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Quarta-feira, 10/4/2002
Digestivo nº 76

Julio Daio Borges

>>> A ALEGRIA DO PALHAÇO Na escola, aos professores de política internacional, jamais interessa que os conflitos contemporâneos se resolvam. À imprensa, que vive de vender jornais e revistas, igualmente não interessa que as desgraças cessem e que a paz mundial seja instalada. O que dizer, então, dos maiores fabricantes de armas e dos belicistas chefes de estado, que existem e vão continuar existindo, do homem de Neanderthal até à raça que se espalhará pelas galáxias? O caso agora, do Oriente Médio, entra também na ordem do dia porque, depois do 11 de setembro, o Ocidente aprendeu que querelas milenares podem reverberar em paragens até então insuspeitadas. E dá-lhe opiniões desinformadas; e dá-lhe palpites infelizes. Estudiosos, religiosos, e até curiosos pela matéria, clamam para si o direito divino de tirar as conclusões que o momento exige. Esquecem-se, porém, que um dos maiores ignorantes no assunto está decidindo, na Casa Branca, em nome do planeta inteiro. Uma lição duríssima para se convencer de que atos ainda valem infinitamente mais que palavras. Ao mesmo tempo que um sujeito lá do Texas pode apertar o botão e explodir com tudo, os dois principais líderes, de israelenses e palestinos, nada podem contra as iniciativas solitárias e altruístas (!) de seus homens e mulheres-bomba. Hobsbawm errou feio quando disse que o século XX havia se encerrado e que, junto como ele, a Era dos Extremos: contra as maiores superpotências de que se tem notícia estão opondo o terrorismo do faça-você-mesmo, do ready-made, do self-made man. Quer contradição mais espantosa? E desanimadora?
>>> Conta para o Império
 
>>> BEM-VINDA AMIZADE O Jairzinho mudou de nome; agora assina “Jair Oliveira”. A mudança tem uma razão de ser; e, antes de numerológica, é musical. Não à toa, o CD que assinala essa mudança veio a se chamar “Outro”, e acaba de ser lançado pela Trama. Quem ainda guardava aquela imagem do tempo “superfantástico” da televisão, ou mesmo do filho de Jair Rodrigues que foi estudar nos Estados Unidos e fazia a ronda dos bares da moda paulistanos, vai se espantar. Lô Borges tem razão no elogio que lhe dedicou: Jair Oliveira ainda djavaneia um pouco (o que para ele pode ser uma honra), não obstante encontra seu lugar ao sol, dentro da estética samba & soul, forjada em álbuns anteriores pelos filhos de Simonal e por ele próprio. Ainda nesse gênero, vai topar com outro entusiasta e modernizador do som dos anos 70: Ed Motta. Jair e Ed compõem juntos “Amor e Saudade”, a quinta faixa de “Outro”. Embora com um pé firme na eletrônica, e nas lições de Max de Castro (vide “Sou Teu Nêgo”), Jair Oliveira não esquece os ensinamentos de Jair Rodrigues e mostra que o morro também tem vez no seu disco: “Dor de Ressaca”, uma autêntica ode ao malandro e à malandragem, é um de seus pontos mais altos. Além da música, ou por causa dela, há uma grande preocupação em despertar a atenção do ouvinte: seja através de vinhetas; seja através de minutos de silêncio; seja através de falas escondidas aqui e acolá. O recurso vai irritar os puristas, mas na era da interatividade até que faz muito sentido. O tempo, como sempre, dirá. Fica, contudo, o fato incontestável: tem compositor novo na praça.
>>> Outro - Jair de Oliveira
 
>>> VERKLÄRTE NACHT Dando continuidade à Temporada 2002 do Teatro Alfa, passou por São Paulo a Orquestra de Câmara Filarmônica de Viena. A visão dos jovens músicos, ocupados com suas madeixas, seus sorrisos e sussurros, executando Mozart, Haydn, Bruckner e Schoenberg, não deixa de ser alentadora (ainda mais num tempo em que a norma é propagar a morte da cultura, de preferência aos quatro ventos). Por mais que insistam os detratores da urbe, deve ser motivo de satisfação, poder contar com o desempenho corretíssimo da nata musical vienense, em pleno processo de formação. (Afinal, quantas cidades no mundo têm esse privilégio?) Obra consagrada da maturidade de Mozart, a Sinfonia nº 29, soou leve e respeitosa, com alguns poucos momentos enérgicos. Já o Concerto para Piano nº 4, de Haydn, que trouxe a participação do pianista Andreas Frölich, foi o ponto alto lírico do programa, exigindo do executante concentração e alguma cota de virtuosismo. Já o estranhamento (para o bem) e o completo “descolar” da realidade foram provocados pela Noite Transfigurada, de Arnold Schoenberg. Todos os movimentos num só movimento; as quebras e inflexões alternando sentimentos na platéia; a impressão de que não havia mais o tempo – enfim, características e sensações intransmissíveis que marcaram quem viu e ouviu. Por essas e por outras que a Temporada do Teatro Alfa não deixa nada a dever às demais temporadas. Todas elas elevando a “Vila de São Vicente” a novos patamares de civilização.
>>> Orquestra de Câmara Filarmônica de Viena
 
>>> O CONSELHEIRO TAMBÉM COME (E BEBE) O dia-a-dia na metrópole é opressivo e duas das possíveis saídas para o paulistano (quando não aquela pelo aeroporto internacional de Guarulhos) são: ou a saída pelo litoral; ou a saída pela montanha. Assim, um restaurante que, logo de início, está localizado fora dos limites da selva de pedra, transmitindo a nítida impressão de se estar numa casa de campo, já merecia ser visitado pela troca de ares que proporciona. Se, ainda assim, esse mesmo restaurante oferecesse um menu franco-italiano de primeira linha e, para completar, mantivesse os preços abaixo da média dos praticados por estabelecimentos de mesmo nível, então esse restaurante seria impossível. Mas ele existe e se chama “Felix Bistrot”. Estrategicamente bem posicionado na Granja Viana, oferece ambientes muito vivos e multicoloridos, em que a vegetação reina soberana ao lado do bom gosto na decoração. Além do irresistível terraço, junto ao jardim e à piscina, o visitante pode escolher entre o aconchegante salão principal e o salão de festas (ideal para comemorações e eventos). Os destaques gastronômicos ficam por conta da “Salade Printemps” (flores, frutas e queijo brie) e da “Crostine de Fromage de Chèvre” (queijo de cabra com tomate picado no pão italiano), como entradas; em seguida, a “Pedrix Mariné au Porto” (perdiz marinada ao porto com risoto), o “Magret de Carnard à la Purée de Pomme” (peito de pato com purê de maçã e repolho roxo) ou o “Ravioli de Mozarrèle aux Cèpes” (ravioli de mussarela de búfala ao funghi), como pratos principais; e, para terminar, a “Coupe Tropicale Sauce d’Orange Parfumée au Curação” (frutas, sorvete de limão, molho de laranja e curação) ou a “Délice au Chocolat” (terrine de chocolate com molho de framboesa), como sobremesas. Tudo isso a 15 minutos da capital. A qualidade de vida e a qualidade na cozinha estão, afinal, mais próximas do que se poderia imaginar.
>>> Felix Bistrot - Rua José Felix de Oliveira, 555 - Granja Viana (acesso pelo km 23,5 da rodovia Raposo Tavares) - Tels.: 4612-2339 e 4702-3555
 
>>> ARE YOU IN OR OUT? “Onze Homens e Um Segredo” foi virtualmente ignorado (o que, às vezes, é pior do que ser escorraçado) pela crítica, embora esteja há um bom tempo em cartaz e tenha sido apontado, nos salões privados, como uma boa opção de entretenimento. Claro, o filme é hollywoodiano in extremis: povoado por uma constelação de astros e estrelas, pega carona naquela mistura de cassino com glamour e foras-da-lei, requentando a fórmula (de 1960) com tecnologia de ponta e uma trama original o suficiente para agüentar até o próximo mês. Mesmo assim, é divertido e vale à pena ser assistido. Afinal, é isso que as pessoas (afugentadas pelo cinema nacional, pelas reestréias pós-Oscar e pelos alternativos europeus) querem ver. Se faltam argumentos para convencer os mais recalcitrantes, não custa lembrar que a direção fica a cargo de Steven Soderbergh, o mesmo do mundialmente celebrado “Traffic” (de 2000). O elenco conta ainda com Matt Damon, o precoce e sobrevalorizado “Gênio Indomável” (de 1997, apesar de um pouco obscurecido desde então). Óbvio que é necessário atravessar os clichês que, ano a ano, rendem milhões a Julia Roberts, Brad Pitt e George Clooney, mas suas performances não aborrecem os mais exigentes (até porque eles aprenderam alguma coisa com Guy Ritchie e os Irmãos Cohen). Andy Garcia, que não chegou a latin lover (como Antonio Banderas) e que andava meio fora do circuito mainstream, encarna o “bad boy” (contra o qual todos devem torcer). Frank Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis Jr. continuam insuperáveis, mas há que se considerar que, em 50 anos, os objetivos da sétima arte e das platéias mudaram muito.
>>> Ocean's Eleven
 
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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