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Sexta-feira, 20/3/2009
Digestivo nº 407

Julio Daio Borges

>>> A CIDADE ILHADA, DE MILTON HATOUM Embora seja considerado um dos principais escritores brasileiros contemporâneos, Milton Hatoum publicou, relativamente, pouco. No ritmo vertiginoso do mercado editorial brasileiro, Milton conseguiu resistir bravamente e lançar desde 1989 apenas três romances, uma novela e, agora, um livro de contos — o que dá uma média de um livro a cada quatro ou cinco anos. O tempo, contudo, esteve a favor de Milton Hatoum, porque, apesar de destoar da velocidade com que se publica hoje, sua reputação vem crescendo e seu sucesso tem sido igualmente bem administrado. Órfãos do Eldorado, lançado apenas três anos depois da obra-prima Cinzas do Norte (2005), é uma novela perfeitamente escrita e A cidade ilhada, o livro de contos deste ano, tem momentos de brilho num gênero em que Milton não era tão conhecido. Se começa borrando as fronteiras entre esse formato e o da crônica — evocando, inclusive, personagens de outros livros, como "Tio Ran" —, há inquestionável qualidade em narrativas como "Dois poetas na província", "Bárbara no inverno" e "Encontros na península". No primeiro, um jovem poeta parte para a França, enquanto seu velho professor apenas sonha com ela (e sua literatura); no segundo, exilados se encontram e se desencontram, na militância e no amor, no exílio e na pátria; e, no terceiro, o narrador dá aulas de português a uma espanhola fogosa, cujo amante, fã de Eça de Queirós, detestava o nosso Machado. No final, ficamos sabendo que os 14 contos foram escritos, e publicados, em diferentes épocas — o que talvez justifique a aparente falta de unidade de A cidade ilhada. Para os leitores, o que importa é que Milton Hatoum continua Milton Hatoum e que sua leitura permanece, felizmente, indispensável.
>>> A cidade ilhada
 
>>> MEDOS PRIVADOS EM LUGARES PÚBLICOS, DE ALAIN RESNAIS Não faz muito tempo, achávamos que o individualismo, e a solidão, nas grandes metrópoles iriam nos matar. Medos Privados em Lugares Públicos, de 2006, é dessa época, mas os temores que revela são tão recentes que, apesar de ter chegado em DVD, continua ainda em cartaz. Cruzando personagens, e mantendo uma distância regulamentar (não-catártica), Resnais conta a história de solitários em Paris que se agarram no amor, como sua última esperança, e fracassam. É interessante acrescentar que o filme se baseia numa peça de Alan Ayckbourn, com o mesmo título, mas que originalmente se passa numa província da Inglaterra. A tragédia para os europeus — Medos Privados parece nos contar — é que o Estado de bem-estar social trouxe emprego, casa, comida e até alguma diversão para (quase) todos, mas privou suas vidas de sentido — de forma que ficam o tempo inteiro manejando blocos como "trabalho", "vida familiar" e "relações amorosas", mecanicamente, sem entender seu significado ou encontrar qualquer realização maior. A igualdade — ou a tentativa dela — coloca limites para todos, que recebem sua "cota" de felicidade, mas que não podem inventar nada, sob o risco de sacrificar a estrutura social. Os personagens de Medos Privados não foram contemplados com a "sorte" de se encaixar no modelo mais amplo da sociedade, então sofrem e são rejeitados, cada vez mais. A força do longa está no fato de que ele reverberou — provando que a situação retratada pode não ser "de exceção"... No embalo da crise financeira, do questionamento do modelo norte-americano, dos problemas do Japão, a Europa deve rever tudo o que andou consolidando nos 1900s — o que, por mais delicado que seja neste momento, pode trazer novo alento aos solitários representados em Medos Privados.
>>> Medos Privados em Lugares Públicos
 
>>> EPICENTRO, O TED BRASILEIRO? A internet tem mania de lançar coisas novas. Quase a exemplo das obras públicas no Brasil, parece sempre mais fácil começar algo "do zero" do que manter o que já existe, corrigir ou simplesmente aperfeiçoar. Talvez seja um problema do mundo virtual, onde, para apagar — ou melhor, "deletar" —, alguns toques no teclado ou cliques no mouse costumam bastar. Nesse mar de inovação on-line, como não se confundir com iniciativas lançadas no ritmo do Twitter? Ricardo João Magalhães encontrou uma forma — inovadora? —, mas pode ter se complicado na mesma medida em que adquiriu súbita notoriedade. Ricardo organizou o Epicentro, que acontece dia 19 de março agora, em São Paulo, reunindo 16 palestrantes com o objetivo de "trocar ideias que valem a pena espalhar". Tudo bem, se o slogan não fosse a tradução literal de "Ideas worth spreading" e se o Epicentro não se incomodasse em receber a alcunha (ou mesmo autointitular-se) "o TED brasileiro". O TED —"Technology, Entertainment, Design" —, além de, originalmente, ter esse slogan, nasceu na Califórnia, nos anos 80, mas ficou efetivamente conhecido por disponibilizar palestras com luminares on-line. O TED acontece "ao vivo", naturalmente, mas seu alcance é muito maior graças à geração YouTube, iPod e das redes sociais. O Epicentro vai ter Aleksander Mandic, Pedro Mello e Christian Barbosa, entre outros, mas seu real valor pode estar nas discussões que já andou gerando, em blogs como os de Fabio Seixas e Cris Dias (o primeiro igualmente palestrante).
>>> Epicentro
 
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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