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Sexta-feira, 18/9/2009
Gran Torino, de Clint Eastwood

Julio Daio Borges




Digestivo nº 433 >>> Assim como Jack Nicholson vai ficando mais amargo e desiludido a cada novo papel na medida em que envelhece — vide Confissões de Schimdt (2003) e, mais recentemente, Antes de Partir (2007) —, Clint Eastwood vai se fechando irreversivelmente para o mundo e adotando o pessimismo como filosofia de vida, desde Menina de Ouro (2005) até este Gran Torino (2008, agora em DVD). Embora o roteiro não seja seu, a produção e a direção são suas, e, conforme observou o crítico do Los Angeles Times, ninguém poderia imaginar outro ator no papel principal. Ainda que o longa tenha sido escrito por Nick Schenk, a mensagem subliminar de Clint é bastante clara: o caldeirão de culturas nos Estados Unidos — sobretudo os confrontos de gangues nos subúrbios — vai resultar em violência sempre crescente, que pode conduzir o país a uma nova guerra civil. Ressaltando que a disputa não seria, agora, entre americanos do norte e do sul, mas entre negros, orientais e latinos, sem considerar a ameaça terrorista (que já opôs fundamentalismos como o muçulmano e o cristão). O choque de civilizações, de Huntington, se confunde, portanto, com o conceito hobbesiano de "um mundo pré-leviatã", onde todos simplesmente lutariam contra todos. Estaríamos assistindo à falência do estado, que, na impossibilidade de estar em todos os lugares, deixa não só minorias, mas maiorias entregues à própria sorte? (Quem mora no Brasil, e já sofreu algum tipo de violência, conhece essa história.) Clint Eastwood parece sugerir que resta aos "cidadãos de bem" se engajar: àqueles últimos americanos, ou descendentes de europeus, que conheceram os EUA num período de relativa paz "doméstica" — mesmo com guerras, em fronts espalhados pelo mundo, e a ameaça do comunismo rondando durante quase um século... Em Gran Torino, a violência anunciada, porém, não se consuma, produzindo um anticlímax e a imolação do herói, que, reconhecendo-se impotente diante de uma sociedade corrompida, entrega-se ao sacrifício. Vale repetir que Gran Torino, no final das contas, não opta pelo confronto armado, mas anuncia que a barbárie ainda vai provocar muitas baixas, até que se restabeleça — por força da justiça — a civilização.
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Editor
 

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