileira de qualidade — e é jazz, também, de qualidade — desde a primeira faixa, uma releitura instigante de "Só Danço Samba", de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. A performance segue animada com "Teu Sorriso" (Rocha), "Helicóptero" (Ferragutti) e "Choro do Adeus" (Ayres). "O Morro não tem vez" desponta, junto com a lembrança de Piazzolla em "Alfonsina y el Mar" (de Ariel Ramirez e Felix Luna), entremeadas por "Sanfonema" (de Ferragutti). O registro fecha no auge com a eterna "Ponteio" (de Edu Lobo) e a bem escolhida "De Bahia ao Ceará" (do justamente revisitado mestre Moacir Santos). A bendita confusão do Trio 202 se estendeu até o Tom Jazz e quem viu, teve sorte — apesar de que todo mundo pode ouvir agora. O lançamento foi da Azul Music e o mínimo de reconhecimento que deveria ter merecido é o de ser considerado um dos melhores álbuns instrumentais do último ano. Entre tantas participações inócuas de instrumentistas, entre tantos revivals sem o menor sentido e entre tantas produções seriadas sem nenhuma importância, o Trio 202 se destaca, até como uma bagunça inspirada de três grandes virtuoses.
Dani Gurgel
>>> Trio 202 ao Vivo: New York + São Paulo
 
>>> OFICINA BISTRÔ FERNANDO MORAIS Para quem quer sair das rotas mais manjadas da gastronomia paulistana, uma boa pedida é o Oficina Bistrô, do jovem chef Fernando Morais, no bairro da Pompéia. Homônimo do biógrafo mais comentado do ano, o discípulo do chef Alessandro Segato não tem, contudo, qualquer parentesco com o escritor mineiro. Morais, do Oficina, impressionou Segato quando foi ter com ele aulas, aos 20 e poucos anos. Depois do boom dos cursos superiores de gastronomia, ninguém poderia imaginar uma história simples assim — mas foi o que aconteceu: Morais trabalhou com Segato no Zoë, no La Risotteria e chegou a cozinheiro-chefe do Empório do italiano. O Oficina Bistrô, portanto, é o vôo solo do chef Fernando Morais, depois de passar, ainda, pelo Goga, do Alto de Pinheiros. Na decoração, o Oficina fez uma opção pelo "rústico sofisticado" — que revitalizou tantas casas consideradas hoje "vintage" na cidade: paredes descascadas e tijolos aparentes, na fachada, convivem com tábuas de caixas de uva, madeiras de assoalho de trem e até um eixo de carro de boi, no interior. Logo na entrada, uma "cozinha vitrine" ou "cozinha show", dividindo o salão principal de um segundo ambiente, intimista e aconchegante nas noites de frio, como uma taberna. Morais, embora atento e eficiente na preparação dos pratos, busca um clima informal, abordando as mesas, explicando detalhadamente as opções do cardápio e estimulando, inclusive, a interação entre os clientes. Num dia qualquer da semana, no horário do jantar, é possível encontrar desde turistas amistosos de fora de São Paulo até jornalistas da Folha (que afluem constantemente depois dos elogios de Josimar Melo). O menu é um pouco exótico, mas compensa qualquer risco que se venha a correr: as Lascas de Polvo do Chef (como entrada), a Arraia ao Burro e Tomilho ou o Coelho Brulé (como prato principal) e o Estrogonofe de Frutas com Sorvete ou o Espelho de Pistache (como sobremesas) são os destaques. Morais mantém a precocidade do ex-pupilo de Segato e o sucesso, imediato, de sua primeira casa é plenamente justificado.
>>> Oficina Bistrô Fernando Morais
 
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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