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Quarta-feira, 26/3/2008
Samba Meu, o show de Maria Rita

Julio Daio Borges




Digestivo nº 360 >>> Maria Rita não vai conseguir escapar da controvérsia tão cedo. Quem assistiu à estréia do seu show Samba Meu, no Citibank Hall em São Paulo, comprovou. Não é só a sombra de Elis Regina que persegue a intérprete. Desde que se lançou, Maria Rita sofre com a contradição de ser uma cantora nata, cuja alma foi vendida ao mainstream a prazo. Assim, ao mostrar, ao vivo, que tem provavelmente "ouvido absoluto", é obrigada a encarnar uma nova personagem a cada turnê, possivelmente sob as ordens do marketing de sua gravadora — que, atualmente, não hesitaria em transformar uma diva negra do jazz americano em uma spice girl loira do pop britânico, se as "pesquisas" de hábitos do consumidor indicassem nessa direção. Logo, Maria Rita até quer cantar "samba de raiz", e sua escolha de compositores faz algum sentido (ela entende mesmo de música), mas, paralelamente, desvia a atenção para questionáveis decotes (para os quais não tem corpo), para seu bronzeamento de laboratório e para seu novo abdômen "tanquinho". Elis Regina — e é quase atávica a comparação aqui — também se entusiasmava com o mise-en-scène do palco, nesse sentido é paradigmático seu show Falso Brilhante, mas ela tinha propósito, tinha até discurso, pensava saber para onde estava caminhando, e não simplesmente cedia aos ditames da moda (ainda mais aos ditames de uma indústria falida, a do disco...). A chave para a compreensão do fenômeno Maria Rita, portanto, é que ela tem, decididamente, talento musical, mas falta-lhe senso histórico, falta-lhe consciência, por exemplo, de seu lugar na história da MPB e falta-lhe, sobretudo, um projeto artístico. Sem isso, Maria Rita pode até impressionar pelo virtuosismo em estúdio mas vai continuar perdendo na comparação com a mãe ao vivo.
>>> Maria Rita
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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