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Sexta-feira, 23/1/2009
Digestivo nº 399

Julio Daio Borges

>>> A CULTURA DO RENASCIMENTO NA ITÁLIA, DE JACOB BURCKHARDT Depois de ouvi-lo falar de grandes homens da história, em preleções na universidade da Basiléia, Nietzsche, aos 24 anos — entre se doutorar e assumir a cátedra de filologia —, concluiu que, pela primeira vez na vida, sentia prazer em assistir a uma aula. Não é nova a incompatibilidade entre o gênio e a universidade; Schopenhauer dedicou um livro inteiro a combater, por exemplo, a "filosofia universitária". O fato é que o jovem Nietzsche e o professor Burckhardt se aproximaram; e gostavam muito de conversar, em passeios, sobre alguém que chamavam de "o nosso filósofo"... Schopenhauer, claro. Vinte anos depois, Burckhardt foi quem alertou a irmã de Nietzsche para o fato de suas cartas indicarem alguma coisa errada. Era o começo da loucura do autor do Zaratustra... Burckhardt, que publicamente dizia não se interessar por filosofia, além de ser amigo de Nietzsche, foi um dos maiores historiadores do século XIX. E sua obra-prima foi, justamente, A cultura do Renascimento na Itália, que a Companhia das Letras relança agora em formato de bolso. Burckhardt consolidou a noção de que a renascença italiana culminava com o desenvolvimento do indivíduo, a "descoberta" do mundo e do homem (não sendo, tão somente, um "redespertar" da Antiguidade). Schopenhauer entra na história, com seu conceito de "vontade", porque Burckhardt, ao abordar a Itália do período, apostava num Estado determinado pela cultura, e, não, pela política, pura e simples, ou pela religião, como na Idade Média. Portanto, aproximava a Itália renascentista da época da pólis grega, quando a cultura também reinava soberana. Voltaire, em sua modéstia ímpar, considerava que o Renascimento era um dos quatro períodos, na história humana, dignos de consideração. Quem nos lembra é Peter Burke, na introdução ao volume. Se Voltaire tinha razão, no seu vício de polemista, nada como se iniciar através deste ensaio clássico...
>>> A cultura do Renascimento na Itália
 
>>> 24 HORAS — REDENÇÃO, O FILME O longa da eletrizante série 24 Horas se fazia anunciar no Internet Movie Database (IMDb) desde o ano passado. Mas, agora lançado em DVD, descobrimos que não é um filme conforme muitos esperavam. Não é, surpreendentemente, um teaser para não-iniciados em matéria de Jack Bauer — é, ao contrário, um remendo, um parêntese, um interlúdio entre a sexta e a sétima temporadas. O medo dos realizadores era o de haver uma nova greve dos roteiristas neste ano, prejudicando, como em 2008, a cronologia de 24 Horas e o andamento dos trabalhos. Solução: adiantar uma nesga da próxima temporada com um produto novo (chegaram, inclusive, a cogitar formatos para a internet ou para o celular). As gravações começaram, adiantadamente, no fim de abril e terminaram em junho. Bauer, depois de matar boa parte do elenco (e ir perdendo, ano a ano, seus colegas e familiares), ressurge em "Sangala", um país fictício da África. Como a ação nunca o abandona, chega procurando se reconciliar com sua alma inquieta, mas encontra a região no meio de um iminente golpe de estado. Voilà: Bauer, mais uma vez, não consegue, como agente, se aposentar. A idéia por trás do roteiro se aproxima, deliberadamente, do genocídio de Ruanda, durante o governo Clinton — o qual se eximiu de intervir, sendo criticado, justamente, por dar a entender que, na África, não estão em jogo interesses como, no Oriente Médio, o do petróleo... Coincidência ou não, a série que já antecipou um presidente negro, em 2001, atualmente aposta numa mulher presidente, aproximando-a, inevitavelmente, de Hillary Clinton. Bauer salva as criancinhas africanas de uma guerra civil, mas a suposta participação de norte-americanos na ação golpista — neste Redenção apenas sugerida — há de ser concluída na sétima temporada... O filme, exibido na TV dos EUA, atraiu mais de 10 milhões de telespectadores. Bauer, ainda assim, sem alma (e quase sem identidade), vai ter de se reinventar na sua sétima encarnação.
>>> 24 Horas
 
>>> OUTSIDERS, DE HOWARD S. BECKER Entre os fora-da-lei e os "estabelecidos", surgiram os outsiders ou "desviantes". Preocupado em "descriminalizar" quem não seguia estritamente as regras — contestando-as, ou simplesmente protestando com um comportamento insubordinado —, Howard S. Becker publicou, em 1963, Outsiders. Mas não se trata de uma obra sociológica qualquer — embora às vezes surjam entediantes interpretações de dados (pretensamente "fazendo ciência") —, e tampouco Becker se revela um sociólogo inconveniente (daqueles televisivos, que, no Brasil, querem meter o bedelho em tudo)... Outsiders redime quem sempre se sentiu diferente do grupo, mas, igualmente, alerta para o risco iminente de "guetização" (para usar outra expressão do vocabulário sociológico). Consciente ou inconscientemente, os outsiders se incomodam com as leis socialmente acordadas e as burlam, às vezes exageradamente, outras vezes apenas para introduzir regras novas. Esse comportamento, contudo, desperta uma reação da própria sociedade que deseja punir os transgressores ou então pedagogicamente enquadrá-los. Não espanta que o livro tenha sido escrito nos anos 60, época de mudanças de comportamento, na qual, culturalmente falando, se todo mundo fosse preso, não sobraria muita gente para contar a história... Encarar o outsider como "não-criminoso" foi um grande passo e ele se deve a Becker. Agora, a "ideologização" do outsider e sua transformação em figura cool pode ser perigosa. A rebeldia é necessária para revitalizar a sociedade. Não confundir, porém, losers com outsiders...
>>> Outsiders
 
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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