busca | avançada
119 mil/dia
2,0 milhão/mês
Sexta-feira, 31/7/2009
Digestivo nº 426

Julio Daio Borges

>>> PARA SEMPRE TEU, CAIO F., POR PAULA DIP Muita gente lembra de Paula Dip da televisão. Dos programas da TV Gazeta, como o TV Mix, que tinha também Sergio Groisman e Astrid Fontenelle (pré-MTV). Paula Dip, na verdade, foi a primeira apresentadora do Metrópolis da TV Cultura, quando ele ainda se chamava Panorama. E ficou célebre não só por causa da televisão, mas por outra razão talvez até mais nobre, sua amizade com Caio Fernando Abreu, que lhe dedicou cartas e contos. O escritor símbolo dos anos 80 teve igualmente passagens pelo jornalismo, mas cresceu, depois de sua morte (de Aids em meados dos 90), por causa de seus livros. O amigo de Paula virou um mito, nas letras brasileiras, assim como Cazuza e Renato Russo, no rock BR. Paula Dip, portanto, poderia ter retornado através da televisão, que a consagrou, e mesmo do jornalismo escrito, que praticou com competência, dividindo, por exemplo, a edição da revista do badalado Gallery com Antônio Bivar — mas preferiu celebrar a amizade com Caio, em livro, que sai agora, pela Record. Para sempre teu, Caio F. (sendo o "F." uma brincadeira que o próprio fazia com "Christiane F.") conta a história de duas décadas de amizade, do fim dos anos 70, e da virada para os 80, até a morte de Caio. Recheado de depoimentos de gente como Pedro Paulo de Sena Madureira e Luiz Schwarcz, virtualmente seus primeiros editores, Caio F. alterna a biografia do escritor com a da própria Paula, sem uma estrutura rigorosa, mas transbordando em vida e provocando uma leitura sôfrega (fazendo jus, aliás, ao personagem). Desde a saída de Porto Alegre até a convivência em São Paulo, Paula refaz a trajetória de Caio por comunidades hippies no Rio, temporadas na Europa, encontros com Clarice Lispector, Elis Regina e Hilda Hilst, entre outras aventuras. Caio F. não só escreveu, mas viveu intensamente — coisa que nem sempre escritores se lembram de fazer. O livro ainda vale por uma reconstituição cultural do Brasil recente (quando estamos tão mal acostumados a ler sobre o fim do século XX — preferindo, geralmente, o início ou a metade dele). Se já tinha deixado um legado de realizações importantes na TV e no jornalismo em revista, agora Paula Dip faz o mesmo em livro, registrando não só uma amizade histórica, mas um belo testemunho de sua geração.
>>> Para sempre teu, Caio F.
 
>>> REVISTA FLORENSE Onde está o jornalismo cultural? Não nos jornais. Nem nas revistas. Não no mainstream editorial, pelo menos. Se as publicações tradicionais têm de embarcar no crescimento das classes C e D, com capas de atores globais, efemérides de meados do século passado e realizadores do tempo da velha indústria, jornalistas que não querem repetir os mesmos assuntos, nem ceder à pressão dos releases (e das assessorias) e pautar o que há de relevante (e está na ordem do dia), correm para os veículos independentes. Se em outras décadas, uma publicação como o Pasquim, que fazia 100 mil em banca, era considerada "nanica", fazer algumas dezenas de milhares hoje é quase um recorde (que alguns "grandes" jornais, inclusive, custam a alcançar). Por consequência, revistas fora do circuito estão dando um banho no "jornalismo cultural" alquebrado de jornalões e outras publicações acomodadas em banca. Mais um exemplo é a Revista Florense, editada por Renato Henrichs e Vanderlei Venturin (arte). Na última edição, de inverno (número 22), tem-se Sérgio Augusto sobre Capitão Marvel, Ana Maria Bahiana sobre os novos vampiros no cinema, Luís Antônio Giron sobre Wagner Moura e Ruy Castro sobre a história o disco, entre outros jornalistas. Ainda desfilam, pela Florense, Cássio Loredano, Sergio Faraco e Gustavo Dudamel, entre outros artistas. É raro um exemplar aleatório, de qualquer publicação tradicional, que ofereça tanto para ler. O chamado "valor agregado", expressão da qual muita gente não gosta, está saindo do mainstream editorial, que tenta, desesperadamente, concorrer com televisão e internet. Além de perder a batalha do modelo de negócio — acelerada pela crise —, pelo visto está perdendo também a do jornalismo (que tanto alardeia saber fazer)...
>>> Revista Florense
 
>>> O ALUMIOSO, POR DI FREITAS Ariano Suassuna tem como uma de suas principais influências Miguel de Cervantes e encontra no Nordeste brasileiro um lado medieval, que persiste, apesar da vinda da Corte (século XIX), da proclamação da República (século XX) e da chamada globalização (século XXI). Quem duvida, deveria escutar O Alumioso, do músico Di Freitas, lançado pelo Selo Sesc, um dos mais dedicados à pesquisa de música realmente brasileira. Além do Nordeste, de compositores como Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira (em "Juazeiro", que abre o disco), encontramos, nas composições de Di Freitas, surpreendentes traços de música indiana e árabe (em "Cantigas de Mouro"), africana e caribenha (em "Salsa com Baião"), música caipira (em "Lavras da Mangabeira") e, inclusive, a poética dos romances de cavalaria (em "Flor de Algodão", com participação de Juliana Amaral). Di Freitas, que também atende por Francisco, como se não bastasse, fabrica instrumentos e alterna criações suas, enriquecendo as faixas em sonoridade, com violoncelo de cabaça, marimbau e rabeca igualmente de cabaça, fora lira nordestina, "viola de 13", violão e alaúde. Sem contar os sopros, como clarinete e flauta doce, que também toca. Com passagens dedicadas a outros mestres, como Nonato Luiz, O Alumioso é tão vasto em influências do cancioneiro de diferentes tradições que mal conseguimos defini-lo — o que está OK, já que nem Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc, nem Antonio Madureira, mais próximo ao músico, conseguem. Realizações como essa, de Francisco "Di Freitas", indicam que sempre há, no Brasil, culturas a serem descobertas.
>>> O Alumioso
 
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

busca | avançada
119 mil/dia
2,0 milhão/mês