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Segunda-feira, 25/5/2009
Santiago, de João Moreira Salles

Julio Daio Borges




Digestivo nº 417 >>> O que ficou de Santiago, à época de seu lançamento, parecia ser a cultura monumental do personagem, Santiago, retratado por João Moreira Salles — e não tanto sua relação, bastante pessoal, com a profissão de documentarista. Agora, com o DVD, fica claro — por conta dos extras — que a feitura de Santiago, o filme, era mais um acerto de contas entre o João de 1992 e o outro, de treze anos depois. Santiago — o verdadeiro — aparece mais como o objeto de um documentário que não se concretizou, em 1992 (apesar de ter, efetivamente, uma cultura monumental, ora eclipsada por lapsos, muito naturais, dada a sua idade avançada). Santiago — ou até o outro documentário de antes — terminou finalizado, mas a cisão inicial permanece até hoje. Se, em 1992, João Moreira Salles queria evitar que sua família aparecesse, o que tornava o documentário quase impossível (porque Santiago trabalhou como mordomo, durante trinta anos, para os Moreira Salles), em 2005, João, depois da crise existencial dos 40, queria retomar sua história, mas ainda não encarava o enredo que percorre as imagens e os depoimentos em Santiago (mas que nunca é abordado de fato): a história de sua família, a história dos Moreira Salles. O tema é íntimo e talvez mais íntimo do que o próprio João Moreira Salles poderia imaginar: escolher Santiago — um personagem, efetivamente, fascinante — acaba servindo como subterfúgio, para o documentarista não encarar a história de opulência de sua família que, num país como o Brasil, gera sentimentos conflitantes. Como no caso do último Walter Salles, João deveria simplesmente abandonar o fardo de tentar fazer "justiça social" em tela grande. Mesmo o país de Lula precisa de uma elite atuante; e ela não deve se envergonhar de sê-lo; como, provavelmente, nunca se envergonhou Walter Moreira Salles.
>>> Santiago
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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