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Quarta-feira, 5/9/2001
Together Forever

Julio Daio Borges




Digestivo nº 48 >>> Tillsammans é o título de um filme sueco que está em cartaz na cidade desde 27 de julho. A chance de vê-lo é a mesma que se tem de ficar preso no trânsito (num dia chuvoso), quando o rodízio municipal se reinicia às 17 horas retendo a vítima até às 20 em plena Rua Augusta (que algum dia rimou com "120 por hora"). Lukas Moodyson é uma espécie de diretor prodígio, informa Luiz Carlos Merten (o maior crítico de cinema da atualidade militando na imprensa diária). Precoce, publicou poemas aos 17 anos e, com menos de 32, já realizou três produções cinematográficas, incluindo Tillsammans (cuja tradução para o inglês ficou em "Together", e cuja tradução para o português ficou em "Bem-vindos"). Apesar da fedelhice, o filme é razoável e, pelo produto final, ninguém vai dizer que foi feito por um principiante. O tema é gasto: a contracultura dos anos 70. A primeira meia hora, portanto, cansa, pois ameaça levar a sério justamente essa bobagem consagrada de "querer andar na contramão" (ou de "ser do contra", como se diz). No fim, porém, Moodyson prova (através da história) que tudo não passa de mais um modismo, e que a alegria suprema está jogar futebol ouvindo ABBA (ironicamente a faixa escolhida é "S.O.S."). Ou seja: o "proletariado", por mais "intelectualizado" que tente se mostrar, gosta mesmo é de pão e circo. Afinal, o que uma pessoa que se contenta com a profissão de encanador (ou de soldador) pode ambicionar? Os anseios das gerações de 1960 e de 1970, que queriam mudar o mundo para melhor (já que "para pior" é fácil), só podiam terminar em piada. Em piada engraçada. É sintomático: em algum momento na fita, as crianças olham para os pais cabeludos, barbudos, e comentam: "os adultos são mesmo uns idiotas". (Moodyson estava, obviamente, entre esses sagazes menininhos e menininhas.) Se a intenção é rir da "revolução", do "feminismo" e da "exploração do homem pelo homem", Bem-vindos surge como programa ideal. (Em tempo: a ideologia deles, embora derrotada na prática, venceu a guerra. Por isso, o século XXI não escapa de ser também motivo de chacota.)
>>> O Estado de S. Paulo
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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