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Quarta-feira, 15/3/2006
Os Brutos Também Amam

Julio Daio Borges




Digestivo nº 270 >>> Às vezes, de tanto chutar, Arnaldo Jabor acaba acertando. Como acertou sobre O Segredo de Brokeback Mountain. De fato, o filme é bom porque é incômodo. Porque, embora trate de um amor homossexual, não tem nada de necessariamente “gay” (no que este adjetivo tem de mais pejorativo – Paulo Francis: “Uma palavra tão bonita... o que foram fazer com essa palavra!”). Para um homem acostumado a admitir para si “os gays estão lá e eu estou aqui”, Brokeback Mountain é um balde de água fria sobre crenças já estabelecidas. Jack Twist (Jake Gyllenhaal) é bonito e Ennis Del Mar (Heath Ledger) dá entender, até para o expectador mais machão, que poderia acontecer com qualquer um. De repente, no meio de uma “trombada” noturna, numa barraca, no alto de uma montanha... alguém pode encontrar, além de satisfação momentânea... um grande amor! E a sempre incômoda opção. Mesmo casando e tendo filhos depois... Mas a sexualidade é sempre problemática. Vale recordar que J.M. Coetzee inicia seu Desonra (Prêmio Nobel de Literatura de 2003) com o personagem principal acreditando, na meia idade, haver resolvido “o problema do sexo”. Ele não era gay, nem “homo” – estava falando de prostituição. E não havia resolvido coisa nenhuma. Senão o livro não teria um título desse teor... Tudo bem, Brokeback Mountain, na estética e na poética, é meio água com açúcar. Vida sexual hoje é água com açúcar. Assunto de novela das seis; capa de revista semanal de fofoca. E – vamos admitir – no meio da caretice, e da falta de gosto, daquele ambiente nos Estados Unidos, valia quase qualquer coisa, para "sair"... Quase qualquer coisa. Pedro Almodóvar fez, sobre o tema, uma obra-prima. Ang Lee, não – mas, quem sabe, ele não torna, agora, mais palatável o Almodóvar.
>>> Brokeback Mountain
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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