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Quinta-feira, 2/9/2010
Centenário de Noel Rosa, por Francisco Bosco, na Rádio Batuta

Julio Daio Borges




Digestivo nº 470 >>> Entre todas as homenagens ao centenário de nascimento de Noel Rosa, uma das melhores até agora foi a de Francisco Bosco, na nova Rádio Batuta, do Instituto Moreira Salles. Francisco Bosco, filho de João Bosco, era também conhecido por sua coluna na Cult — mas seu conhecimento, do Poeta da Vila, permitiu forjar um documentário que consegue ser original, sobre um personagem repisado há quase um século, quando outros grandes da MPB se perderam em "homenagens", como Caetano Veloso. O Instituto Moreira Salles (IMS) ficou conhecido, entre outras coisas, por adquirir todo o acervo musical de José Ramos Tinhorão. Em que pesem suas acusações históricas à bossa nova e a Tom Jobim, Tinhorão sempre foi um dos maiores pesquisadores da música brasileira — e, se não fosse pelo IMS, seus tesouros acabariam dispersados (ou, irremediavelmente, perdidos). Já a Rádio Batuta é uma maneira, dentro do site do mesmo Instituto (no UOL), de disponibilizar acervos musicais, como esse, para interessados. Num momento em que as rádios comerciais ficaram sem o jabá — porque ficaram sem as gravadoras (que, por sua vez, ficaram sem o CD) —, as rádios, na internet, são as poucas que ainda conseguem correr riscos. E os podcasts, naturalmente, forçaram as velhas rádios a oferecer — além do streaming óbvio — a programação para ser ouvida "sob demanda". Assim, já funciona, exemplarmente, a rádio Cultura (AM e FM), aqui no Brasil; e, evidentemente, há mais tempo, as rádios "BBC", para o mundo todo. O mérito de Francisco Bosco foi o de reconstituir toda a trajetória de Noel, estruturando o roteiro, logicamente, em cima de seus sambas — mas costurando, como ninguém mais neste ano, depoimentos de gente como João Máximo e Carlos Didier (os melhores biógrafos do Filósofo do Samba), Sérgio Cabral (o biógrafo e jornalista, não o político), Carlos Rennó (letrista e jornalista) e até Caetano Veloso (primeiro o músico, depois o polemista), entre outros (e outras). Sabiás, pardocas e feitiçarias, o documentário, contextualiza, ainda, o Poeta da Vila, recontando a história do samba desde suas origens, traçando um panorama da sociedade no Rio da época e dando exemplos de por que Noel Rosa foi tão revolucionário (e arriscando por que continua tão clássico). Dividido em algumas partes, Sabiás, pardocas e feitiçarias abre com o reconhecimento do Noel Rosa poeta, como um Vinicius de Moraes avant la lettre, e, de certa forma, encerra com a explicação do Noel Rosa filósofo, ao conceber uma visão particular de mundo e ao legar uma inegável sabedoria às próximas gerações. Noel, mesmo irreverente e antiacadêmico, teria aprovado, pois sempre teve o apuro e brilho em alta conta — qualidades que não faltam ao documentário de Francisco Bosco.
>>> Sabiás, pardocas e feitiçarias
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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