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Quarta-feira, 13/8/2008
Não estou lá, com Cate Blanchett

Julio Daio Borges




Digestivo nº 377 >>> Não estou lá foi mais anunciado pelo casting superestelar para dar conta do camaleônico Bob Dylan do que por qualquer outra coisa — mas é mais uma mensagem cifrada para não-fãs de Dylan do que um cartão de visita do seu songbook (para não-iniciados). Apesar de presenças de peso, como o já jovem mito Heath Ledger (o atual Coringa) e o galã aposentado Richard Gere, quem brilha, incontestavelmente, é Cate Blanchett. Focada no primeiro e mais interessante ponto de inflexão de Bob Dylan — quando ele abandonou a aura de profeta folk e se converteu às guitarras elétricas (virando popstar) —, apresenta a última crise de consciência de Zimmerman, antes de vender a alma ao establishment, a qual poderia tê-lo matado (como deixa sugerido o próprio filme). Mesmo Blanchett, contudo, não explica muita coisa — dura, por exemplo, um segundo a cena em que ela apresenta as drogas aos Beatles. E seus delírios com Allen Ginsberg compensam — apesar de ininteligíveis — a perseguição cansativa do âncora do jornalismo, querendo, invejosamente, desconstruir o mito. O personagem Woodie Guthrie desempenhado pelo jovem ator negro Marcus Carl Franklin foi, efetivamente, uma sacada — embora jamais cole um Dylan tão precoce. Ben Whishaw solta bons aforismos autodenominando-se "Arthur Rimbaud" — mas quem entende a sutileza daquilo? Heath Ledger vale por afirmar que "mulheres nunca poderiam ser poetas"; no mais, é um bêbado enfadonho brigando com uma mulher mais chata ainda. Christian Bale compensa evocando Lee Oswald, mas estraga tudo (até Julianne Moore) convertendo-se ao cristianismo. Não estou lá, enfim, é um filme à clef, com altos e baixos — não aconselhável, portanto, para não-versados no tema Bob Dylan.
>>> Não estou lá
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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