busca | avançada
75378 visitas/dia
1,7 milhão/mês
Quarta-feira, 5/9/2001
Reality Shows

Julio Daio Borges




Digestivo nº 48 >>> Depois do seqüestro de pai e filha, a imprensa tem se dividido entre aquela que comanda o show e aquela que se insurge em alarmismo (com propriedade, diga-se). O primeiro ato (a captura e o retorno da filha pródiga) mereceu uma cobertura bem ao estilo "triunfal": a heroína vence os bandidos - após converter-los - mostrando-lhes a face inconfundível de Deus (santa blasfêmia). O enredo se releva tão convincente que até o pai da vítima acredita que a família está "acima do bem e do mal", permitindo que o criminoso retorne ao local do crime (regra que, dessa vez, não tardou, nem falhou). O segundo ato (a reclusão e a soltura do pai pelo Estado) mereceu uma cobertura em tons de "tragédia": o septuagenário de um bilhão de dólares fica à mercê de um jovem celerado, condenado à morte e sem nenhum tostão. O "thriller" provoca tamanho frisson que, encerrada a negociação, inaugura-se novo ponto turístico na cidade de São Paulo (todos querem ver o cenário onde se instalou o suspense). Na contramão dessa gente que quer converter tudo em aventura e "seriado" (ou então em Globo Repórter), surge uma facção que, bem ao estilo do "abre o olho", proclama que o Brasil se transformou na mais nova Faixa de Gaza, em que se mata grosseiramente mais de um Vietnã (40 mil) por ano. Pai e filha, se sensatos forem, vão abandonar o faroeste (também a Semana do Presidente, o Geraldo, a Suplicy e o Suplicy - que, na primeira oportunidade humanitária, vai dormir no Carandiru com o Dutra Pinto). Tirando quem vive do espetáculo e quem aproveita para difamar o Governo Constituído (qual seja), será que alguém ainda se preocupa em olhar o Brasil em perspectiva (500 anos para frente e 500 anos para trás) antes que a guerra civil seja declarada e que prevaleça a indústria do crime? É uma pergunta sem resposta. Por enquanto, desvia-se da bala perdida e lamenta-se a violência praticada contra o vizinho. Mas, do jeito que a onda vai, um dia eles chegam. Ah, se chegam.
>>> Carta Capital
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

busca | avançada
75378 visitas/dia
1,7 milhão/mês