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Quarta-feira, 13/6/2001
Máquinas complicadas para necessidades simples

Julio Daio Borges




Digestivo nº 36 >>> Preparando o terreno para a comemoração do centenário do poeta, em 2002, a editora Record relança toda a obra de Carlos Drummond de Andrade. Em acabamento de bom gosto, com cores pastel e foto do autor na capa, pode-se redescobrir um marco, na Literatura Brasileira, como Alguma Poesia - primeiro livro do mineiro de Itabira, aos 28 anos de idade. Um volume fino e moderno, que atravessa décadas. Drummond cunhou uma certa melancolia à la Fernando Pessoa, que não tinha equivalentes no Brasil. Um jeito doce, desajeitado, de rir de si mesmo, de reconhecer-se frágil e impotente ("Meu Deus, por que me abandonaste / se sabias que eu não era Deus / se sabias que eu era fraco."). Na forma, Drummond celebrizou o verso branco, sem rima, e - novidade - sem metáfora ("Stop. / A vida parou / ou foi o automóvel?"). Sua poesia é a do observador urbano, do crítico de costumes, do defensor de uma identidade nacional ("Para mim, de todas as burrices, a maior é suspirar pela Europa"). E, claro, o protagonista tímido de amores ardentes, vendo pernas de moças em toda a parte ("E o amor sempre nessa toada: / briga perdoa perdoa briga. / Não se deve xingar a vida, / a gente vive, depois esquece."). Desde que Drummond morreu, o tal anjo torto não deu mais as caras, e ninguém mais foi gauche na vida ("Eta vida besta, meu Deus.").
>>> "Alguma Poesia" - Carlos Drummond de Andrade - 156 págs. - Ed. Record
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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